Avaliação fonoaudiológica da linguagem de crianças com suspeita ou diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA): o que fazem os fonoaudiólogos?

Abstract

Introdução: O TEA é descrito como um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por prejuízos persistentes na comunicação social recíproca e interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, os quais impactam diferentes áreas da vida do sujeito e, portanto, está intimamente relacionado ao seu desenvolvimento linguístico. Historicamente, o autista foi descrito por um viés medicalizante, que foca na ?falta? e não em suas potencialidades, chegando a ter sua linguagem negada. Objetivo: Nesse contexto, buscou-se compreender como os fonoaudiólogos brasileiros realizam a avaliação da linguagem de crianças com TEA, por meio de uma pesquisa quali-quantitativa do tipo descritivo-interpretativista. Metodologia: Desenvolveu-se a presente pesquisa através de revisão do estado da arte, elaboração e aplicação de um questionário semiestruturado com profissionais fonoaudiólogos e análise de conteúdo. Resultados: Em relação ao tipo de avaliação, a maioria dos participantes indicou utilizar instrumentos normatizados. O principal ambiente em que ocorre a avaliação é o consultório e, em sua maioria, indicaram gravar e/ou transcrever as sessões como estratégia no processo avaliativo. Em relação aos instrumentos utilizados pelos participantes, os mais citados foram PROC, ADL e ABFW, respectivamente. Entretanto, os profissionais indicaram utilizar de dois a dez instrumentos para a avaliação. Quanto aos aspectos linguístico-cognitivos considerados pelos participantes, apenas três foram citados de forma unânime: a intenção comunicativa, a brincadeira simbólica e a imitação. Excluindo, portanto, os aspectos intrínsecos ao desenvolvimento da linguagem, bem como, desconsiderando a multimodalidade. Entretanto, houve diferença entre aqueles que utilizavam instrumentos, mas também, os que realizavam avaliação exclusivamente qualitativa. Sendo que o segundo grupo destacou a importância da interação social. Conclusão: Foi possível observar a dificuldade de reflexão por parte dos profissionais referente à prática e à atuação junto a crianças com TEA. Dessa forma, indicando a necessidade de construção de instrumentos de avaliação partindo de uma visão multimodal e que considere o desenvolvimento de sujeitos com TEA, também compreende-se ser fundamental que se fomente discussões, que estudos científicos sejam desenvolvidos, bem como, capacitações e cursos que envolvam esse tema na especialidade da fonoaudiologia.

Abstract: Introduction: ASD is described as a neurodevelopmental disorder, characterized by persistent impairments in reciprocal social communication and social interaction, restricted and repetitive patterns of behavior, interests or activities, which impact different areas of the subject's life and, therefore, are closely related to related to their language development. Historically, the autistic was described by a medicalizing bias, which focuses on the ?lack? and not on their potential, even having their language denied. Objective: In this context, we sought to understand how Brazilian speech therapists carry out the assessment of the language of children with ASD, through a qualitative-quantitative research of the descriptive-interpretivist type. Methodology: The present research was developed through a review of the state of the art, elaboration and application of a semi-structured questionnaire with speech therapists and content analysis. Results: Regarding the type of assessment, most participants indicated using standardized instruments. The main environment in which the evaluation takes place is the office, and most of them indicated recording and/or transcribing the sessions as a strategy in the evaluation process. Regarding the instruments used by the participants, the most cited were PROC, ADL and ABFW, respectively. However, professionals indicated the use of two to 10 instruments for evaluation. As for the linguistic-cognitive aspects considered by the participants, only three were unanimously mentioned, namely communicative intention, symbolic play and imitation. Excluding aspects intrinsic to language development and disregarding multimodality. However, there was a difference between those who used instruments and those who performed exclusively qualitative assessment. The second group highlighted the importance of social interaction. Conclusion: It was possible to observe the difficulty of reflection on the part of professionals, regarding the practice and performance with children with ASD. Indicating the need to build assessment instruments in the field of speech therapy, starting from a multimodal view and considering the development of subjects with ASD, it is also understood that it is essential to encourage discussions, that scientific studies are developed, as well as training and courses involving this theme in the specialty of speech therapy.