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O presente trabalho trata do futebol amador, modelo praticado em bairros urbanos, comunidades rurais, clubes populares, configurando um esporte em sua radicação local, aparentemente subterrânea, pouco visível, se considerarmos a importância material e simbólica da prática profissional. Tomando como situação exemplar a cidade de Florianópolis, o objetivo foi identificar, descrever e analisar sentidos e significados atribuídos à pratica de futebol não profissional, apontando os principais deslocamentos em relação à versão universalista deste fenômeno esportivo. Tal escopo desdobra-se em questões norteadoras relacionadas às sociabilidades, trânsitos entre amadorismo e profissionalismo, relações de poder e pertencimento comunitário. Para responder o mote central do estudo, a investigação foi realizada por meio de etnografia com observações participantes (registradas em diário de campo por via escrita e imagética); análise documental de arquivos dos clubes e documentos da Liga Florianopolitana de Futebol, como regulamentos de competições, relatórios de atividades, fichas de inscrições dos times das diferentes categorias, atas das reuniões da Liga e relatórios da comissão de arbitragem; e também de questionários e entrevistas semiestruturadas com personagens que compõem o cenário dos clubes (árbitros, atletas, comissão técnica e dirigentes). A análise dos dados, de natureza qualitativa e quantitativa, foi realizada por meio de categorias ou conceitos articuladores que cruzaram os objetivos da pesquisa e as expressões do objeto investigado. A partir de episódios de casos emblemáticos e típicos, construímos narrativas que contemplassem as demais questões presentes no cenário do futebol não profissional de Florianópolis, relatando casos concretos na forma de 4 Episódios, seguidos das categorias: a) Futebol no plural: entre a pelada e o profissional; b) A relação clube comunidade: o alento do resgate, repatriação e reconfiguração; c) Eles são do bairro, porém não são daqui : todos iguais, mas uns mais iguais que os outros; d) Trânsitos, projetos e sentidos. Os temas abordados estão interligados e perpassam as diferentes categorias com enfoques diferentes, imbricados em uma teia de relações complexas, demarcadas por rupturas, deslocamentos e similitudes. Tendo como fio condutor a tensão colocada na cidade e presente no discurso nativo ser daqui ou de fora percebe-se que tanto do ponto de vista dos clubes quanto dos atletas, os sentidos e os significados se movem entre a performance e a sociabilidade. Na teia de significações, o futebol não profissional acaba atuando como lugar aglutinador de diferentes projetos e temporalidades. O itinerário de passado, presente e futuro torna o futebol não profissional uma espécie de consequência, uma maneira de se manter no campo do futebol partilhando seus ganhos materiais e simbólicos. Mesmo com diferenças internas, embora espelhado no modelo profissional, há uma interdependência dos clubes que constituem o futebol não profissional na cidade. Ainda há clubes comunitários que representam espaços de lazer e de sociabilidade para além da prática do futebol (festas, almoços, bingos), entretanto, operam separadamente no cotidiano das associações e que não necessariamente se conciliam, já que o futebol é uma coisa, a comunidade é outra, bem diferente . Dentre as considerações finais, ponderando as singularidades do campo, percebe-se que são imagens dissonantes, não se constituindo como fragmentos, mas como imagens que se complementam, ou seja, são vários futebóis que compõem o futebol não profissional de Florianópolis. |
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