O que podem Arte e Matemática? Reflexões por meio de oficinas junto a um grupo de futuros professores de matemática da Universidade Licungo, Moçambique

Abstract

Esta tese teve como objetivo analisar como oficinas, criadas com a arte moçambicana, disparam processos formativos e problematizadores, nas dimensões ética, estética e política, em estudantes da Licenciatura em Ensino de Matemática, da Universidade Licungo, Extensão da Beira, em Moçambique. Daí questiona-se como um grupo de estudantes experimenta uma postura problematizadora sobre o ensino de matemática diante de pinturas da cultura local? Para tanto, foram criadas quatro oficinas com pinturas de artistas moçambicanos, e desenvolvidas com um grupo de estudantes licenciandos. As perspectivas da visualização e da visualidade compõem o arcabouço teórico e metodológico, possibilitando tecer análises para problematizar os modos e os discursos visuais produzidos durante as oficinas. Ainda, em termos metodológicos, e mais propriamente como uma postura, um ethos de se fazer pesquisa, assumiu-se um modo cartográfico, dando suporte ao longo do processo de produção e análise de dados oriundos das oficinas. A análise das oficinas mostrou que, para este grupo de estudantes, a arte serve como lugar para identificar conceitos matemáticos, ou como mecanismo de “salvação”, levando a disciplina da Matemática a um status mais acessível e para todos e, ainda, como ferramenta para contextualizar conceitos matemáticos ensinados na escola. Com isso, conclui-se que a tão naturalizada ideia de que a arte está a serviço do ensino para fins de aprendizagem e contextualização da matemática foi a que prevaleceu neste grupo de estudantes. No caso, as práticas de visualização, como uma atividade cognitiva, também foram as mais recorrentes, por permitir identificar na arte uma Matemática escolar. Entretanto, anseia-se que a arte com o ensino da matemática pode muito mais do que isso que se apresenta no grupo, operando como um disparador para posturas mais problematizadoras do ensino e da aprendizagem da matemática, e sob outros modos éticos, políticos e estéticos de operar com a arte e a matemática na sala de aula.

This thesis aimed to analyze how workshops, created with Mozambican art, trigger formative and problematizing processes in the ethical, aesthetic, and political dimensions of students in the Mathematics Education Bachelor's program at Licungo University, Beira Extension, in Mozambique. Hence, the question arises: how does a group of students experience a problematizing approach to mathematics education in the face of paintings from the local culture? To achieve this, four workshops were created with paintings by Mozambican artists and developed with a group of student teachers. The perspectives of visualization and visuality constitute the theoretical and methodological framework, enabling the weaving of analyses to problematize the modes and visual discourses produced during the workshops. Furthermore, in methodological terms, and more precisely as a stance, an ethos of research was adopted, assuming a cartographic approach that provided support throughout the process of production and analysis of data derived from the workshops. The analysis of the workshops showed that, for this group of students, art serves as a space to identify mathematical concepts or as a mechanism of "salvation," leading Mathematics as a discipline to a more accessible status for all and as a tool to contextualize mathematical concepts taught in schools. Consequently, it is concluded that the commonly accepted idea that art serves teaching for learning and contextualizing mathematics prevailed within this group of students. In this case, visualization practices, as a cognitive activity, were also the most recurrent, as they allow for the identification of mathematics within artistic expression. However, it is hoped that art in mathematics education can go beyond what is presented in this group, operating as a catalyst for more problematizing approaches to the teaching and learning of mathematics and through other ethical, political, and aesthetic modes of engaging with art and mathematics in the classroom.