Não é mimimi: proposta de educação intercultural em direitos humanos na cultura digital

Abstract

Em um país em que a desigualdade extrapola a distribuição de renda e se manifesta de forma aviltante nos índices de violência, no acesso a serviços de saúde e à educação, e se edifica a partir da segregação baseada, principalmente, em raça, assim como em gênero e sexualidade, faz-se necessário compreender que o debate sobre os direitos humanos deve admitir que alguns segmentos sociais não têm reconhecida sua humanidade. Em um contexto em que as interações nas redes sociais da internet são apontadas como um dos fatores que promovem a violência e a intolerância, ao mesmo tempo em que também são lugares em que movimentos sociais e ativistas se articulam para enfrentar uma realidade que os oprime, nos perguntamos: como educar para a ampliação da concepção de humanidade na cultura digital? Realizamos nossa investigação a partir da concepção intercultural crítica de direitos humanos e refletindo sobre a cultura digital a partir da ética hacker ? um ethos de colaboração, autoria, análise crítica e subversão de sistemas, com vistas ao estabelecimento de conjunturas mais justas. Nossa pesquisa se deu junto a duas turmas do ensino básico, nos níveis fundamental e médio. Junto ao primeiro, observamos o desenvolvimento de um projeto de mídia-educação, que tinha como ponto de partida a promoção da participação infantil. No segundo, o estudo se deu sobre um exercício de alteridade, orientado pela promoção do respeito à diferença. As duas ações estudadas são vinculadas ao projeto de pesquisa Conexão Escola-Mundo (contemplado pelo edital Pesquisa e Inovação em Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CHSSA 2016). Buscamos, em nosso trabalho, identificar os desafios e as possibilidades que se apresentaram ao longo dos processos observados. Como resultado, destacamos os esforços que se fazem necessários para a promoção do empoderamento dos estudantes; apresentação de epistemologias diversificadas; criação de vínculos de confiança entre alunos e professores; construção coletiva do processo; enfrentamento de alguns comportamentos e pensamentos hegemônicos; e a discussão de temas considerados proibidos no grupo.

Abstract: In a country where inequality goes beyond income distribution and is manifestly demeaning in rates of violence, access to health services and education, and built on segregation based primarily on race, as well as on gender and sexuality, it is necessary to understand that the debate on human rights must admit that some social segments have not recognized their humanity. In a context in which interactions on the social networks of the Internet are pointed as one of the factors that promote violence and intolerance, while also being places where social movements and activists articulate to face a reality that oppresses them, we ask ourselves: how to educate for the expansion of the conception of humanity in the digital culture? We conduct our research from the critical intercultural conception of human rights and reflecting on digital culture from the hacker ethic - an ethos of collaboration, authorship, critical analysis and subversion of systems, with a view to establishing fairer conjunctures. Our research was conducted with two classes of elementary school, at the elementary (fifth grade) and middle (second grade) levels. Along with the first, we observed the development of a media education project, which had as its starting point the child participation. In the second, the study was about an exercise of otherness, motivated by the promotion of respect for difference. The two actions are linked to the research project Connection School-World (contemplated by the Research and Innovation in Humanities, Social and Applied Sciences of the Council of Scientific and Technological Development, CHSSA 2016). We seek, in our work, to identify the challenges and possibilities throughout the observed processes. As a result, we highlight the efforts that are needed to promote the empowerment of students, the presentation of other epistemological frames, the creation of bonds of trust between students and teachers, the collective construction of the process, the confrontation of some hegemonic behaviors and thoughts, and the discussion of topics that are avoided in the group.