Desafios e potencialidades para o desenvolvimento de práticas interprofissionais em uma residência multiprofissional em saúde de um hospital do sul do Brasil

Abstract

As práticas interprofissionais são amplamente reconhecidas pela capacidade de aprimorar a qualidade do cuidado e elevar os resultados em saúde. Contudo, em função de diversos aspectos estruturais e organizacionais, sua implementação em ambientes hospitalares ainda enfrenta desafios significativos. Dispositivos que estimulam essas práticas são essenciais para impulsionar uma abordagem mais centrada no paciente e holística, bem como para qualificar a formação dos futuros profissionais da saúde. Assim, este estudo objetivou investigar as potencialidades e desafios associados à implementação de práticas interprofissionais, mediante movimentos de Educação Interprofissional e a Prática Colaborativa, no âmbito de uma Residência Multiprofissional em Saúde no contexto hospitalar. Trata-se de um estudo de métodos mistos, onde a etapa quantitativa foi realizada a partir de aplicação de duas escalas validadas com 204 participantes e a etapa qualitativa por meio de entrevistas semiestruturadas com 26 participantes e observação em 27 momentos distintos. Os participantes foram preceptores e residentes das diferentes categorias profissionais que compõem a residência multiprofissional. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob o parecer número 5.256.168. Os resultados estão apresentados no formato de artigos científicos e revelam uma disponibilidade geral por parte dos participantes para se envolverem em práticas interprofissionais, apesar de destacar dificuldades relacionadas à formação e ao perfil profissional que impedem a implementação efetiva da colaboração interprofissional. Além disso, enfatizam a relevância da comunicação eficaz para o desenvolvimento e disponibilidade das práticas interprofissionais, enquanto identificam a persistência do modelo médico-centrado como um fator limitante. Os resultados também ressaltam a necessidade de um apoio institucional mais robusto para reforçar a prontidão e facilitar a implementação das práticas interprofissionais, destacando a importância de políticas institucionais que promovam a colaboração interdisciplinar e facilitem a transição dos conceitos teóricos para a prática clínica, juntamente com a necessidade de programas de capacitação para os profissionais envolvidos na residência. As contribuições da residência para a formação dos futuros profissionais são evidentes, sendo que o principal diferencial sinalizado foi a possibilidade de aprender a trabalhar com outros profissionais, confirmando o valor deste dispositivo para a promoção de práticas colaborativas. Na perspectiva institucional, a residência também contribui para transformações na prática dos profissionais, trazendo novos conhecimentos e estímulos para qualificar a prática cotidiana. Ressalta-se a pertinência de olhar para os desafios identificados como oportunidades de aprimoramento, visando explorar ao máximo o potencial das residências multiprofissionais para estimular práticas de cuidado mais integrais e centradas na atuação conjunta dos profissionais de saúde.

Abstract: Interprofessional practices are widely recognized for their ability to improve the quality of care and enhance health outcomes. However, due to various structural and organizational aspects, their implementation in hospital settings continues to face significant challenges. Devices that promote these practices are essential for fostering a more patient-centered and holistic approach, as well as for enhancing the education of future healthcare professionals. Thus, this study aimed to investigate the potential and challenges associated with the implementation of interprofessional practices, through the lens of Interprofessional Education and Collaborative Practice, within the scope of a Multiprofessional Health Residency in the hospital context. This is a mixed methods study, with the quantitative phase involving the application of two validated scales to 204 participants, and the qualitative phase consisting of semi-structured interviews with 26 participants and observations at 27 distinct moments. The participants were preceptors and residents from different professional categories that make up the multiprofessional residency. The research was approved by the Human Research Ethics Committee of the Federal University of Santa Catarina, under the opinion number 5.256.168. The results, presented in the form of scientific articles, reveal a general readiness among the participants to engage in interprofessional practices, despite highlighting difficulties related to education and professional profiles that hinder the effective implementation of interprofessional collaboration. Additionally, they emphasize the importance of effective communication for the development and availability of interprofessional practices, while identifying the persistence of the medical-centered model as a limiting factor. The results also underscore the need for stronger institutional support to reinforce readiness and facilitate the implementation of interprofessional practices, highlighting the importance of institutional policies that promote interdisciplinary collaboration and facilitate the transition from theoretical concepts to clinical practice, along with the need for training programs for professionals involved in the residency. The residency?s contributions the to the education of future professionals are evident, with the primary differentiator being the opportunity to learn to work with other professionals, confirming the value of this approach in promoting collaborative practices. From an institutional perspective, the residency also contributes to transformations in the professionals' practice, bringing new knowledge and incentives to enhance daily practice. It is pertinent to view the identified challenges as opportunities for improvement, aiming to maximize the potential of multiprofessional residencies to encourage more comprehensive and joint-centered healthcare practices.