Abstract:
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Com o discurso atual favorável à Inclusão no ambiente escolar, todos os estudantes são convidados a comungar de um mesmo espaço. No campo político, algumas medidas passaram a ser tomadas, como a aprovação da Lei da Libras (BRASIL, 2002), que oficializa tal língua, assim como a garantia da presença de Intérpretes de Libras (BRASIL, 2005) no atendimento educacional, ambas em favor dos educandos surdos. Dentre as barreiras ainda existentes e que se opõem a um ensino de boa qualidade para os surdos em situação inclusiva, destacamos o fato de que, permeando todas as estratégias metodológicas disponíveis ao professor em uma aula, temos a fala como o principal meio de comunicação. Além disso, alguns aspectos importantes deixam de ser considerados com vistas à verdadeira inclusão dos surdos, como a valorização da experiência visual destes educandos. Nesse sentido, a presente pesquisa se destina a entender como se dá o ensino e a aprendizagem de Matemática por estudantes surdos que contam com o apoio de um Intérprete de Libras. Para tal empreitada, realizamos pesquisas em duas turmas do 9º ano do Ensino Fundamental de escolas diferentes, as quais denominamos como Caso1 e Caso 2. No Caso 1, observamos 30 aulas de Matemática de uma escola pública do interior do Paraná. Para organizar os dados coletados, redigimos notas de campo com o intuito de identificar as principais características que permeiam o ensino e a aprendizagem de Matemática para surdos inclusos. Além das notas de campo, aplicamos 12 atividades matemáticas para alunos surdos e ouvintes da mesma escola, sendo o desenvolvimento das atividades pelos alunos surdos videogravado. No Caso 2, observamos três aulas de Matemática de uma escola pública também do interior do Paraná. A fala do professor foi gravada e transcrita, bem como as imagens do Intérprete de Libras. Na sequência, buscamos cotejar ambas as transcrições em busca de uma compreensão mais voltada para as características das linguagens adotadas, quer sejam, o Português e a Libras. Nos dois Casos, foram destacadas unidades de análise oriundas de nosso conjunto de dados coletados: ausência de interação entre surdos e ouvintes no ambiente escolar; a definição do papel dos Intérpretes de Libras nas escolas ainda em construção; ausência de atividades que explorem o aspecto visual no ensino de Matemática; uma formação inicial e continuada que não contempla a inclusão de alunos surdos; dificuldades dos alunos surdos em interpretarem enunciados matemáticos e, somado a isso, o desconhecimento dos professores e de outros profissionais a respeito das dificuldades enfrentadas pelo aluno surdo com uma língua que ele não domina; incoerências matemáticas cometidas no ato da interpretação em Libras. Ao final, propomos alguns encaminhamentos que precisam ser considerados, caso se almeje, verdadeiramente, um ensino de boa qualidade para todos, com ênfase para os surdos. |