Abstract:
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Ao longo da história, foi negado aos surdos o direito de se comunicarem e de serem educados em sua língua natural: a Língua de Sinais. Essa impossibilidade de serem educados em uma língua que lhes fosse acessível, ora os colocou às margens dos processos formais de educação, ora os submeteu a instituições, que visavam a apagar sua diferença, numa busca constante de transformar o surdo em alguém que ouve e fala, ou seja, em alguém de acordo com os padrões de normalidade vigentes. Entretanto, práticas de resistência ao poder normalizador foram constantes em todos os períodos e se constituíram como condição de possibilidade para a emergência de outros discursos sobre a surdez, desvinculados da visão patológica. Olhando para esse panorama histórico geral da educação de surdos, a problemática de pesquisa partiu da seguinte questão: como ocorreu o processo educacional dos surdos em Caxias do Sul de 1960 a 2010? Essa questão mais abrangente me levou a muitas outras, tais como: que pressupostos e objetivos estiveram subjacentes às práticas educacionais voltadas aos surdos no referido período? De que forma os surdos percebem os processos educacionais do qual fizeram parte? Que estratégias desenvolveram para se posicionarem diante do poder instituído transformando a resistência em condição de possibilidade para a emergência de outros discursos no campo educacional? Que outras instituições ou espaços contribuíram para o processo formativo dos surdos? Nesse sentido, o objetivo do estudo é investigar o processo histórico da educação de surdos no Município de Caxias do Sul, entre os anos de 1960 e 2010. Utilizei como método a História Oral, realizando entrevistas com surdos que estudaram e trabalharam na Escola Helen Keller no referido período. As entrevistas foram filmadas e traduzidas da Língua de Sinais para a Língua Portuguesa. Posteriormente, analisei-as tendo como referencial teórico os estudos de Michel Foucault sobre a história, a invenção da normalidade, os dispositivos disciplinares e de segurança. Além das narrativas de surdos, utilizei como fonte decretos de criação da escola, correspondências, livros de atas, projetos pedagógicos e fotografias. Como resultados da pesquisa, destaco que, em Caxias do Sul, seguiu-se a mesma tendência do restante do País: começou-se em 1960 com o atendimento clínico, voltado à oralização do surdo e, gradualmente, foi-se passando ao atendimento propriamente pedagógico. |