Fatores cognitivos do compartilhamento do conhecimento em uma organização intensiva em conhecimento: uma abordagem à luz da teoria do comportamento planejado

Abstract

O compartilhamento do conhecimento figura como um dos pilares centrais da gestão do conhecimento. Diversas perspectivas teóricas têm sido utilizadas como prisma conceitual para compreendê-lo enquanto processo social complexo. As pesquisas cujo foco são os antecedentes do compartilhamento do conhecimento apresentam a teoria do comportamento planejado (TCP) como uma das mais utilizadas. A TCP se propõe a prever e explicar comportamentos a partir do estudo da intenção comportamental. A intenção de compartilhar conhecimento possui como preditores as atitudes, normas subjetivas e controle comportamental percebido. Subjacentes a estes construtos, há um sistema de crenças que responde pela estrutura cognitiva que associará o comportamento a um resultado ou a algum outro elemento envolvido na realização do comportamento. A partir dessa lente teórica, foi realizado um estudo de caso em uma empresa de consultoria sediada na região de Florianópolis (Santa Catarina), o qual teve como objetivo geral compreender os fatores cognitivos que formam a intenção de compartilhar conhecimento entre os profissionais que atuam em uma organização intensiva em conhecimento. A visão de mundo interpretativista orientou a realização de uma pesquisa qualitativa, cujo método de coleta de dados foram as entrevistas em profundidade. As evidências empíricas foram codificadas e analisadas por meio do processo de análise temática proposto por Braun e Clarke (2006). A estrutura final de códigos e temas permitiu dar significado às falas dos entrevistados à luz da TCP e contribuir com a compreensão do fenômeno a partir do nível de análise individual. Os resultados desta pesquisa são consistentes com estudos prévios e apontam para (1) a importância percebida da interação entre a equipe para o compartilhamento do conhecimento; (2) a construção da imagem e da reputação foi identificada como uma consequência esperada ao compartilhar conhecimento. Esta crença foi associada tanto a resultados positivos, como melhoria da imagem e reputação, quanto a resultados negativos provenientes do medo de críticas ou julgamentos; (3) a expectativa de feedback, compreendido como um retorno dos demais sobre o conhecimento compartilhado através da agregação de outros conhecimentos; (4) o senso de importância decorrente do compartilhamento de conhecimentos é atributo valorizado e desejado pelos consultores e, portanto, fundamenta atitudes positivas em relação ao comportamento; (5) a cultura de aprendizagem demonstra a disposição para aprender e ensinar como elementos necessários ao processo de desenvolvimento individual, coletivo e construção de uma equipe colaborativa; (6) o capital social foi identificada como formador de crenças normativas importantes para o compartilhamento do conhecimento e fundamentado em laços sociais, confiança, trabalho em equipe e objetivos compartilhados; (7) a falta de tempo foi demonstrada como um limitador da ocorrência do compartilhamento do conhecimento e associada à redução das interações entre a equipe; (8) as TICs foram percebidas como elementos facilitadores do compartilhamento do conhecimento porque promovem e agilizam as interações, além de sobreporem as distâncias físicas decorrentes da organização do trabalho da equipe.

Abstract: Knowledge sharing is one of the central pillars of knowledge management. Several theoretical perspectives have been used as a conceptual prism to understand it as a complex social process. Research focusing on the antecedents of knowledge sharing presents the theory of planned behavior (TPB) as one of the most widely used. TPB proposes to predict and explain behaviors from the study of behavioral intention. The intention to share knowledge has as predictors the attitudes, subjective norms and perceived behavioral control. Underlying these constructs is a belief system that accounts for the cognitive structure that will associate behavior with an outcome or some other element involved in the behavior's accomplishment. From this theoretical lens, a qualitative case study was carried out in a consulting company based in Florianópolis (Santa Catarina), whose general objective was to understand the cognitive factors that form the intention to share knowledge among professionals working in a knowledge intensive organization. The interpretive worldview guided the conduction of a qualitative research, whose data collection method was the in-depth interviews. Empirical evidence was coded and analyzed through the thematic analysis process proposed by Braun and Clarke (2006). The final structure of codes and themes allowed us to give meaning to the interviewees' statements in the light of TPB and contribute to the understanding of the phenomenon from the level of individual analysis. The results of this research are consistent with previous studies and point to (1) the perceived importance of team interaction for knowledge sharing; (2) image and reputation building has been identified as an expected consequence of sharing knowledge. This belief has been associated with both positive outcomes, such as improved image and reputation, as well as negative outcomes from fear of criticism or judgment; (3) the expectation of feedback, understood as a feedback from others about shared knowledge through the aggregation of other knowledge; (4) the sense of importance arising from knowledge sharing is an attribute valued and desired by consultants and, therefore, underpins positive attitudes towards behavior; (5) the learning culture demonstrates the willingness to learn and teach as necessary elements for the process of individual, collective development and building a collaborative team; (6) social capital has been identified as forming important normative beliefs for knowledge sharing and based on social ties, trust, teamwork and shared goals; (7) lack of time has been shown to limit the occurrence of knowledge sharing and associated with reduced team interactions; (8) ICTs were perceived as facilitating elements of knowledge sharing because they promote and expedite interactions, in addition to overlapping physical distances resulting from the team's work organization.