Infância, educação e processos geracionais: um estudo das relações e práticas do comer das crianças em um contexto público de educação infantil

Abstract

Este trabalho apresenta o resultado de uma pesquisa, em nível de doutorado, que objetiva investigar os determinantes materiais e simbólicos que condicionam as relações e práticas do comer das crianças no espaço coletivo da educação infantil, por meio da análise de como esses determinantes são por elas reproduzidos e transformados na relação educativa. Isso implica, por sua vez, conceber as práticas do comer como um fenômeno complexo e multidimensional, com um sentido tanto do nutrir para se manter vivo como, fundamentalmente, um sentido social e, portanto, educativo. Para alcançar tal objetivo, foi realizada, durante os meses letivos de 2016, uma pesquisa etnográfica com crianças no contexto das refeições, em uma instituição pública de educação infantil. Os dados foram analisados tomando como base os estudos sociais da infância, a partir da perspectiva apontada por Qvortrup (1994, 2005) da infância como uma estrutura geracional, e da abordagem relacional proposta por Alanen (1994, 2009, 2012, 2014), no diálogo com a teoria sociológica de Bourdieu (1983, 2001, 2002), assim como os estudos da área que pesquisaram a questão do comer e as relações geracionais. As análises gerais apontam o espaço do comer na Educação Infantil como um contexto de aprendizagens, no qual se revelam processos geracionais de produção e reprodução de disposições corporais e temporais do comer no coletivo e no espaço institucional. A análise sobre como as crianças reproduzem ou transformam os determinantes que atuam sobre suas práticas do comer permitiu identificar os modos específicos pelas quais elas manifestam capacidades para se posicionar e confrontar a ordem geracional, a qual suas práticas são interdependentes; bem como, os conteúdos que circulam em torno dessas práticas, os quais permitem pensar em uma outra lógica pedagógica distinta da relação educativa do espaço da sala.

Abstract : This work presents the results of a doctoral research that aimed to investigate the material and symbolic determinants that condition the relationships and practices of children 's eating in the collective space of Early Childhood Education, through the analysis of how these determinants are by reproduced and transformed in the pedagogical relations. This implies, in turn, to conceive the practices of eating as a complex and multidimensional phenomenon, with a sense of both nurturing to stay alive, and, fundamentally, a social and therefore educational sense. To achieve this goal, during the 2016 school year, an ethnographic research was conducted with children in the context of meals, in a public institution of early childhood education. The data were analyzed based on the social studies of childhood, from the perspective pointed out by Qvortrup (1994, 2005), of childhood as a generational structure, and of the relational approach proposed by Alanen (1994, 2009, 2012, 2014) in the dialogue with the sociological theory of Bourdieu (1983, 2001, 2002). Also, the social studies of childhood that researched the issue of eating and generational relationships. The general analyzes point to the space of eating in children's education as a context of learning, in which are revealed generational processes of production and reproduction of corporal and temporal dispositions of eating in the collective and in the institutional space. The analysis of how children reproduce or transform the determinants that act on their eating practices allowed us to identify the specific ways in which they manifest the capacities to position themselves and confront the generational order to which their practices are interdependent. As well as the contents that circulate around these practices, which allow us to think of another pedagogical logic distinct from the educational relation of the space of the room.