Mulheres transexuais no esporte: uma revisão narrativa

Abstract

Introdução: A participação de atletas transexuais no cenário desportivo fomenta debates. As competições sempre foram baseadas em um modelo binário de segregação sexual (homens e mulheres). Essa divisão se fez necessária, visto que homens possuem vantagens biológicas quanto à resistência, força e velocidade, inviabilizando uma competição justa com o sexo oposto, já que os esportes demandam destas características para um bom desempenho atlético. Por muito tempo a população transexual foi excluída das competições desportivas, mas atualmente possuem autorização das organizações atléticas para competir, desde que cumpram os critérios de elegibilidade. O termo transexual se refere a pessoa que realiza a mudança de sexo, já o termo cisgênero diz respeito àqueles que se identificam com o gênero de nascença. Existem algumas características biológicas que estão intimamente ligadas ao sexo: os cromossomos, as gônadas, os hormônios, os órgãos genitais e as características sexuais secundárias. Portanto, hipotetizamos que possa haver permanência de características biológicas, e seus efeitos, após a mudança de sexo, importantes para o desempenho físico e atlético. Nesse sentido, ainda há controvérsia sobre a existência de diferenças biológicas e/ou cinesiológicas entre as adversárias cisexuais (cis) e transexuais (trans) importantes para o desempenho desportivo. Objetivo: Explorar através da revisão narrativa a diversidade do desempenho físico entre mulheres transexuais e cisexuais no contexto esportivo, considerando as diferenças biológicas e cinesiológicas. Metodologia: Foram realizadas buscas nas bases de dados Cochrane Library, Lilacs, Pubmed/Medline, Scielo, Scopus, SPORTDiscus e Web of Science. Os termos de busca foram: transexualidade e esporte/desempenho físico, considerando seus sinônimos. Os idiomas de busca serão o inglês, português e espanhol, sem restrição temporal. Discussão e conclusão: Algumas características atreladas ao sexo masculino reduzem após a transição masculino para feminino, mas não reduzem aos níveis femininos, o que pode acabar concedendo vantagem atlética às competidoras. Estas características incluem o comprimento e diâmetro ósseo, altura, peso corporal total, área muscular e força muscular. Apesar disso, as atletas trans não saem vencedoras em todas as competições que participam. No geral, as mulheres trans apresentaram menor tempo de corrida em comparação às mulheres cis. Na modalidade de levantamento de peso, as atletas trans acabam vencendo grande parte das competições, no entanto, há algumas em que seus desempenhos são facilmente superados, o que leva a incoerências que impossibilitam uma conclusão sólida.

Introduction: The participation of transgender athletes in the sports scenario fosters debates. Competitions have always been based on a binary model of gender segregation (men and women). This division was necessary, since men have biological advantages in terms of resistance, strength and speed, preventing fair competition with the opposite sex, since sports demand these characteristics for good athletic performance. For a long time, the transsexual population was excluded from sports competitions, but they currently have authorization from athletic organizations to compete, provided they meet the eligibility criteria. The term transsexual refers to a person who undergoes a sex change, while the term cisgender refers to those who identify with their birth gender. There are some biological characteristics that are closely linked to sex: chromosomes, gonads, hormones, genitals and secondary sexual characteristics. Therefore, we hypothesize that there may be permanence of biological characteristics, and their effects, after sex change, important for physical and athletic performance. In this sense, there is still controversy about the existence of biological and/or kinesiological differences between cissexual (cis) and transsexual (trans) opponents that are important for sports performance. Objective: To explore, through a narrative review, the diversity of physical performance among transsexual and cissexual women in the sports context, considering biological and kinesiological differences. Methodology: Searches were carried out in the Cochrane Library, Lilacs, Pubmed/Medline, Scielo, Scopus, SPORTDiscus and Web of Science databases. The search terms were: transsexuality and sport/physical performance, considering their synonyms. The search languages will be English, Portuguese and Spanish, with no time restriction. Discussion and conclusion: Some characteristics linked to the male sex reduce after the transition from male to female, but do not reduce to female levels, which may end up granting athletic advantage to the competitors. These characteristics include bone length and diameter, height, total body weight, muscle area, and muscle strength. Despite this, trans athletes do not win in all the competitions they participate in. Overall, trans women had shorter running times compared to cis women. In the weightlifting modality, trans athletes end up winning most of the competitions, however, there are some in which their performances are easily surpassed, which leads to inconsistencies that make a solid conclusion impossible.