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Este estudo teve como objeto de pesquisa as políticas e os processos de formação continuada de professores, presentes na implantação da EFPPF- Escola de Formação Permanente Paulo Freire. O processo em pauta ocorreu na rede municipal de ensino de Blumenau, (SC), no período de 1997-2004, como parte da política Escola Sem Fronteiras, criada por um governo popular. A problemática inscreve-se no contexto dos avanços, retrocessos e rupturas que ocorrem nos processos educacionais, quando da alternância de governos e mudanças de gestão na educação. Partiu-se do pressuposto que a formação de professores, para a melhoria da qualidade da educação não se efetiva sem a participação destes como sujeitos envolvidos na concepção das políticas voltadas para sua qualificação, da mesma forma que não se constitui um grupo hegemônico e com solidez teórica para enfrentar a cultura de ruptura presente nesses processos. Desse modo, a teoria, como conhecimento que embasa a prática e a prática que, por sua vez, alimenta as possibilidades de ampliação teórica, exige constante relação entre pensamento e ação, em busca de autonomia intelectual. Assim, o estabelecimento de processos de formação continuada traz também implicações sobre a caracterização da profissão, a constituição da identidade docente e o respeito às singularidades dos sujeitos, o que exige considerar, inclusive, a relação da consciência dos indivíduos com a totalidade da sociedade e o reconhecimento das condições presentes naquele contexto histórico. É na visão retrospectiva do investigador que não participou da ação que determinados fatos históricos podem assumir mais clareza. O principal objetivo da pesquisa foi, portanto, compreender como foram concebidas, implementadas e avaliadas tais políticas, levando em conta que um governo popular tem suas diretrizes ancoradas nos princípios democráticos de participação, autonomia e emancipação dos sujeitos envolvidos nos processos de formação. A pesquisa se desenvolveu em uma perspectiva histórico-cultural, procurando compreender as possibilidades que os professores tiveram para construir seu conhecimento numa perspectiva de práxis - relação teoria e prática, e principalmente se esses processos possibilitaram a constituição de um coletivo pensante de educadores. Foram tomados como dados empíricos: a documentação relativa à EFPPF disponível no Memorial da Educação de Blumenau, um questionário aplicado a professores que atuaram como formadores na EFPPF em seu período de vigência, e notícias veiculadas pela mídia em Blumenau no período em estudo. Não obstante o histórico de uma cultura de avanços e retrocessos, presentes em trocas de governo e alternância de poder, o movimento de formação continuada na EFPPF teve relevância por suas características de vanguarda, tendo como diferencial a carga horária semanal dedicada aos estudos, espaço especialmente projetado para esse fim, bem como os propósitos de garantia do acesso, permanência e sucesso dos alunos na escola. Do mesmo modo que a EFPPF teve seu início a partir de rupturas que marcaram um período de transição de governo, teve seu fim instituído na transição do governo seguinte. A atitude passiva, a falta de manifestação expressiva acerca dos avanços sinalizados pela existência desta escola de formação de professores, bem como a ausência de reivindicação de direitos conquistados representam indícios de fragilidade do coletivo, resistências, desconhecimento de parte dos professores sobre as concepções e conceitos que embasaram as políticas, evidenciando sentimentos de falta de pertencimento a uma classe. Configura-se, portanto, ainda, um quadro de dificuldades históricas dos professores em se constituírem como sujeitos do processo de constituição das políticas educacionais. |
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