Educação das relações étnico-raciais nos currículos dos cursos de licenciatura em educação física de Santa Catarina

Abstract

Esta pesquisa discute e problematiza o currículo dos cursos de Educação Física - licenciatura e suas implicações na formação dos professores para a educação das relações étnico-raciais. Portanto, tem como objetivo analisar a produção de sentidos que os currículos de alguns cursos de Licenciatura em Educação Física das diferentes regiões de Santa Catarina propõem quanto à perspectiva antirracista na formação de professores/as. Para tanto, analisamos os Projetos Pedagógicos dos cursos de Educação Física ? Licenciatura da UFSC, UNIVILLE e UNOCHAPECÓ quanto à estruturação curricular, concepções, e como os conteúdos a cerca das relações étnico-raciais são implementados na formação. Com o intuito de aprofundar as argumentações teóricas frente à análise documental, entrevistamos os/as coordenadores/as de curso, membros/as do NDE e docentes por meio de entrevista semi-estruturada, sobre a sua participação na estruturação dos PPC (Projeto Pedagógico do Curso) e implementação da educação das relações étnico-raciais. A perspectiva metodológica teve enfoque qualitativo, com reflexões teóricas a partir de aproximações com a perspectiva Pós-crítica de currículo tendo como corte pós-estrutural para compreender os processos de subjetivação e constituição dos discursos/saberes do currículo e seus tensionamentos quanto à perspectiva de uma formação antirracista. Sendo assim, a pesquisa assumiu a tese: os currículos de licenciatura em Educação Física trazem sentidos anteriormente invisibilizados quando os conhecimentos da ERER passam a fazer parte da formulação didático-pedagógica e curricular. Percebemos que tanto o debate forte das ciências humanas para o currículo de formação de professores de Educação Física, as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, a resolução CNE/CP 01/2004 e as DCNs para educação das relações étnico-raciais trouxeram impactos significativos para os currículos, pois desestruturaram um currículo embasado nos moldes tradicionais propostos anteriormente pela ciência positivista, trazendo a diferença como elemento importante da humanidade, rompendo com a ideia de que existe uma única história contada a partir de uma única ?verdade? ou visão de mundo. Por outro lado, para o enfrentamento do racismo, que é estrutural, defendemos discussões mais aprofundadas sobre a estrutura que o mantém, os privilégios da branquitude a partir de teorias pós-críticas (pós-estruturalistas, pós-colonialistas) que questionam a estrutura dominante para além da categoria classe e tragam debates sobre as relações de poder e saber que permeiam as relações das diferenças e os discursos de dominação que assujeitam. Isto posto, os currículos de licenciatura em Educação Física podem tomar outros sentidos quando os conhecimentos da ERER passam a fazer parte da formulação didático-pedagógica e curricular: questões étnico-raciais, diferenças e diversidade postas em discussão, maior inclusão nas práticas pedagógicas, a corporeidade como possibilidade de outras racionalidades mais sensíveis e coletivas, deslocamentos epistemológicos e ontológicos na produção do conhecimento das culturas corporais de Educação Física.

Abstract: This research discuss and problematizes the curriculum of Physical Education courses and its implications for teacher education for the ethnic-racial relations education. Therefore, aimed to analyze the production of senses that the curriculum some Physical Education courses in different regions of Santa Catarina propose as for anti-racist perspective in the training of teachers. For so much, we analyzed the Pedagogical Projects of the Physical Education courses at UFSC, UNIVILLE and UNOCHAPECÓ as for the curricular structure, conceptions, and how to content about ethnic-racial relations are implemented in training. In order that to deepen the theoretical arguments against document analysis, the study we interview course coordinators, NDE members and teachers through semi-structured interviews, about their participation in the structuring of PPC (Course Pedagogical Project) and implementation of education on ethnic-racial relations. The methodological perspective had a qualitative focus, with theoretical reflections from approaches with the Post-Critical perspective of curriculum, having as a post-structural cut to understand the processes of subjectivation and constitution of curriculum discourses/knowledge and its tensions regarding the perspective of a ethic and anti-racist training. Thus, the research assumed the thesis that the curriculum in Physical Education bring that were previously invisible when the knowledge of ERER become part of the didactic-pedagogical and curricular formulation. We realize that both the strong debate of the human sciences for the curriculum for the formation of Physical Education teachers, the laws 10.639/2003 and 11.645/2008, the CNE/CP resolution 01/2004 and DCNs for education on ethnic-racial relations brought significant impacts to curricula, as they destructured a curriculum based on the traditional molds previously proposed by positivist science, bringing difference as an important element of humanity, breaking with the idea that there is a single story told from a single ?truth? or world vision. On the other hand, to confront racism, which is structural, we defend deeper discussions about the structure that maintains it, the privileges of whiteness, and post-critical theories (post-structuralist, post-colonial) that question the dominant structure beyond the class category and that bring debates about the relations and power that permeate the relations of differences and the speeches of domination that they subject. That said, the degree curricula in Physical Education can take on other senses when the knowledge of the ERER becomes part of the didactic-pedagogical and curricular formulation: ethnic-racial issues, differences and diversity discussed, greater inclusion in pedagogical practices, corporeality as a possibility of other more sensitive and collective rationalities, epistemological and ontological shifts in the production of knowledge of physical education bodily cultures.