Trabalho sexual é trabalho: articulações discursivas no cenário brasileiro do século XXI sob a ótica da análise crítica do discurso

DSpace Repository

A- A A+

Trabalho sexual é trabalho: articulações discursivas no cenário brasileiro do século XXI sob a ótica da análise crítica do discurso

Show full item record

Title: Trabalho sexual é trabalho: articulações discursivas no cenário brasileiro do século XXI sob a ótica da análise crítica do discurso
Author: Ferreira, Tayná
Abstract: O trabalho é condição vital, inerente para a garantia de sobrevivência dos indivíduos, e é o meio pelo qual as sociedades são formadas e organizadas. A categoria trabalho está no centro da teoria marxiana e marxistas, que buscam explicar como a apropriação do trabalho, no desenvolvimento do corpo social, reflete na luta de classes e na exploração do proletariado. Todavia, o advento do capitalismo traz consigo um conjunto de papéis a serem desempenhados, baseando-se em valorações entendidas como naturais, como a divisão de espaço entre mulheres e homens. Elas são relegadas ao lar, maternidade e tarefas domésticas; eles ao trabalho, ao espaço público. Tanto Marx quanto marxistas falharam em compreender que a manutenção do capitalismo se sustenta tanto sobre o trabalho reprodutivo das mulheres quanto por aquele realizado fora dos lares. Lavar, cozinhar e estar disponível sexualmente não entram na conta do capital, embora seja um dos seus pilares estruturantes. Os movimentos feministas do século XX se incumbiram em revelar o que tem permanecido oculto: o controle da sexualidade e a opressão de gênero são fundamentais para influenciar o que as mulheres podem e não podem fazer. Essa é uma das razões pelas quais assumir e afirmar o trabalho sexual como trabalho constitui temática de difícil debate, mesmo entre feministas. Daí a relevância em se apropriar da linguagem, bem como entendê-la como manifestação da materialidade. Termos como puta, prostituta e trabalhadora sexual carregam significados distintos, a depender do contexto. Atualmente, com o capitalismo em sua fase neoliberal, modificou-se em relação ao que era nos tempos de Marx. No Brasil, o neoliberalismo unido ao neoconservadorismo favorece a retomada do discurso neoconservador, cujo mote é família, deus e propriedade privada. Sob práticas contraditórias, tanto em nível discursivo quanto social, gênero e sexualidade, indissociáveis do trabalho sexual, tornam-se alvos de controle. Para o trabalho sexual, há também um conjunto de práticas discursivas, que ganham relevância principalmente a partir da PL Gabriela Leite. Em meio à ascensão neoconservadora, questiona-se a articulação dos discursos contrários ao trabalho sexual. Como método para a busca dessa resposta, toma-se a análise crítica do discurso, sendo elencados três objetivos: definir a categoria trabalho, sua renovação pelos estudos feministas e sua apropriação no debate do trabalho sexual; contextualizar o pano de fundo da configuração neoliberal e neoconservadora e seus reiterados ataques ao gênero e sexualidade; averiguar como os discursos contrários ao trabalho sexual se articulam no Brasil do século XXI em termos de linguagem neoconservadora. Parte-se do método dedutivo para a construção do trabalho, com fontes primárias e secundárias. Ao final, pode-se constatar que existem elementos de caráter neoconservador nos discursos contrários ao trabalho sexual, marcados por características tanto ideológicas quanto hegemônicas, e envolvem um ethos específico. O uso de recursos como pressuposições e ironias e discursos nos quais diferentes estilos se misturam, dificultam sua interpretação; isso não impediu, porém, a produção de resistências e aberturas às transformações das práticas sociais: as trabalhadoras sexuais falam, queiram os neoconservadores ou não.Resumen: El trabajo es una condición vital, inherente a garantizar la supervivencia de los individuos, y es el medio por el cual se forman y organizan las sociedades. La categoría trabajo está en el centro de la teoría marxiana y marxista, que buscan explicar cómo la apropiación del trabajo, en el desarrollo del cuerpo social, se refleja en la lucha de clases y la explotación del proletariado. Sin embargo, el advenimiento del capitalismo trae consigo un conjunto de roles a desempeñar, basados en valoraciones entendidas como naturales, como la división del espacio entre mujeres y hombres. Están relegadas al hogar, la maternidad y las tareas domésticas; al trabajo, al espacio público. Tanto Marx como los marxistas no entendieron que el mantenimiento del capitalismo descansa tanto en el trabajo reproductivo de la mujer como en el realizado fuera del hogar. Lavar, cocinar y estar disponible sexualmente no forman parte de la cuenta de capital, aunque es uno de sus pilares estructurantes. Los movimientos feministas del siglo XX se han encargado de revelar lo que ha permanecido oculto: el control de la sexualidad y la opresión de género son fundamentales para influir en lo que las mujeres pueden y no pueden hacer. Esta es una de las razones por las que asumir y afirmar el trabajo sexual como trabajo es un tema de difícil debate, incluso entre las feministas. De ahí la relevancia de apropiarse del lenguaje, así como de entenderlo como manifestación de la materialidad. Términos como puta, prostituta y trabajadora sexual tienen diferentes significados, según el contexto. Actualmente, con el capitalismo en su fase neoliberal, ha cambiado de lo que era en tiempos de Marx. En Brasil, el neoliberalismo combinado con el neoconservadurismo favorece la reanudación del discurso neoconservador, cuyo lema es familia, dios y propiedad privada. Bajo prácticas contradictorias, tanto a nivel discursivo como social, el género y la sexualidad, inseparables del trabajo sexual, se convierten en objetivos de control. Para el trabajo sexual, también hay un conjunto de prácticas discursivas, que cobran relevancia principalmente a partir de la PL Gabriela Leite. En medio del ascenso neoconservador, se cuestiona la articulación de discursos contra el trabajo sexual. Como método para la búsqueda de esta respuesta se toma el análisis crítico del discurso, enumerándose tres objetivos: definir la categoría trabajo, su renovación por los estudios feministas y su apropiación en el debate del trabajo sexual; contextualizar el trasfondo de la configuración neoliberal y neoconservadora y sus repetidos ataques al género y la sexualidad; investigar cómo se articulan los discursos contra el trabajo sexual en el Brasil del siglo XXI en términos de lenguaje neoconservador. Se parte del método deductivo para la construcción de la obra, con fuentes primarias y secundarias. Al final, se puede ver que hay elementos de carácter neoconservador en los discursos contra el trabajo sexual, marcados tanto por características ideológicas como hegemónicas, y que involucran un ethos específico. El uso de recursos como presupuestos e ironías y discursos en los que se mezclan diferentes estilos dificultan su interpretación; esto no impidió, sin embargo, que se produjeran resistencias y aperturas a las transformaciones de las prácticas sociales: las trabajadoras sexuales hablan, lo quieran o no los neoconservadores.
Description: Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas, Programa de Pós-Graduação em Direito, Florianópolis, 2022.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/247301
Date: 2022


Files in this item

Files Size Format View
PDPC1619-D.pdf 1.783Mb PDF View/Open

This item appears in the following Collection(s)

Show full item record

Search DSpace


Browse

My Account

Statistics

Compartilhar