A reprimarização das exportações brasileiras em uma perspectiva histórico-mundial de longa e média durações

Abstract

Esta dissertação objetiva identificar quais as causas da recente reprimarização das exportações brasileiras. A pauta de comércio exterior brasileira é o objeto analisado. A pesquisa foi orientada por quatro hipóteses: 1) aumento da demanda mundial de commodities por parte do Leste Asiático; 2) perda de competitividade das exportações de manufaturados para concorrentes estrangeiros; 3) presença de sintomas da doença holandesa no Brasil e; 4) inserção histórica periférica na Divisão Internacional do Trabalho, sendo esta a principal. Para atingir este objetivo foram analisados dados do comércio exterior brasileiro e realizada a revisão da bibliografia. A bibliografia foi separada em três grupos, levando-se em conta a ênfase das interpretações, ficando assim dividido: 1) interpretações com ênfase nos aspectos nacionais; 2) interpretações com ênfase nos aspectos internacionais; 3) interpretações alternativas, subdividida entre aqueles que apontam para a existência de um pacto de poder entre Estado e Agronegócio, e para aqueles que relativizam a reprimarização baseado nas vantagens comparativas reveladas. O contato com a bibliografia confirmou as três primeiras hipóteses, constatando-se empiricamente que o Brasil possui o maior percentual das exportações baseado em commodities agrícolas e minerais, porém ressaltando que se trata de um fenômeno de números relativos. Constata-se que todas possuem em comum o tempo de análise de curta duração. Para verificar a quarta hipótese, recorreu-se à Economia Política dos Sistemas-Mundo e à perspectiva histórica de longa duração de Fernand Braudel. Constatou-se que a especialização em produtos primários nas exportações do Brasil tem sido a regra desde 1808, sendo a exceção o período de 1979 a 2009, quando o país exportou percentualmente mais produtos manufaturados, retornando para o padrão primário-exportador e permanecendo assim até a atualidade. Portanto, a questão parece não ser como explicar a reprimarização das exportações brasileiras, e sim a presença de manufaturados nas exportações para o período de exceção.

Abstract: This dissertation aims to identify the causes of the recent reprimarization of Brazilian exports. The Brazilian foreign trade agenda is the analyzed object. The research was guided by four hypotheses: 1) increase in world demand for commodities by East Asia; 2) loss of competitiveness of manufactured exports to foreign competitors; 3) presence of symptoms of Dutch disease in Brazil; 4) peripheral historical insertion in the International Division of Labor, being this the main one. In order to reach this objective, data from the Brazilian foreign trade were analyzed and the literature review was carried out. The bibliography was separated into three groups, taking into account the emphasis of the interpretations, thus being divided: 1) interpretations with emphasis on national aspects; 2) interpretations with an emphasis on international aspects; 3) alternative interpretations, subdivided among those that point to the existence of a power pact between State and Agribusiness, and to those who relativize reprimarization based on revealed comparative advantages. The contact with the bibliography confirmed the first three hypotheses, stating empirically that Brazil has the highest percentage of exports based on agricultural and mineral commodities, but stressing that this is a phenomenon of relative numbers. It is verified that all have in common the time of analysis of short duration. In order to verify the fourth hypothesis, we resorted to the Political Economy of the World-Systems and the long-term historical perspective of Fernand Braudel. It was verified that the specialization in primary products in Brazilian exports has been the rule since 1808, with the exception of the period from 1979 to 2009, when the country exported more manufactured products, returning to the primary exporting standard and remaining thus until the actuality. Therefore, the issue does not seem to be to explain the reprimarization of Brazilian exports, but rather the presence of manufactured goods in exports for the period of exception.