Considerações sobre a contribuição de Mészáros à teoria marxista do Estado: entre tecituras categoriais e as tramas reais

Abstract

O presente trabalho tem por objetivo examinar o modo de encadeamento e a qualidade categorial do Estado em ?Para Além do capital ? Rumo a uma teoria da transição? de István Mészáros (1930-2017). Fundamentado na análise imanente da obra, reconhecida por ampla literatura como uma das mais importantes sínteses revolucionárias acerca da globalidade sistêmica do capital na segunda metade do século XX, o trabalho identifica e caracteriza, na ótica do autor, os traços fundamentais e os aspectos históricos do entremetimento concreto do Estado na processualidade do capital, realçando os determinantes políticos para a sua ultrapassagem pelo proletariado e consonante edificação de uma nova e superior forma de sociabilidade. Inclinado sobre o alcance da lógica imanente da categorização meszariana, desvela, ainda, as determinações socio-históricas que deram base às formulações do autor, assim com as mediações teóricas, políticas e sociais que as condicionaram. Remetendo analiticamente a um período histórico de longa duração, a pesquisa aponta como o salto de qualidade do exame de Mészáros se vislumbrou como um resgate e atualização crítica dos fundamentos teórico-metodológicos lançados por Marx, num contexto de preponderância de tradições que se deslocaram dessa base essencial, assinalando como momentos decisivos sua comunhão intelectual e militante com o filósofo húngaro György Lukács (1885-1971) e o rompimento definitivo com o regime soviético em meados dos anos 1950. Assevera-se como nesse processo o autor, ao se ocupar das formas de ser sob o capital a partir das sínteses concretas da realidade, recupera a dimensão categorial crítica do Estado e o perspectiva em sua multidimensionalidade funcional e profundo imbricamento material, confirmando-o como uma das categorias centrais na autorreprodução do capital e, desta feita, um dos pilares da teoria social marxista.

Abstract: The present study aims to examine the mode of chaining and the categorial quality of the State in \"Beyond capital ? Towards a theory of transition\" by István Mészáros (1930-2017). Based on the immanent analysis of that work, which is vastly acclaimed on the literature as one of the most important revolutionary synthesis of the systemic globality of capital in the second half of the twentieth century, the present dissertation identifies and characterizes ? from the author's point of view ? the fundamental traits and historical aspects of the concrete intermeddling of the State in the procedurality of capital, highlighting the political determinants for the proletariat to overcome it and consonant building of a new and superior form of sociability. Grounded on the scope of the immanent logic of Mészáros's categorization, this dissertation also unveils the socio-historical determinants that grounded the author's formulations, as well as the theoretical, political and social mediations that conditioned them. Referring analytically to a long-term historical period, the research points out to how the leap in quality of Mészáros's examination was seen as rescue and critical update of the theoretical and methodological foundations laid by Marx in a context of preponderance of traditions that moved from this essential base, pointing out both his intellectual and militant communion with the Hungarian philosopher György Lukács (1885-1971), and the definitive break with the Soviet regime in the mid-1950s as decisive moments. In dealing with the ways of being under capital grounded on concrete syntheses of reality, the author recovers the critical categorical dimension of the State and the perspective in its functional multidimensionality and deep material overlap, confirming it as one of the central categories in the self-reproduction of capital and one of the pillars of Marxist social theory.