Relatos de segunda-feira: os discursos sobre as/das mulheres cisgênero e o dispositivo microprotético DIU

Abstract

De modo transdisciplinar, estimado pelos estudos do campo discursivo e pela Linguística Aplicada (LA) Contemporânea e fundamentada sob a mirada arqueogenealógica foucaultiana, esta pesquisa objetiva analisar os discursos produzidos sobre as/das mulheres cisgênero que inseriram (ou que pretendem inserir ou que tentaram e não conseguiram) o Dispositivo Intrauterino (DIU) de cobre, especificamente. Para isso, metodologicamente, duas vias de análise, que se encontram e se deslocam, são traçadas. A primeira via percorre os discursos documentados das políticas públicas de saúde para mulheres (sobretudo, nacionais e, por vezes, municipais ? de Florianópolis), de 1920 a 2019, que se direcionam para os direitos reprodutivos e as contracepções. Essas políticas são problematizadas enquanto dispositivos ambíguos que, ora podem ser positivadas pela visibilidade que dão às mulheres e a seus direitos, ora podem ser lidas como discursos médicos-científicos-jurídicos que respondem a estratégias de uma governamentalidade biopolítica e que produzem modos normativos de subjetivação. São considerados, ainda nessa via de análise, os deslocamentos discursivos das lutas feministas e de demais movimentos sociais e o açambarcamento de dispositivos (da pílula anticoncepcional, da sexualidade, de gênero, da maternidade e, também, do DIU). A segunda via, a partir de entrevistas semiestruturadas, analisa os discursos dos protagonistas da relação médico-enfermeiro-paciente. Como ponto de partida dessa via, o Serviço de Atendimento à Saúde da Comunidade Universitária (SASC), do Hospital Universitário (HU) Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi selecionado, entendendo-o como um microespaço, e o corpus que compõe essa via é formado por um médico ginecologista-obstetra, por uma técnica em enfermagem e por 13 mulheres autodeclaradas cisgênero. Com as análises empreendidas e com as regularidades discursivas apontadas, defende-se o funcionamento do dispositivo microprotético DIU, que, em agonística, está alçado a efeitos de liberdade, de natureza e de empoderamento às mulheres que aderem a ele, ao mesmo tempo que produz, nelas, processos de objetivação e de subjetivação, os quais, na interface tecno-orgânica da era farmacopornográfica, engendram tecnocorpos e biocódigos de gênero, ambos efeitos tecnobiodiscursivos.

Abstract: In a transdisciplinary approach, modeled both by studies of the discursive field and Contemporary Applied Linguistics (AL) and based on the Foucaultian archaeo-genealogical perspective, this research aims to analyze the discourses produced about cisgender women who have had IUD insertion (as well as who either intend to have it done or who have tried it and failed) the copper Intrauterine Device (IUD) specifically. To this end, methodologically, two different approaches, which meet and move, are traced. The first route runs through the documented discourses of public health policies for women (mainly national and sometimes municipal ? in Florianópolis), from 1920 to 2019, which address reproductive rights and contraception. These policies are problematized as ambiguous devices that, at times, can be positive by the visibility they give to women and their rights, and at times can be read as a medical-scientific-legal discourse that responds to strategies of biopolitical governmentality and that produces normative modes of subjectivation. Also considered in this approach are the discursive shifts of the feminist revolution and other social movements, as well as the hoarding of devices (the contraceptive pill, sexuality, gender, maternity, and also the IUD). The second approach, based on semi-structured interviews, analyzes the speeches of the protagonists of the doctor-nurse-patient relationship. As a starting point for this approach, the University Community Health Care Service (SASC), of the University Hospital (HU) Professor Polydoro Ernani de São Thiago, of the Federal University of Santa Catarina (UFSC), was selected, understanding it as a micro space, formed by a gynecologist-obstetrician, a nursing technician and 13 self-declared cisgender women. With the analyzes undertaken and the discursive regularities pointed out, the functioning of the IUD microprosthetic device is endorsed, which, in agonistic terms, emphasizes freedom, nature, and empowerment of women who adhere to it, while producing, in them, processes of objectification and subjectivation, which, in the techno-organic interface of the pharmacopornographic era, engender technobodies and gender bio codes, both technobiodiscursive effects.