Propostas para construção de epistemologias sociológicas endógenas: contra/decolonização do referencial teórico do ensino de sociologia e do subsistema do ensino superior em Angola

Abstract

Para alguns, as abordagens usadas nesta dissertação podem soar bastante radicais, controversas e frontais aos sistemas tanto nacional quanto internacional. Porém não poderíamos proceder de outra forma quando ações contra-hegemônicas nos sistemas de educação se fazem cada vez mais necessárias em Angola. Compreender o possível impacto do ensino de Sociologia afro-endógeno é bastante pertinente e faz-se urgente para uma sociedade ainda estranha de si mesma como a angolana. O referencial bibliográfico ocidentalizado usado no ensino de Sociologia serve para os angolanos tanto quanto um programa de lavagem cerebral em grande escala, resultando numa espécie de sono induzido coletivo com vista à zumbificação das massas. Os resultados disso se refletem hoje nas configurações do atual pensamento social angolano que jaz capturado pelo hegemon com ajuda de alguns pérfidos etnossuicidas internos. A coleta de dados desta pesquisa foi feita com base na abordagem qualitativa, combinando os métodos de revisão/pesquisa bibliográfica do material e o método de análise documental, com análise de conteúdos extraídos de recursos como documentos de órgãos oficiais, livros e artigos pertinentes. A presente dissertação é produto de uma pesquisa sociológica com ênfase em Sociologia da Educação, porém, contém elementos que perpassam fronteiras da área citada, resultando na combinação de elementos de carácter sociológico, pedagógico, político, geopolítico, histórico e antropológico, realçando e fazendo jus ao diálogo interdisciplinar. Os resultados da pesquisa desenvolvida atestaram que o referencial teórico/bibliográfico do ensino de Sociologia em Angola, bem como o subsistema do ensino superior são de fato colonizados, o uso de textos de determinados autores angolanos não exime a área de tal condição de subalternização, visto que os referidos autores usam quase que exclusivamente a citação de autores ocidentais em suas obras. Por outro lado, o ensino superior é refém dos órgãos de financiamento ocidentais. A subalternização se dá com a colaboração e cumplicidade das autoridades político-acadêmicas e é auxiliada por uma proposital apatia da elite do país em sua generalidade. A situação aviltante e alienante do referencial do ensino de Sociologia no país facilita a atuação exploratória das instituições ocidentais e garante a inquestionabilidade às autoridades nacionais, situação que tão somente uma revisão democrática-participativa, revolucionária, africanista e decolonial do currículo de Sociologia, da restruturação do subsistema do ensino superior, bem como da educação como um todo poderia transfigurar.

Abstract: For some, the approaches used in this dissertation may sound quite radical, controversial and frontal to both national and international systems. However, we could not proceed otherwise when counter-hegemonic actions in education systems are increasingly necessary in Angola. Understanding the possible impact of teaching Afro-endogenous Sociology is quite pertinent and urgent for a society that is still foreign to itself, such as the Angolan one. The westernized bibliographical reference used in the teaching of Sociology serves Angolans as much as a large-scale brainwashing program, resulting in a kind of collective induced sleep with a view to the zombification of the masses, the results of which are reflected today in the configurations of current Angolan social thought lies captured by the hegemon with the help of some perfidious internal ethno-suicides. Data collection for this research was based on a qualitative approach, combining the methods of bibliographical review/research of the aforementioned material and the method of document analysis, with analysis of content extracted from resources such as documents from official bodies, books and articles relevant. This dissertation is the product of sociological research with an emphasis on Sociology of Education, however, it contains elements that cross the borders of the aforementioned area, resulting in the combination of elements of a sociological, pedagogical, political, geopolitical, historical and anthropological nature, highlighting and doing justice to interdisciplinary dialogue. The results of the research carried out attested that the theoretical/bibliographical framework of Sociology teaching in Angola, as well as the higher education subsystem, are in fact colonized. The use of texts by certain Angolan authors does not exempt the area from such a condition of subalternization, as that the aforementioned authors almost exclusively use quotations from Western authors in their works, on the other hand, higher education is hostage to Western funding bodies. Subalternization occurs with the collaboration and complicity of political-academic authorities, and is aided by a deliberate apathy of the country's elite in general. The demeaning and alienating situation of the Sociology teaching framework in the country facilitates the exploratory actions of Western institutions and guarantees unquestionability to national authorities, a situation that only a democratic-participatory, revolutionary, Africanist and decolonial review of the Sociology curriculum, the restructuring of the higher education subsystem, as well as education as a whole could transfigure.