Abstract:
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O saneamento básico no Brasil ainda enfrenta grandes desafios, principalmente no acesso à coleta e tratamento de esgoto. Cerca de 40,3% da população não possui coleta e menos da metade do esgoto coletado recebe tratamento, o que afeta diretamente a saúde pública, com mais de 190 mil internações por doenças de veiculação hídrica em 2023. Nesse cenário, os wetlands construídos surgem como uma alternativa sustentável e baseada na natureza, capazes de remover matéria orgânica e nutrientes de forma eficiente e de baixo impacto ambiental. Apesar de sua eficácia no tratamento primário e secundário, esses sistemas apresentam limitações na desinfecção final, o que reforça o papel da desinfecção solar como alternativa complementar, simples, de baixo custo e acessível inclusive em áreas remotas, utilizando radiação ultravioleta e calor do sol para inativar microrganismos.
O presente estudo teve como objetivo avaliar o desempenho de tratamento de esgoto doméstico em wetlands construídos verticais de fundo parcialmente saturado seguidos por reator de desinfecção solar UV na Estação Experimental de Tratamento de Esgoto Sanitário (EETE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O acompanhamento ocorreu ao longo de 11 meses, com análises físico-químicas e microbiológicas mensais. Na etapa de desinfecção solar, utilizou-se um Reator Concentrador Parabólico (CPC) com tempos de exposição de 2h, 4h e 6h, monitorando a intensidade luminosa com o uso de luxímetro.
Os wetlands verticais apresentaram resultados consistentes com o histórico da EETE, com remoções superiores a 80% para Demanda Química de Oxigênio (DQO), acima de 50% para Nitrogênio Total e mais de 60% para fósforo ortofosfato e nitrogênio amoniacal. Já o wetland horizontal apresentou desempenho inferior, possivelmente associado à infestação de plantas invasoras que reduziram o volume de macrófitas no módulo. Quanto à desinfecção solar, verificou-se que quanto maior o tempo de exposição, maior a inativação microbiológica: 96% em 2h, 98% em 4h e 99,5% em 6h. A análise estatística destacou diferença significativa entre os ensaios de 2h e 6h, reforçando a importância de períodos prolongados de exposição solar.
Comparando os resultados às legislações brasileiras (CONAMA 430/2011 e NBR 16.783/2019), os tempos de 4h e 6h resultaram em efluente apto para todos os usos não potáveis previstos, incluindo irrigação de alimentos consumidos crus, enquanto o tempo de 2h atendeu apenas a usos menos restritivos, como irrigação de alimentos não consumidos crus, fins industriais e recreação de contato secundário.
De modo geral, os resultados confirmam o potencial dos wetlands construídos como solução baseada na natureza e da desinfecção solar como etapa complementar acessível e eficaz. A integração dessas tecnologias representa uma estratégia sustentável e viável para ampliar o saneamento descentralizado, promover a segurança hídrica e garantir o reúso seguro de efluentes em diferentes contextos. |