dc.description.abstract |
A política nacional de DST/Aids entrou em vigor no ano de 1985, enquanto que a política nacional de atenção à saúde auditiva foi publicada em 2004. Assim, o estudo teve como objetivo construir um referencial teórico, da organização e gestão da rede de atenção à saúde auditiva, a partir da compreensão dos significados atribuídos pelos profissionais e gestores, que atuam na política nacional de atenção à saúde auditiva e política nacional de DST/Aids, no Estado de Santa Catarina. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com abordagem teórico-descritiva, a qual foi conduzida pela Teoria Fundamentada nos Dados (TFD). A Complexidade de Edgar Morin foi a perspectiva teórica utilizada, e oportunizou a compreensão do fenômeno de forma contextualizada e reflexiva. Os cenários escolhidos para a realização da pesquisa foram dois Serviços de Atenção à Saúde Auditiva, de alta complexidade, um no Município de Florianópolis/SC, outro em Itajaí/SC, e um Centro de Referência Estadual no controle e tratamento de pessoas com HIV/Aids, localizado em Florianópolis/SC. A coleta de dados ocorreu de maio de 2012 a abril de 2013. A seleção dos participantes foi intencional, por amostragem teórica e apoiada nos seguintes critérios de inclusão: (1) ser profissional ou gestor na política nacional de DST/Aids por no mínimo dois anos; (2) ser profissional ou gestor na política nacional de saúde auditiva por no mínimo dois anos; (3) estar atuando no momento da entrevista. Foram entrevistados trinta profissionais e gestores, divididos em cinco grupos amostrais, sendo dezessete sujeitos que atuavam na Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, e treze, na Política Nacional de DST/Aids. As entrevistas foram áudio-gravadas e posteriormente transcritas na íntegra. A análise dos dados ocorreu de maneira concomitante com a coleta dos dados, por codificação aberta, axial e seletiva. O fenômeno Organizando a rede de atenção à saúde auditiva de pessoas que vivem com HIV/Aids, fundamentado na integração de nove categorias e dezenove subcategorias, foi distribuído em componentes do modelo paradigmático. A relação entre HIV/Aids e perda auditiva faz parte do Contexto como um tema desconhecido tanto por profissionais e gestores, quanto pelas pessoas que vivem com HIV/Aids, e, apesar de haver literatura científica relatando essa relação, ainda não há um consenso sobre a etiologia da perda auditiva, e seus efeitos para a qualidade de vida nessa população específica. Diante desse quadro os profissionais reconhecem o caráter inovador da pesquisa, e demonstram interesse em aumentar o conhecimento na área, com o objetivo de melhorar a qualidade do cuidado, e organizar uma rede de atenção para pessoas que vivem com HIV/Aids, e que podem ter como agravo a perda auditiva, como consequência dessa condição de saúde. As condições de vida das pessoas que vivem com HIV/Aids emergiu como barreira para o diagnóstico precoce da perda auditiva. Entre as condições estão a baixa renda, a não adesão ao tratamento e as dificuldades em compreender as informações recebidas das equipes de saúde. Dentre as Condições Causas, os profissionais e gestores consideram a gestão do SUS complexa e fragmentada, percebem que o Sistema Único de Saúde apresenta alguns entraves na gestão da rede de atenção à saúde auditiva, e apontam a organização da estrutura do sistema de saúde como um desafio a todos os atores envolvidos, quais sejam gestores, profissionais e usuários. Apontam também a falta de fonoaudiólogos nos Núcleos de Atenção à Saúde da Família, e acreditam que a inclusão desses profissionais contribuiria para a garantia do atendimento integral, acesso universal e igualitário, principalmente nas áreas em que estes têm formação e capacitação para atuar. A melhor qualidade de vida que as pessoas que vivem com HIV/Aids estão vivenciando atualmente, devido ao avanço terapêutico no tratamento do HIV/Aids, emergiu como um dos principais fatores para o aumento da demanda de acompanhamento ambulatorial dessa população, e o agravo auditivo é mais um problema de saúde que precisa ser monitorado. Evidenciou-se que a atual rede de atenção à saúde auditiva de Santa Catarina não tem capacidade estrutural, e de pessoal para assumir esta nova demanda. Foram apontados como Condições Intervenientes a ausência de atendimento na Atenção Básica como porta de entrada na rede de atenção à saúde auditiva, a falta de compromisso dos profissionais, o fluxo da rede como obstáculo para o diagnóstico audiológico básico, a atenção voltada para a especialidade. Como Estratégias sugeridas, os profissionais e gestores enfatizam a inclusão da infecção pelo HIV e da Aids como fatores de risco para surdez, recomendam o monitoramento auditivo, e a criação de protocolos de seguimento e fluxo de atendimento, e por fim a qualificação dos profissionais de saúde que são responsáveis pelo cuidado de saúde dessa população, para o controle do agravo auditivo, ou seja, da surdez permanente e incapacitante. Como Consequências vislumbram-se o cuidado integral, nas três dimensões do entendimento do conceito de integralidade, isto é, a integralidade como forma de cuidar/tratar aquele que procura o atendimento de saúde, aquele que foi em busca do cuidado; a integralidade como processo de trabalho, de ações em equipe, para grupos de atenção específicos e organizados para tal; e a integralidade como dever do Estado em todos os níveis de atenção. Indica-se, como necessidade urgente, a inclusão do fonoaudiólogo nas equipes de saúde da Atenção Básica, inserido e integrado com enfermeiros, dentistas, médicos e o agente comunitário de saúde, a fim de construir uma rede de atenção à saúde auditiva que atenda aos anseios da população, às necessidades das equipes de saúde e cumpra as diretrizes e regulamentações das políticas públicas envolvidas no cuidado às pessoas que vivem com HIV/Aids. Por fim, conclui-se que somente com a integração das políticas públicas será possível construir um sistema de saúde consolidado e eficaz, e que, somente para atender às pessoas que vivem com HIV/Aids, em relação ao agravo auditivo, temos que abarcar a Política Nacional de DST/AIDS, a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, a Política Nacional de Atenção Básica, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, além das Diretrizes das Redes de Atenção à Saúde, ou seja, compreende-se que a organização do cuidado obrigatoriamente se dá e se sustenta em ações compartilhadas, dos vários profissionais que são, ao mesmo tempo, autores e atores de um projeto coletivo.<br> |
pt_BR |