Abstract:
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A inflamação periapical decorrente da necrose pulpar pode resultar no surgimento de lesões crônicas, como os cistos radiculares (CR); e a extração do dente necrosado sem a correta remoção do CR poderia dar origem a um cisto residual (CRE). O mecanismo exato de manutenção desta lesão é pouco conhecido, mas estudos anteriores demonstram que o epitélio cístico de CRE apresenta redução da capacidade proliferativa em relação ao CR, e uma das possíveis explicações seria a redução do estímulo inflamatório decorrente da extração dental. Diante disso, o propósito desta pesquisa foi investigar a influência do processo inflamatório na taxa de proliferação celular do epitélio cístico de cistos radiculares (CRs) e residuais (CREs). A amostra do estudo foi composta por 29 CRs e 8 CREs advindas do Laboratório de Patologia Bucal da Universidade Federal de Santa Catarina (LPB-UFSC). O grau de intensidade do infiltrado inflamatório foi classificado em ausente (0-10), leve (11-25), moderado (26-65) e severo (>65), com base na mediana de cinco campos consecutivos, obtida da contagem de células inflamatórias presentes na cápsula cística. A taxa de proliferação do epitélio de revestimento dos cistos foi realizada pela avalição imuno-histoquímica do antígeno de proliferação Ki-67. O índice proliferativo foi obtido, para cada caso, pela média de células positivas para Ki-67, caracterizadas pela coloração castanha no núcleo, a partir da contagem de 1000 células epiteliais em 10 campos consecutivos, realizada com auxílio do software NIH ImageJ 1.45q (National Institutes of Health, Bethesda, MD, EUA). Para a comparação entre os grupos, na análise estatística, o nível de significância foi estabelecido em P≤0,05. A avalição clinica dos casos demostrou um discreto predomínio por homens (1.6;1), maior número de lesões em maxila (2.77 vezes maior do que na mandíbula) e idade média de 48 anos (CR: 46±14.7; CRE: 52±11.3). A média de células Ki-67 positivas em CR e CRE foi de 5.12 e 3.29, respectivamente, contudo não houve diferença estatística através do teste de Mann-Whitney (P=0.625). A expressão de KI-67 foi maior em graus mais severos de inflamação, entretanto, através do teste de Kruskal-Wallis não foi encontrada diferença estatística (P = 0.129); O teste de Spearman também não mostrou correlação entre o número de células inflamatórias e a expressão de Ki-67; A respeito da severidade do processo inflamatório, observou-se predomínio do grau de inflamação severo nas amostras de CR (90%), enquanto que em CRE ocorreu maior frequência de casos com inflamação leve (57%). Na associação entre grau do infiltrado inflamatório e o tipo de lesão (CR vs CRE), observou-se que o valor médio referente à contagem de células inflamatórias em CR (84.10) foi superior aos valores de CRE (27.8), havendo diferença estatística através do teste de Mann-Whitney (P = 0.039); Os CRs apresentaram-se mais inflamados do que CREs, e isso pode ser explicado pela cessação do estímulo inflamatório decorrente da extração dentária. Entretanto, não foi possível observar associação estatística entre o potencial proliferativo do epitélio destas lesões e a intensidade do infiltrado inflamatório. Dessa maneira, outros fatores, além do número total de células inflamatórias presentes na cápsula cística, podem estar envolvidos no mecanismo molecular destas lesões. |