Educação, psicologia, criança e infância: relações presentes na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (1944-1964)

Abstract

Esta dissertação foi produzida com foco na investigação das relações historicamente construídas entre criança, infância, Psicologia e Educação, utilizando como fonte de pesquisa os artigos publicados na sessão Ideias e Debates da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP), configurando-se como uma pesquisa bibliográfica. Adotamos como problemática a identificação das teorizações sobre criança e infância, formuladas com base na Psicologia que foram veiculadas nos artigos publicados na RBEP no período de 1944 a 1964, em articulação com as movimentações políticas, sociais e intelectuais do período. A leitura dos editoriais de todos os números (número 1 do volume 1 até número 96 do volume 42) permitiu traçar o panorama das discussões privilegiadas na revista, os quais evidenciavam os debates educacionais presentes na sociedade. Esse período histórico foi considerado mais relevante para caracterizar a relação entre a Psicologia e a Educação, segundo a historiografia de ambas as áreas, por ser um período de intensa interlocução entre as disciplinas e que foi significativo para constituição de ambas: o momento de institucionalização da educação pública e de consolidação da Psicologia como campo científico reconhecido no país. O referencial teórico que orientou a análise dos artigos pautou-se nas relações históricas entre Psicologia e Educação, tendo a criança como foco de estudos e a discussão da infância como categoria analítica, como apresentado pela Teoria Histórico-Cultural. De uma seleção preliminar de 108 artigos, optou-se pela análise detalhada de 36, que foram escritos por 10 autores, sendo que um dos critérios para a inclusão final dos artigos analisados foi o de que cada autor deveria ter escrito, pelo menos, três artigos selecionados. Com base na leitura dos artigos, chegou-se ao estabelecimento de três categorias, a saber: a) a criança educada para a democracia e o desenvolvimento do Brasil, que reúne os debates sobre as melhores formas de educar a criança como cidadã e trabalhadora, a fim de contribuir com o desenvolvimento nacional; b) a criança investigada pelas teorias psicológicas, com foco nos conceitos de inteligência e de aprendizagem formulados por diferentes bases psicológicas; e c) a criança diagnosticada pela Psicologia, em que exploramos os artigos que apresentam uma visão clínica das dificuldades de aprendizagem. Por fim, concluímos que a psicologia foi convocada a atender diversas demandas na educação e apresentou, de forma geral, bases materiais para investigação e análise da criança, com foco na superação das dificuldades escolares. No entanto, observa-se escasso debate sobre a infância. As categorias encontradas nesta pesquisa sugerem que as relações entre a Educação, Psicologia, criança e infância apresentam um movimento de ideias e contradições complexas, fundamentadas na necessidade de recorrer às ideias psicológicas que informavam uma certa condição infantil, para responder aos objetivos pedagógicos segundo finalidades atribuídas à educação nacional. A tendência que identificamos foi de uma psicologia experimental e com pretensões científicas, que retirou o entendimento da criança dos marcos religioso e especulativo, mas que corroborava com análises higienistas e pouco se deixava permear por análises sociais e históricas, contribuindo para naturalizações do ser infantil.

Abstract : This dissertation was produced with the focus on the investigation of the historical relations built between child, childhood, psychology and education, using as search source articles published in the session Ideas and Debates in the Brazilian Magazine of Pedagogical Studies (RBEP). We adopted as research problem the identification of the theoriations about the children and childhood, formulated with base of the psychology, that were were served through articles published on the RBEP in the period from 1944 to 1964, in articulation with political, social and intellectual movimentations of the period. The reading of all the numbers (from number 1 of volume 1 to number 96 of volume 42) allowed to trace the outline of the discussions that were privileged in the magazine and evidenced the educationals debates that were present at the time. This historical period was considered more relevant to characterize the relation between psychology and education, according the historiography of both areas, for have been a period of intense interlocution between the disciplines and that significant to the constitution of both: the moment of institutionalization of the public education and the consolidation of psychology as a scientific field recognized in the country. The theoretical bases that oriented the analysis of the articles aimed at the historical relations between psychology and education, having the child as the focus of the studies, and the discussion of childhood as the analytical category as presented by the Historical Cultural Theory. From a preliminary selection of 108 articles 36, written by 10 different authors, were chosen for a detailed analysis, been one of the criteria for the final inclusion of the analysed articles the condition that each author should had written at least three articles from the primary selection. Based on the reading of the articles were established three categories, namely: a) The Child educated to the democracy and the development of Brazil; that brings together debates about the best ways to educate the child as a citizen and worker to contribute with de nacional development; The Child investigated by the psychological theories, with the focus on the concepts of intelligence and learning formulated by different psychological bases and; c) The Child diagnosticated by the psychology, in which we explored the articles that shows a clinic vision of the learning difficulties. Finally, we conclude that psychology was summoned to attend various educational demands and showed, in general, the material bases to the investigation and analysis of the child, with the focus on the overcome of the escholar difficulties. However, we notice a scarce debate about childhood. The categories found in this research suggest that the relations between education, psychology, child and childhood present a complex movement of ideas and contradictions, based on the necessity of resort to psychological ideas, that informs about a determined childish condition, to respond to the pedagogical objects according to the goal atribuit to que nacional education. The tendency that we identified was that of a experimental psychology and with scientific pretensions, that took the understanding of the child away from the religious and speculativ landmarks, but that corroborated with hygienist and little allowed to be permeated by social and historical analysis, contributing to naturalizations of the child being.