O poder do canto ou canto do poder?: um olhar sobre o uso do canto como prática pedagógica no estado de Santa Catarina num contexto autoritário (1937-1945)

Abstract

Este trabalho apresenta o enfoque dado ao Canto Orfeônico, utilizado como um saber escolarizado nas práticas pedagógicas em vigência em Santa Catarina, notadamente no período do Estado Novo. Foi exigido por meio de decretos e leis que os escolares cantassem musicas nacionalistas em salas de aulas e cerimônias cívicas. Para aplicar e fiscalizar essas medidas legais contou-se com a atuação dos inspetores. Eles representaram os ideais nacionalistas impondo a cultura e tradições brasileiras, durante as visitas escolares. O Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas, João dos Santos Areão foi o encarregado de sistematizar e coordenar o Canto Orfeônico. Ele defendia a idéia de que essa música contribuiria para moldar na alma infantil o espírito de civismo. Formou orfeões e compôs algumas canções patrióticas. Para que a escola cumprisse sua missão foi necessária uma formação adequada para habilitar professores nacionalistas a levar o canto e conteúdos patrióticos a todas as regiões do Estado. A música foi utilizada no currículo de formação inicial e continuada de professores, para torná-los aptos a transmitir esse conhecimento. A coleta de informações ocorreu por meio de entrevistas semi-estruturadas de protagonistas que vivenciaram aquele momento e documentos encontrados em arquivos pessoais e nos órgãos oficiais do Estado. Estes dados foram analisados na clave das representações.