Title: | Mulheres de um quilombo e seus processos de socialização com as crianças |
Author: | Botega, Gisely Pereira |
Abstract: |
Esta tese buscou dar visibilidade aos processos de socialização de mulheres quilombolas com as crianças moradoras do Quilombo Toca de Santa Cruz, localizado no município de Paulo Lopes/SC. Os processos de socialização são aqui compreendidos como algo que diz da formação humana destes sujeitos(as) em relação uns com os outros(as). São práticas transversalizadas pela oralidade, tradição, ancestralidade, memória, relações de gênero, feminilidade, raça, pertencimento, movimentos da diáspora, da inventividade e de modos de resistências. São práticas que dizem de como estas mulheres vão se constituindo, a todo tempo, como negras e quilombolas, na potência política, afetiva e estética dos encontros com a infância quilombola. Através de uma abordagem etnográfica, procurei tecer este texto, no qual as narrativas dos(as) sujeitos(as) ganharam destaque. Para isto, o uso do Diário de Campo, das observações participantes, das entrevistas e conversas informais foram ferramentas etnográficas importantes na aproximação com o contexto pesquisado. Com e através d(elas), fui autorizada a acompanhar o processo de reconhecimento da comunidade, ainda em andamento, através de encontros com o grupo organizados pelos profissionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Tive a possibilidade de circular no terreno do sagrado em idas a cerimônias religiosas em um terreiro de Umbanda frequentado por uma Yalorixá quilombola e seus(uas) familiares. Além disso, pude deparar-me com os paradoxos da rede de proteção às crianças e os tratos com a população negra do município. Através de minha participação em audiências no Tribunal de Justiça do Estado, em manifestações em espaços públicos e nas redes sociais denominadas: ?devolvam nossas crianças? e, na inserção na rede Malungo, vivenciei experiências que produziram os contornos para alguns de meus devaneios sobre as violências que envolvem o caso de acolhimento institucional de duas crianças quilombolas da Toca de Santa Cruz. E, se me perguntarem o porquê destas escolhas? ?Esse é o olhar que se inicia no Outro, na expressividade de seu rosto, por isto, se submete ao seu mistério, seu distanciamento, sua rebeldia, sua expressividade, sua irredutibilidade. Nestes movimentos este olhar nos interroga, nos comove, nos desnuda, nos deixa sem nomes? (SKLIAR, 2003, p. 67-68). E, se me perguntarem pelo começo e pelo fim? Talvez possa recorrer ao que me advertiu Zaratustra de que ?o caminho...o caminho não existe? (NIETZSCHE, 2008, p. 167). Trata-se aqui de pensar os (des)caminhos desta tese, nos quais os processos de socialização parecem potencializar a vida e os processos de resistências àopressão, as violências, ao branqueamento, ao racismo, a discriminação e a invisibilidade. Abstract : This thesis sought to bring visibility to the socialization processes of quilombola women with the children who live in the quilombo Toca de Santa Cruz, located in the municipality of Paulo Lopes, in SC state, Brazil. In this work, socialization processes are understood as something that speaks to the human formation of these subjects in relation to one another. The practices are transversalized through orality, tradition, ancestry, memory, gender relations, womanhood, race, belonging and movements of diaspora, of inventiveness and of modes of resistance. These practices speak to how these women constitute themselves, at all times, as black and quilombola, in the political, affective and aesthetic power of the encounters with the quilombola children. I sought to weave this text through an ethnographic approach, in which the narratives of the subjects were highlighted. The use of the Field Journal, participant observations, informal conversations and interviews were important ethnographic tools for approaching the researched context. With and through them, I was authorized to accompany the process of recognizing the community, still functioning, through meetings with the group, organized by the National Institute for Colonization and Agrarian Reform (INCRA). I was given the possibility to circulate through the land of the sacred by going to religious ceremonies in an Umbanda terreiro visited by a Yalorixá quilombola and her relatives. Moreover, I came across the paradoxes of the network for the protection of children and treatment received by the municipality?s black population. Through my participation in hearings at the State Tribunal of Justice, in manifestations in public spaces and in social networks called ?return our children?, as well as in the network Malungo, I had experiences that produced the contours for some of my reflections around the violence that involve the case of the removal of two quilombola children from Toca de Santa Cruz by the state. What if I were asked the reason behind these choices? ?This is the gaze that begins with the Other, in the expressivity of one?s face. For this reason, the person submits his or herself to the other?s mystery, his distancing, her rebelliousness, his expressivity, her irreducibility. In these movements, this glimpse interrogates us, moves us, undresses us, leaves us nameless? (SKLIAR, 2003, p. 67-8). And what if I am asked about the beginning or the end? I might be able to resort to what Zarathustra warned, that ?the path? the path does not exist? (NIETZSCHE, 2008, p. 167). The objective here is to reflect on the paths (or detours) of this thesis, in which the socialization processes seem toheighten the potential of life and the processes of resistance to oppression, to violence, to whitening, to racism, to discrimination and to invisibility. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2017. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/185540 |
Date: | 2017 |
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PEED1269-T.pdf | 3.291Mb |
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