Modificações Renais no Envelhecimento: Da Fisiologia à Prática Clínica em Nefrogeriatria

Abstract

O envelhecimento renal é um processo multifacetado, caracterizado por alterações anatômicas, funcionais e moleculares que comprometem progressivamente a homeostase e a capacidade adaptativa dos rins em indivíduos idosos. Modificações estruturais, como glomeruloesclerose, fibrose intersticial, atrofia tubular e arteriosclerose hialina, resultam na perda de néfrons e na redução da taxa de filtração glomerular (TFG) e do fluxo plasmático renal (FPR). Além disso, há deterioração das funções tubular e endócrina, o que aumenta a suscetibilidade a distúrbios hidroeletrolíticos, acidose metabólica, eventos adversos como injúria renal aguda e anemia. No nível molecular, destacam-se mecanismos como a senescência celular, o encurtamento dos telômeros, o estresse oxidativo, a disfunção mitocondrial e a queda da expressão da proteína Klotho — alterações que interagem de forma sinérgica, acelerando o declínio funcional renal. Evidências apontam que estratégias como a restrição calórica e a ativação da SIRT1 exercem efeitos protetores, atenuando processos inflamatórios e fibrogênicos nos rins senescentes. Este trabalho de revisão incluiu 82 estudos relevantes publicados entre 1996 e 2024, abrangendo pesquisas experimentais, dados histopatológicos e evidências clínicas. Os principais resultados indicam que, embora o declínio da função renal seja frequente no envelhecimento, há ampla variabilidade individual, sendo possível diferenciar o envelhecimento fisiológico dos processos patológicos. Biomarcadores como Klotho e telômeros, bem como métodos de avaliação mais sensíveis, como a dosagem de cistatina C e equações específicas para estimativa da TFG em idosos, podem auxiliar no diagnóstico precoce da disfunção renal. Conclui-se que o envelhecimento renal, apesar de inevitável, pode ser monitorado e parcialmente mitigado por meio de intervenções clínicas e preventivas adequadas. A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos e a adoção de condutas individualizadas são fundamentais para preservar a função renal e a qualidade de vida da população geriátrica.

Renal aging is a multifactorial process characterized by anatomical, functional, and molecular changes that progressively impair the kidneys' homeostatic and adaptive capacities in older individuals. Structural modifications, such as glomerulosclerosis, interstitial fibrosis, tubular atrophy, and hyaline arteriosclerosis, lead to nephron loss and a decline in both glomerular filtration rate (GFR) and renal plasma flow (RPF). Additionally, tubular and endocrine functions deteriorate, increasing susceptibility to hydroelectrolytic imbalances, metabolic acidosis, adverse events such as acute kidney injury, and anemia. At the molecular level, key mechanisms include cellular senescence, telomere shortening, oxidative stress, mitochondrial dysfunction, and reduced expression of the Klotho protein — alterations that interact synergistically, accelerating renal functional decline. Evidence suggests that strategies such as caloric restriction and SIRT1 activation exert protective effects by mitigating inflammatory and fibrotic processes in the aging kidney. This literature review included 82 relevant studies published between 1996 and 2024, covering experimental research, histopathological data, and clinical evidence. The main findings indicate that although renal functional decline is common with aging, there is significant individual variability, making it possible to differentiate physiological aging from pathological processes. Biomarkers such as Klotho and telomere length, as well as more sensitive assessment methods like cystatin C measurement and equations specifically designed to estimate GFR in older adults, can assist in the early detection of renal dysfunction. In conclusion, although renal aging is inevitable, it can be monitored and partially mitigated through appropriate clinical and preventive interventions. Understanding the underlying pathophysiological mechanisms and adopting individualized management strategies are essential to preserve kidney function and improve the quality of life of the elderly population.