A idade chega para todas as pessoas?: interlocuções entre trans-identidade de gênero, envelhecimento e serviço social

Abstract

O envelhecimento é um fator populacional que vem aumentando significativamente no Brasil e no mundo. Quando combinado a marcadores sociais, como gênero, classe, raça/etnia, território e outros, o envelhecimento pode estar relacionado a vulnerabilidades múltiplas. Neste sentido, apresentamos pessoas trans idosas (travestis, transexuais, transgêneras, não-binárias) como um grupo populacional exposto a um complexo processo de vulnerabilização, especialmente, pelas relações sociais estruturadas na desigualdade de gênero, cujas expressões mais evidentes são a desumanização e a produção de invisibilidade, que refletem em escassez de políticas de proteção social, conjuntura de violência transfóbica e baixa expectativa de vida. Nos parâmetros legais brasileiros são consideradas idosas aquelas pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, as quais a expectativa de vida é de aproximadamente 72 anos, em contrapartida, a expectativa de vida das pessoas trans no Brasil é de aproximadamente 35 anos de idade. Para entender esta realidade, nesta dissertação analisamos a produção de conhecimento acerca das especificidades do envelhecimento de pessoas trans e estabelecemos interlocuções com o Serviço Social através de pesquisa bibliográfica sistematizada. Como metodologia para a coleta de dados, organização e discussão dos resultados, utilizamos análise de conteúdo, tendo como referência marcos legais e conceituais utilizados no campo dos estudos de gênero e transfeminismos. A produção acadêmica brasileira e dos demais países de língua portuguesa se mostrou incipiente, entretanto, a literatura estrangeira em idioma inglês revelou que o envelhecimento da população trans é um tema que vem se consolidando nos últimos anos, tanto no campo conceitual, quanto nas políticas públicas e na área de abrangência do Serviço Social.

Abstract: Aging is a population factor that has been increasing significantly in Brazil and worldwide. When combined with social markers, such as gender, class, race/ethnicity, territory and others, aging may be related to multiple vulnerabilities. In this sense, we present elderly transgender people (transvestites, transsexuals, transgenders, non-binary) as a population group exposed to a complex process of vulnerability, especially by social relations structured on gender inequality, whose most evident expressions are dehumanization and the production of invisibility, which reflect in the scarcity of social protection policies, conjuncture of transphobic violence and low life expectancy. According to Brazilian legal parameters, elderly people are considered to be those aged 60 years old or more, whose life expectancy is approximately 72 years old; in contrast, the life expectancy of trans people in Brazil is approximately 35 years old. To understand this reality, in this dissertation we analyze the production of knowledge about the specificities of aging of trans people and establish interlocutions with Social Work through systematized bibliographic research. As methodology for data collection, organization and discussion of results, we used content analysis, having as reference legal and conceptual frameworks used in the field of gender studies and transfeminism. The academic production in Brazil and in other Portuguese-speaking countries was incipient, however, the foreign literature in English language revealed that trans population aging is a theme that has been consolidating in recent years, both in the conceptual field, in public policies, and in the field of Social Work.