O trabalho de docência na infância e as contribuições de Vigotski para as relações de ensino na escola

Abstract

O trabalho de docência na infância se constitui em objeto de estudo desta pesquisa. Busca- se investigar, a partir das contribuições teóricas e metodológicas da Psicologia Histórico- Cultural de Vigotski, o trabalho de docência da professora dos anos iniciais do ensino fundamental. As concepções de criança, infância, aprendizagem, desenvolvimento humano e escola se refletem praxiologicamente nas relações de ensino empreendidas pelas professoras, no cotidiano do trabalho de docência? A imbricada relação entre teoria, prática e método é problematizada nas complexas relações que se engendram na escola básica? Estas problematizações possibilitaram o delineamento teórico e metodológico deste estudo, que se pauta, sobretudo, na psicologia histórico-cultural de Vigotski. O autor compreende o trabalho da professora como central no processo de aprendizagem e de desenvolvimento humano da criança em idade escolar (VIGOTSKI, 1996; 2009; 2010; 2012; 2013; 2017; 2018; 2020a; 2021). O estudo da obra de Vigotski (1896-1934) e o diálogo com Pino (2000); Schlindwein (2020); Smolka (2000a; 2021); Smolka et al., (2021); Anjos; Nacarato & Freitas (2018); Anjos & Dainez (2018) possibilitou um mapeamento conceitual para o trabalho de docência da infância. Considera-se que tal abordagem conceitual e metodológica possa inspirar, dar boas pistas para a professora da infância, em sua tarefa cotidiana de organização do trabalho de docência, desdobrando- se em relações de ensino comprometidas com o desenvolvimento integral dos estudantes. Problematiza-se, nesta pesquisa, o espaço da sala de aula, na escola, com o foco na análise das relações de ensino. Parte-se da premissa de que os aportes teóricos e metodológicos de Vigotski indicam elementos fundamentais para a professora reconhecer-se como autora em seu método de trabalho. É a partir dessas considerações que elaboramos a tese de que os estudos de Vigotski (1896-1934) indicam conceitos e ideias que se configuram como uma unidade prática, teórica e metodológica do trabalho de docência na infância. Prática, teoria e método configuram-se como um tríptico orgânico das relações de ensino na escola, que não podem ser estudadas, nem pelo professor, nem pelo pesquisador, como elementos distintos, mas problematizadas na unidade do funcionamento das relações de ensino, na escola. A pesquisa apresenta professoras comprometidas com a educação e que a organização coletiva da escola colabora para que este compromisso se desdobre em relações de ensino para a promoção das crianças. Percebe-se, na escola investigada, um trabalho que se permite ao diálogo e à crítica; à formação educacional transformadora. É possível inferir que o estudo teórico de Vigotski (2009a) mobilizou as professoras a repensarem o trabalho de docência. As análises praxiológicas empreendidas na pesquisa indicam práticas conscientizadoras, mobilizadoras de novas aprendizagens. Não se trata de uma idealização da docência ou da escola. Justamente o contrário: professora e escola que buscam as contraditórias conexões de vida das crianças com os objetivos escolares. Busca-se indicar saídas possíveis, viáveis, sempre coletivas, mesmo diante dos desafios da educação brasileira, amplificados na pandemia do novo coronavírus. A organização do trabalho de docência pautado no materialismo histórico, valoriza e reconhece as relações sociais, a cultura das crianças e da professora, como mobilizadoras das relações de ensino, na escola. Tais achados da pesquisa exigem repensar o método e a tomada de consciência, destacam a importância da formação de conceitos científicos no diálogo entre os pressupostos teóricos vigotskianos e a formação contínua das professoras também é relevante. O trabalho de docência na infância requer a organização de relações de ensino que prezem pela autonomia das crianças e responsabilidade com a sociedade. Nessa perspectiva, percebe-se que as relações traçadas entre professoras e crianças permitem que a escola seja compreendida e vivenciada como um espaço de democracia organizada de modo coletivo. Atuar na educação básica, nos anos iniciais do ensino fundamental se traduz em exercício de encorajamento e luta por melhores condições de ensino e aprendizagem na escola pública brasileira. Compartilha-se uma prática possível, embasada nos princípios da perspectiva histórico-cultural, mesmo diante de todas as contradições de um sistema de organização econômico e, com isso, educacional, que reforça as desigualdades. Além disso, sob diferentes aspectos, não valoriza a educação como caminho para uma transformação social. É preciso reconhecer que essa prática se torna possível justamente por conta de que esse referencial teórico-metodológico contrapõe a ideia de métodos prontos de ensinar ou aprender; fórmulas genéricas para interpretação do mundo e determinações sobre como ser ou fazer nos contextos sociais. A perspectiva histórico-cultural oferece, portanto, contribuições de cunho teórico e metodológico para a organização do trabalho de docência e das relações de ensino na infância, na escola pública.

