Políticas públicas para grupos de pesquisa: redes interinstitucionais e internacionalização da pesquisa. Estudo de caso junto à UFSC

Abstract

A internacionalização da Educação Superior passou a figurar, a partir dos anos 2000, como um dos elementos valorizados pelas políticas públicas para a pós-graduação no Brasil, tendo os grupos de pesquisa como estratégia para incrementar a produção e socialização do conhecimento acadêmico. A formação de um coletivo, seja por meio dos grupos e/ou redes de pesquisa, pressupõe um movimento de passagem do pesquisador individual a um coletivo nacional/internacional preocupado em produzir e socializar pesquisas conjuntamente no sentido de atender às demandas de uma sociedade globalizada. Nesse contexto, esta pesquisa teve como objetivo analisar as políticas públicas destinadas a pesquisadores para a consolidação de grupos de pesquisa e participação em redes interinstitucionais e internacionais. Para tal, em um primeiro momento, analisou-se três políticas públicas consideradas iniciativas pioneiras para a criação e disseminação de uma cultura da pesquisa e de constituição de grupos de pesquisa: os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais (CRPE/INEP); o Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE/SC) e o Programa de Intercâmbio (CNPq/CAPES). Depois, optou-se por desenvolver um estudo de caso focando o campo científico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio do envio de questionários para todos os 624 líderes de grupos de pesquisa da UFSC cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa e obteve-se 101 respostas. Posteriormente, realizou-se 13 entrevistas com gestores da UFSC, abrangendo membros do Comitê Gestor do PrInt/UFSC, coordenadores/vice-coordenadores/ex-coordenadores e líderes dos grupos de pesquisa da UFSC vinculados a Programas de Pós-Graduação avaliados com notas 6 e 7 pela CAPES. A partir da pesquisa empírica, foram criadas seis categorias de análise: Perfil e trajetória dos entrevistados; Organização e funcionamento dos grupos de pesquisa; Indução da CAPES; Parcerias interinstitucionais e internacionais; A participação da UFSC no CAPES-PrInt e Possibilidades e entraves para a internacionalização da/na UFSC. Constatou-se que a formação de grupos de pesquisa e a constituição de redes colaborativas são iniciativas de pesquisadores e resultado de uma indução dos órgãos de avaliação e financiamento visando melhores resultados dos envolvidos com a PG. Identificamos que há um movimento de passagem do pesquisador individual ao pesquisador coletivo, mas as formas individualizadas de avaliação podem fazer com que a produtividade acadêmica também seja individualizada para atender aos critérios de produção exigidos pela CAPES e pelo CNPq, o que resulta na criação e incorporação de diferentes habitus que estão relacionados ao atendimento e/ou resistência ao que está sendo imposto por esses órgãos. Por fim, verificou-se que a formação de pesquisadores de modo individual e coletivo, via grupos e redes de pesquisa, pode ter como componentes, além de formar profissionais capacitados a atuar em um mundo globalizado, a formação de investigadores que consigam estabelecer relações generosas e empáticas com os outros e que estejam dispostos a pensar criticamente sobre as relações de disputas que são travadas no campo científico mediante a indução das políticas públicas.

Abstract: The internationalization of Higher Education started to appear, from the 2000s, as one of the elements valued by public policies for postgraduate studies in Brazil, with research groups as a strategy to increase the production and socialization of academic knowledge. The formation of a collective, whether through groups and / or research networks, presupposes a movement from the individual researcher to a national/international collective concerned with jointly producing and socializing research in order to meet the demands of a globalized society. In this context, this research aimed to analyze public policies aimed at researchers for the consolidation of research groups and participation in interinstitutional and international networks. To this end, at first, three public policies were considered as pioneering initiatives for the creation and dissemination of a culture of research and the constitution of research groups: the Regional Educational Research Centers (CRPE/INEP); the Center for Educational Studies and Research (CEPE/SC) and the Exchange Program (CNPq/CAPES). Then, it was decided to develop a case study focusing on the scientific field of the Federal University of Santa Catarina (UFSC), by sending questionnaires to all 624 leaders of UFSC research groups registered in the Research Groups Directory up 101 responses. Subsequently, 13 interviews were conducted with UFSC managers, comprising members of the PrInt/UFSC Steering Committee, coordinators/vicecoordinators/ex-coordinators and leaders of UFSC research groups linked to Graduate Programs evaluated with grades 6 and 7 by CAPES. From the empirical research, six categories of analysis were created: Profile and trajectory of the interviewees; Organization and functioning of research groups; CAPES induction; Interinstitutional and international partnerships; UFSC's participation in CAPES-PrInt and Possibilities and obstacles to the internationalization of / at UFSC. It was found that the formation of research groups and the establishment of collaborative networks are initiatives of researchers and the result of an induction by the bodies of evaluation and funding aiming at better results of those involved with PG. We identified that there is a movement from the individual researcher to the collective researcher, but the individualized forms of evaluation can make the academic productivity also individualized to meet the production criteria required by CAPES and CNPq, which results in the creation and incorporation of different habitus that are related to the service and/or resistance to what is being imposed by these bodies. Finally, it was found that the training of researchers individually and collectively, via research groups and networks, may have as components, in addition to training professionals trained to work in a globalized world, the training of researchers who are able to establish generous relationships and empathetic with others and who are willing to think critically about the relations of disputes that are fought in the scientific field through the induction of public policies.