Title: | Discursos sobre a língua (portuguesa) em Timor-Leste: entre colonialismos e resistências |
Author: | Silveira, Alexandre Cohn da |
Abstract: |
Este estudo foca a realidade pluricultural e multilíngue de Timor-Leste com situação histórica pós-colonial e pós-conflito. O objetivo central é analisar o processo de discursivização sobre a língua portuguesa em Timor-Leste dentro de uma espécie de jogo de poder(es) , buscando destacar e entender o papel político-linguístico do idioma no país. Confronto os discursos existentes relativos à presença da língua portuguesa em Timor-Leste, enfocando três momentos históricos principais: o período colonial português, a invasão indonésia e o período democrático de Timor-Leste independente, não me prendendo a uma linearidade cronológica. Discuto o papel político da língua portuguesa, apresentada por enunciados discursivos como língua colonial , língua de resistência e língua oficial , na constituição daquilo que defendo como dispositivo de poder (AGAMBEN) em Timor-Leste. São discutidos também os discursos em torno do colonialismo , nação e nacionalismo , tradição e identidade , uma vez que sustentam o jogo de poder acerca da língua portuguesa no país, a reboque dos projetos políticos vigentes. O enfoque nos estudos das Políticas Linguísticas Críticas é em grande parte conduzido por Makoni e Pennycook, Ricento, Shohamy, Blackledge e, mais especificamente, no que diz respeito aos estudos sobre Ideologias Linguísticas. Por se tratar de uma discussão interdisciplinar, outras áreas do conhecimento contribuem para um diálogo mais profícuo, tais como a filosofia política no tocante à perspectiva foucaultiana de discurso, governamentalidade, poder e crítica (FOUCAULT); a Sociologia, no que diz respeito à ideia de mercados linguísticos, capital simbólico e cultural, campo e habitus (BOURDIEU); e a contribuição dos chamados estudos pós-coloniais (BHABHA; SAID; ANDERSON; SPIVAK) e dos estudos decoloniais (QUIJANO). Esta tese assume a língua como prática. Inscrevo, também, minha investigação no viés crítico tal como explica Foucault e, no que tange às questões específicas de Timor-Leste, recorro a especialistas no assunto como Costa, Leach, Roque, entre outros. Nos três anos de atuação em timor, coletei depoimentos e entrevistei inúmeros timorenses, de variados graus de instrução e background cultural cujas falas registradas, somadas às anotações em meus cadernos de campo servem de base para a análise desenvolvida. Também um vasto material coletado em Timor-Leste participou do trabalho, incluindo materiais de ensino, documentos oficiais de órgãos do governo e de organizações não governamentais, biografias e cartas de personalidades de destaque na história do país, reportagens locais e internacionais e acervos documentais do Arquivo e Museu da Resistência Timorense, em Díli. Do período de doutorado sanduíche realizado em Portugal recolhi importante material bibliográfico e documental junto a diversos acervos portugueses, consistindo em importante material este que participa, direta e indiretamente das análises realizadas nesta tese. Como considerações principais, destaco que a língua é um dispositivo de poder valioso que opera discursos diversos, mobilizando capitais simbólicos, atuando através de inúmeros agentes e em diferentes campos sociais, culminando num diversificado habitus linguístico dos indivíduos timorenses. A língua portuguesa não é apenas uma língua colonial, apesar de também se configurar como tal. Os discursos coloniais também são operados pela língua tétum diante das inúmeras línguas locais existentes. O discurso de que é a língua portuguesa a língua de resistência, configurasse como problemático, ainda que como tal essa língua tenha operado, entretanto foi o tétum um grande protagonista de resistência na história de Timor-Leste, inclusive no período da invasão indonésia. Tanto a língua portuguesa quanto a língua tétum provocam outras manifestações de resistências linguísticas, próprias dos processos homogeneizadores das culturas e dos povos. Os colonialismos e as resistências linguísticas de Timor-Leste operam o dispositivo da língua em favor de movimentos de poder, externos e internos, seguindo a lógica dos dispositivos de capturar indivíduos em nome de emergências criadas por esses movimentos de poder, mesmo operando em universos de organização de saberes e conhecimentos muito peculiares da cultura local. Abstract : This study focuses on the pluricultural and multilingual reality of Timor-Leste with a post-colonial and post-conflict history. The main objective is to discuss the process of discursivization of a Portuguese language in Timor-Leste, within a kind of power game highlighting and understanding the political-linguistic role of the language in the country. I confront the existing discourses concerning the presence of the Portuguese language in Timor-Leste, focusing on three main historical moments: the Portuguese colonial period, the Indonesian invasion and the democratic period of independent Timor-Leste, not clinging to a chronological linearity. I discuss the political role of the Portuguese language, presented by discursive statements as \"colonial language\", \"language of resistance\" and \"official language\", in the constitution of what I advocate as an apparatus of power (AGAMBEN) in Timor-Leste. The discourses around colonialism, \"nation\" and \"nationalism , tradition and \"identity\" since they support the power game involving the Portuguese language in the country according to the current political orientations. Because it is an interdisciplinary discussion, other areas of knowledge contribute to a more fruitful dialogue, such as political philosophy - with regard to Foucault's perspective of discourse, governmentality, power and criticism (FOUCAULT); Sociology which is related to the idea of linguistic markets, symbolic and cultural capital, field and habitus (BOURDIEU); and the contribution of so-called postcolonial studies (BHABHA; ANDERSON; SPIVAK,) and the decolonial studies (QUIJANO). This thesis assumes language as a social practice. I also subscribe to my research on the critical bias as explained by Foucault and, with regard to the specific issues of Timor-Leste, I turn to experts on the subject such as Costa, Leach, Roque, among others. In the three years of acting in Timor, I collected testimonies and interviewed countless Timorese people from different degrees of instruction and cultural background whose recorded speeches, added to the notes in my field notebooks, serve as the basis for the analysis developed. As well as, a wide range of material collected in Timor-Leste took part of the work, including teaching materials, official documents of government agencies and nongovernmental organizations, biographies and letters of prominent personalities in the country's history, local and international reports, and documentary collections of the Archive and Museum of East Timorese Resistance in Dili. From the doctoral period in Portugal, I collected important bibliographical and documentary material from several Portuguese collections, consisting of important material that participates, directly and indirectly, in the analyzes carried out in this thesis. As main considerations, I emphasize that language is a valuable power apparatus that operates many discourses, mobilizing symbolic capitals, acting through innumerable agents and in different social fields, culminating in a diversified linguistic habitus of the Timorese individuals. The Portuguese language is not only a colonial language, although it is also configured as such. The colonial speeches are also operated by the Tetum language in front of the numerous existing local languages. The discourse that the Portuguese language is \"the\" language of resistance, configured as problematic, although this language has operated as such. However was the Tetum a great protagonist of resistance in the history of Timor-Leste, including the period of the Indonesian invasion. Both the Portuguese language and the Tetum language provoke other manifestations of linguistic resistance, characteristic of the homogenizing processes of cultures and peoples. Timor-Leste's colonialisms and linguistic resistances operate the language apparatus in favor of external and internal power movements, following the logic of the apparatus of capturing individuals in the name of emergencies created by these movements of power, even operating in universes of knowledge organization very peculiar to the local culture. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, 2018. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/198268 |
Date: | 2018 |
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PLLG0738-T.pdf | 2.444Mb |
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