Educação linguística, letramento e conhecimento: sobre a contraposição ou possibilidades de superação das contradições em dialética

Abstract

Neste estudo, por meio da abordagem epistemológica do Materialismo HistóricoDialético (MHD), tematizo criticamente a assunção dos Estudos do Letramento de viés social (EL) como teoria prioritária em propostas para Educação Linguística (EdL), a partir do questionamento de como essa teoria, neste momento histórico e da forma como se posicionam pedagogicamente em duas perspectivas de referência à formação de professores e, consequentemente, qual concepção de EdL prospecta. No processo de elaboração do objeto, busco compreender de que forma a teoria se constitui em sua origem na Antropologia Cultural (AC), abordando como os estudos antropológicos, gênese dos EL, entendem a noção de cultura hodiernamente e como tratam a multiplicidade cultural, destacando o modo de superação dessa multiplicidade ? e consequente superação do status quo. Em convergência com a questão inicial, o objetivo geral é identificar as concepções de educação linguística prevalentes ou em embate nas propostas pedagógicas hegemônicas ancoradas nos EL no Brasil. Encontro aporte nas teorizações de Ivo Tonet, Michel Löwy, Bogdan Suchodolski e Dermeval Saviani, entre outros, para o estabelecimento da crítica e, da área dos EL, me apoio em um dos principais nomes dos chamados Novos Estudos do Letramento (NEL), Brian Street, especialmente justificado em razão da preocupação demonstrada pelo autor em contemplar abordagens críticas do letramento de viés social. Articulo essas relações com análises pontuais de obras representativas para o campo, de autoria de Magda Soares e Angela Kleiman, cotejadas com outras autoras e autores do cenário brasileiro. Ao compreender a realidade histórica dos EL no país a partir das concepções de alfabetização e letramento ? estabelecendo relações, de uma parte, com o Essencialismo e o Existencialismo e, de outro, com o pensamento positivista e o pensamento historicista, identifico nesses vieses a prospecção de uma EdL de caráter adaptativo. Tais análises me levam a estabelecer três momentos distintos dos EL no país ? aos que denomino movimentos. Em especial, no terceiro movimento, momento histórico em que a os EL aportam práticas pedagógicas, articulada à gênese antropológica da teoria, pondero que, da forma como se posicionam pedagogicamente, aderindo à dimensão existencialista hegemônica nas instituições formativas. Realizo algumas reflexões sobre o necessário questionamento, a partir da contradição dialética, das perspectivas pedagógicas hegemônicas, o que me faz considerar, da ótica da educação, a importante e fundamental relação existente entre epistemologia, filosofia, teoria linguística, teoria pedagógica e, enfim, metodologia de ensino. Vejo como inicialmente possível a assunção de uma teoria pedagógica que responda de forma mais compatível à ideia de EdL crítica (BRITTO, 2012). Em elaboração de tese, problematizo as possibilidades de um movimento contra-hegemônico há muito visibilizado pelos EL a partir da assunção de outra perspectiva pedagógica, contra-hegemônica. Contudo, assumo a impossibilidade filosófica e teórica deste movimento, que exigiria um realinhamento não só da perspectiva pedagógica dos EL, mas também da filosófica. Portanto, dos limites éticos da ciência, seria uma proposição, no mínimo, frágil.

Abstract: In this study, through the epistemological approach of Historical-Dialectical Materialism (HDM), I critically discuss the assumption of Socially-Biased Literacy Studies (LS) as a priority theory in proposals for Language Education (LE), from the question of how this theory, at this historical moment, is pedagogically positioned in two perspectives in reference to teacher education and, consequently, what conception of LE it prospects. In the process of formulating the object, I seek to understand how the theory is constituted in its origin in Cultural Anthropology (CA), addressing how anthropological studies, the genesis of LS, understand the notion of culture today and how they deal with cultural multiplicity, highlighting the way of overcoming this multiplicity - therefore, overcoming the status quo. Converging with the initial question, the general aim of this study is to identify the conceptions of language education that prevail or clash with anchored hegemonic pedagogical proposals in LS in Brazil. I rely on the theories of Ivo Tonet, Michel Löwy, Bogdan Suchodolski and Dermeval Saviani, among others, for the establishment of the critique and, from the area of LS, I also rely on one of the main names of the New Literacy Studies (NLS), Brian Street, which is especially justified due to the author's concern in contemplating critical approaches to social literacy. I articulate these connections with specific analyses of representative works carried out by Magda Soares and Angela Kleiman with other authors from the Brazilian scenario in the same field. By understanding the historical reality of LS in the country from the standpoint of beginning literacy and literacy - establishing relations, on the one hand, with Essentialism and Existentialism and, on the other, with positivist and historicist thoughts, I identify in these biases the prospect of a LE that provides an adaptive character. Such analyses lead me to establish three distinct moments of LS in the country - which I call movements. In particular, in the third movement, the historical moment in which LS provide pedagogical practices, articulated to the anthropological genesis of the theory, I consider that, in the way they position themselves pedagogically, they join the hegemonic existentialist dimension in formative institutions. I give some thoughts about the relevant questioning, from the dialectic contradiction of the hegemonic pedagogical perspectives, which makes me consider, from the point of view of education, the important and fundamental relation among epistemology, philosophy, linguistic theory, pedagogical theory, and, finally, teaching methodology. I see the assumption of a pedagogical theory that responds in a more compatible way to the idea of critical LE (BRITTO, 2012) as initially possible. As I develop my thesis, I problematize the possibilities of a counter-hegemonic movement that has long been made visible by LS from the assumption of a different, counter-hegemonic pedagogical perspective (SAVIANI, 2013[1991]). However, I assume the philosophical and theoretical impossibility of this movement, which would require a realignment not only of the pedagogical perspective of LS, but also of the philosophical one. Therefore, from the ethical limits of science, I finally consider it to be a proposition that would be fragile in some extent.