Abstract: The object of study of this research is the teaching work in childhood whose investigation, from the theoretical and methodological contributions of Vygotsky's Cultural-Historical Psychology, is the teaching work of the teacher in the early years of elementary education. The conceptions of child, childhood, learning, human development and school are reflected praxeologically in teaching relationships undertaken by teachers in the daily work of teaching? The imbricated relationship between theory, practice and method is problematized in the complex relationships that are engendered in basic school? These problematizations enabled the theoretical and methodological outline of this study, which is based, above all, on Vygotsky's cultural-historical psychology. The author understands the teacher's work as central to the learning process and human development of the child at school age (VIGOTSKI, 1996; 2009; 2010; 2012; 2013; 2017; 2018; 2020a; 2021). The study of his work (1896-1934) and the dialogue with Pino (2000); Schlindwein (2020); Smolka (2000a; 2021); Smolka et al., (2021); Anjos; Nacarato & Freitas (2018); Anjos & Dainez (2018) enabled a conceptual mapping for the work of childhood teaching. It is considered that such conceptual and methodological approaches can inspire, give good clues to the teachers in their daily task of organizing work, unfolding in teaching relationships committed to the comprehensive development of students. This research problematizes the space of the classroom at school, focusing on the analysis of teaching relationships. It is based on the premise that the theoretical and methodological contributions of Vygotsky indicate key elements for the teacher to recognize themselves as an author in their working method. It is from these considerations that we develop the thesis whose the studies of Vygotsky (1896-1934) indicate concepts and ideas that are configured as a practical, theoretical and methodological unit of the teaching work in childhood. Practice, theory and method are configured as an organic triptych of the relations of teaching at school, which must not be studied, either by the teacher or by the researcher, as distinct elements, however problematized in the unity of the functioning of the relations of teaching at school. The research shows teachers committed to the education which the collective organization of the school collaborates to this commitment unfolds in teaching relationships for the children?s promotion. Notably observed, in the investigated school, a work that allows dialogue and criticism to transformative educational training. It is possible to infer that the theoretical study of Vygotsky (2009a) mobilized the teachers to rethink about the teaching work. The praxeological analyses undertaken in the research indicate conscientizing and mobilizing practices, and new learning as well. This is not just an idealization of teaching or school, but the opposite: teacher and school seeking the contradictory connections of children's lives with the school objectives. The aim is to indicate possible and feasible solutions, always collective, even though facing the challenges of Brazilian education, amplified throughout the new coronavirus? pandemic. The organization of the teaching work based on historical materialism, values and recognizes the social relations, the culture of the children and teacher, as mobilizers of the teaching relations at school. Such research findings require rethinking the method and the awareness. Besides, the importance of the formation of scientific concepts in the dialogue between the theoretical assumptions of Vygotsky and the continuing education of teachers is relevant too. The teaching work in childhood requires the organization of teaching relationships that value the autonomy of children and responsibility to society. From this perspective, it can be noted that the relationships established between teachers and children allow the school to be understood and experienced as a democratic space organized in a collective way. Acting in basic education, in the initial years of primary schools evidenced into an exercise of encouragement and struggle for better conditions of teaching and learning in the Brazilian public school. A possible practice is shared, based on the principles of the cultural- historical perspective, despite all the contradictions from a system of economic and educational organization which reinforces inequalities. Moreover, under different aspects, does not value education as a path towards social transformation. It is necessary to recognize that this practice becomes possible precisely because this theoretical- methodological reference opposes the idea of ready-made methods of teaching or learning; generic formulas for the interpretation of the world and determinations about how to be or do in social contexts. The cultural-historical perspective offers, therefore, theoretical and methodological contributions for the organization of the teaching work and teaching relations in childhood in the public school.