Title: | Discursos sobre a educação rural no Brasil: a presença de projetos de educação para o desenvolvimento na cultura política (1946-1963) |
Author: | Modesti, Tatiane |
Abstract: |
Este trabalho tem por objetivo analisar os discursos sobre a educação rural em relação ao ideário do desenvolvimento, entre 1946 e 1963, buscando perceber a construção de uma estrutura discursiva em torno da ideia de educação para o desenvolvimento e a proposição de projetos educacionais para o meio rural. Para isso, tratamos o desenvolvimento como um discurso político e científico que norteava as políticas públicas no Brasil, num contexto transnacional de atuação de órgãos/agências intergovernamentais e centros de pesquisa. Dessa forma, percebemos uma retórica de superação do subdesenvolvimento ligado a problemas de atraso do campo, principalmente em relação ao analfabetismo, à agricultura (e estrutura agrária) e às condições de vida do homem do campo. Como orientação teórico-metodológica, optamos por combinar elementos da análise crítica do discurso de Fairclough (2016), com o contextualismo linguístico de Pocock (2013). Assim, tratamos o discurso como ação ou prática social ligada à prática discursiva e significada em elementos textuais, o que possibilitou a visualização de projetos educacionais elencados, como alfabetização, modernização agrícola e assistência social, e nestes, a predominância de léxicos de cultura relacionados a hábitos, costumes, atitudes, modos de vida e de trabalho no campo. Dessa forma, para compreendermos esses léxicos na relação com o desenvolvimento, escolhemos como aporte teórico o conceito de cultura política, em Berstein (1998) e Gomes (2005), articulado ao conceito de representação, de Chartier (1990), o que possibilitou a formação da hipótese inicial de que uma cultura política do desenvolvimento e as representações do mundo rural fundamentam o discurso educacional para o meio rural e a proposição de projetos de educação rural. Além disso, outros arcabouços foram utilizados, como as noções de marginalidade estrutural, de Costa Pinto (1967), os ?dilemas?, de Fernandes (1959;1960;1979), e a ?demora cultural?, em Fernandes (1960;1979) e Azevedo (1962). Esta foi contemplada juntamente com a cultura em Willems (1944) e Azevedo (1962), para relacionarmos o desenvolvimento cultural ao desenvolvimento socioeconômico. Essa análise evidenciou que os léxicos de cultura estruturavam a ideia de educação para o desenvolvimento na proposta de mudança cultural e os projetos educacionais tinham a mudança cultural como objetivo. Essa percepção foi evidenciada no corpus textual composto a partir da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, do Boletim do Centro Latino Americano de Pesquisa em Ciências Sociais, da Revista América Latina e da Revista da Campanha Nacional de Educação Rural. A seleção destas fontes deve-se à abrangência do discurso educacional em relação tanto ao discurso político quanto ao discurso científico, tendo em vista as diferentes propostas das revistas. Além disso, utilizamos como fontes: entrevistas, relatórios, leis, decretos, mensagens presidenciais e recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Assim, a análise do corpus textual e a investigação das fontes, dentro dessas referências teóricas, indicou como tese a existência de um discurso educacional que propunha a mudança cultural como condição de desenvolvimento socioeconômico no mundo rural, mas com distanciamentos entre o proposto pelo discurso científico e o implementado no discurso político por meio dos projetos de educação para o desenvolvimento, elencados como alfabetização, modernização agrícola e assistência social. A ideia de educação para o desenvolvimento, em ambos os discursos, propunha a mudança cultural, mas os projetos de educação rural apresentavam limites de atuação, pela preponderância de um discurso político ligado à cultura política no mundo rural, que selecionava e prescrevia partes do discurso científico do desenvolvimento. Nesses projetos educacionais prevalecia a mudança cultural do camponês ou pequeno proprietário rural, mas este discurso político distanciava-se do discurso científico que caracterizava outros elementos culturais do atraso do mundo rural, tais como as relações sociais, de trabalho e a posse da terra, que apontavam a estrutura social e agrária como entraves ao desenvolvimento. Abstract: This work aims to analyze the discourses on rural education in relation to the ideal of development, between 1946 and 1963, seeking to perceive the construction of a discursive structure around the idea of education for development and the proposition of educational projects for the rural environment. In order to achieve this, we treat development as a political and scientific discourse that guided public policies in Brazil, in a transnational context of intergovernmental bodies / agencies and research centers. We perceive a rhetoric of overcoming underdevelopment linked to backward problems in the rural world, mainly in relation to illiteracy, agriculture (and agrarian structure) and the living conditions of rural people. As a theoretical-methodological guideline, we choose to combine elements of Fairclough?s critical analysis of speech (2016), with Pocock?s linguistic contextualism (2013).Thus, we treat discourse as an action or social practice linked to discursive practice and signified in textual elements, which enabled the visualization of educational projects listed as literacy, agricultural modernization and social assistance, and in these the predominance of cultural lexicons related to habits, customs, attitudes, ways of living and working in the countryside. In order to understand these lexicons in relation to development, we choose the concept of political culture as theoretical contribution, in Berstein (1998) and Gomes (2005), linked to the concept of representation, by Chartier (1990), which enabled the formation of the initial hypothesis that a political culture of development and representations of the rural world were the foundation of the educational discourse for the rural environment and the proposition of rural education projects.In addition, other frameworks were used, such as the notions of structural marginality, by Costa Pinto (1967), the ?dilemmas? by Fernandes (1959; 1960; 1979), and the ?cultural delay?, in Fernandes (1960; 1979) and Azevedo (1962). This was considered together with the concept of culture in Willems (1944) and Azevedo (1962), which embodied an understanding of cultural development to socioeconomic development. This analysis showed that the lexicons of culture structured the idea of education for development in the proposal for cultural change, so educational projects had cultural change as their objective. This perception was evidenced in the textual corpus composed from the Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, the Bulletin of the Latin American Center for Research in Social Sciences and Revista América Latina, and the Revista da Campanha Nacional de Educação Rural. The selection of these journals is based on the scope of the educational discourse in relation to both the political and scientific discourse, in view of the different proposals of the magazines. In addition, we used interviews, reports, laws, decrees, presidential messages and recommendations from the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) as sources. Thus, according to the analysis of the textual corpus and the investigation of the sources, within these theoretical-methodological references, I defend the existence of an educational discourse that proposed cultural change as a condition for socioeconomic development in the rural world, but with distances between what was proposed for the scientific discourse and what was implemented in the political discourse through rural education projects, described as literacy, agricultural modernization and social assistance. The idea of education for development, in both discourses, proposed cultural change, but rural education projects had limits of action due to the preponderance of a political discourse linked to political culture in the rural world, which selected and prescribed parts of the scientific discourse development. In these educational projects, the cultural change of the peasant or small rural owner prevailed, but distanced itself from the scientific discourse that characterized other cultural elements of the backwardness of the rural world, such as social relations, labor and land tenure, which presented the agrarian social structure as an obstacle to development. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2020. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/219421 |
Date: | 2020 |
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PEED1536-T.pdf | 2.665Mb |
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