Title: | O fenômeno religioso e seu potencial normativo: uma proposta de leitura da "Ética protestante e o espírito do capitalismo", de Max Weber |
Author: | Assis, Biatriz Bittencourt de |
Abstract: |
O escopo do presente trabalho é analisar em que medidas as teses de Max Weber, contidas na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, permitem enxergar o potencial normativo do fenômeno religioso e sua força regulatória das estruturas sociais. Empreende-se uma abordagem inicial e introdutória à compreensão das bases do fenômeno religioso, identificando seus aspectos essenciais e centrais sob as lentes sociológicas e antropológicas. Nesse sentido, expõe e analisa as premissas antropológicas dos trabalhos etnográficos dos autores do final do século XIX, iniciando pelos trabalhos de sociólogos e antropólogos sociais, clássicos e contemporâneos, nominalmente Peter L. Berger, e Thomas Luckmann, seguida pela teoria sociológica clássica sobre religião, representada eminentemente por Émile Durkheim. Após, ocupa-se da obra de Weber, perpassando pela sua sociologia compreensiva aos seus estudos acerca da ética protestante. Assim, estabelece-se, segundo Luckmann, a premissa de que todo o esforço de transcendência do homem para além de seus limites biológicos, é um esforço religioso porque é um esforço de atribuição de significado. Uma visão de mundo significativamente histórica para o indivíduo é um fenômeno religioso, o que coloca religião como uma experiência antropológica plena, a abarcar todas as demais experiências sociais. Berger, por sua vez, aponta que a religião é um esforço de exteriorização do que está dentro do próprio sujeito, ou seja, seria o resultado objetivado de um esforço subjetivo de exteriorização. A atitude religiosa do indivíduo no mundo é de atribuição de significados que exteriorizam aquilo que lhe é inerente. Essa reflexão possibilita a compreensão da religião como um discurso de transcendência. Ainda, constata-se que Durkheim, com relação às formas elementares da vida religiosa, apresenta uma sociologia do fenômeno religioso, de como ele surge e estabelece padrões de relações sociais. Durkheim sustenta que as religiões em si, bem como a compreensão do fenômeno religioso, levam à compreensão das condições de existência humana. Diante dessas premissas, apresenta-se sociologia compreensiva weberiana para a análise da religião como fenômeno social, e sua construção metodológica central, com as noções de compreensão, tipo ideal e individualismo metodológico. Por fim, conclui-se que a sociologia da religião weberiana, sobretudo a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, demonstra o potencial do fenômeno religioso como força social sobre as estruturas sociais. Isso porque Weber parte do pressuposto de que o fenômeno religioso é sociologicamente relevante na medida em que produz consequências sociais. A sociologia da religião weberiana, nesse sentido, tem como tema a ação social empírica e, portanto, observável, que, no entanto, remete a uma dimensão transcendente. Nesse sentido, para Luckmann, todo o esforço de transcendência do homem para além de seus limites biológicos, é um esforço religioso. O próprio ímpeto para a realização deste mundo, por parte do protestantismo ascético, revela um esforço regulatório que decorre da natureza do fenômeno religioso, expressão, pois do fenômeno jurídico. Portanto, o pensamento de Weber inserido nos seus escritos acerca da ética protestante, permite pensar a possibilidade de compreensão do fenômeno jurídico como um fenômeno ontologicamente religioso. Abstract: The scope of the present work is to analyze the extent to which Max Weber's theses, contained in the work The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, allow us to see the normative potential of the religious phenomenon and its regulatory force in social structures. An initial and introductory approach to understanding the bases of the religious phenomenon is undertaken, identifying its essential and central aspects under the sociological and anthropological lenses. In this sense, it exposes and analyzes the anthropological premises of the ethnographic works of the authors of the late 19th century, starting with the works of classic and contemporary sociologists and social anthropologists, namely Peter L. Berger, and Thomas Luckmann, followed by the classic sociological theory of religion, represented eminently by Émile Durkheim. Afterwards, it deals with the work of Weber, passing through his comprehensive sociology to his studies on the Protestant ethic. Thus, according to Luckmann, the premise is established that every effort of man's transcendence beyond his biological limits is a religious effort because it is an effort to attribute meaning. A significantly historical worldview for the individual is a religious phenomenon, which places religion as a full anthropological experience, encompassing all other social experiences. Berger, in turn, points out that religion is an effort to externalize what is inside the subject himself, that is, it would be the objectified result of a subjective effort to externalize. The individual's religious attitude in the world is one of attributing meanings that externalize what is inherent to him. This reflection makes it possible to understand religion as a discourse of transcendence. Still, it appears that Durkheim, in relation to the elementary forms of religious life, presents a sociology of the religious phenomenon, of how it arises and establishes patterns of social relations. Durkheim maintains that religions themselves, as well as an understanding of the religious phenomenon, lead to an understanding of the conditions of human existence. In view of these premises, a comprehensive Weberian sociology is presented for the analysis of religion as a social phenomenon, and its central methodological construction, with the notions of understanding, ideal type and methodological individualism. Finally, it is concluded that the sociology of Weberian religion, especially the work The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, demonstrates the potential of the religious phenomenon as a social force on social structures. This is because Weber assumes that the religious phenomenon is sociologically relevant insofar as it produces social consequences. The sociology of Weberian religion, in this sense, has as its theme the empirical and, therefore, observable social action, which, however, refers to a transcendent dimension. In this sense, for Luckmann, every effort of man's transcendence beyond his biological limits is a religious effort. The impetus for the realization of this world, on the part of ascetic Protestantism, reveals a regulatory effort that stems from the nature of the religious phenomenon, expression, therefore, of the legal phenomenon. Therefore, Weber's thought, inserted in his writings about the Protestant ethic, allows us to think about the possibility of understanding the legal phenomenon as an ontologically religious phenomenon. |
Description: | Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas, Programa de Pós-Graduação em Direito, Florianópolis, 2022. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/243717 |
Date: | 2022 |
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PDPC1633-D.pdf | 1.087Mb |
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