Associação entre terapia nutricional com a funcionalidade de adultos e idosos na alta de uma Unidade de Terapia Intensiva

Abstract

Introdução: Pacientes críticos caracterizam-se pelo alto risco de morte e necessidade de atendimento contínuo. Catabolismo exacerbado, imobilidade no leito afetam as estruturas musculares comprometendo a funcionalidade, dificuldade em realizar atividades que vão desde o autocuidado até atividades de força e mobilidade. O fornecimento de nutrientes exógenos por meio da Terapia Nutricional (TN) ajuda a mitigar o estado catabólico, no entanto, o impacto da TN na funcionalidade dos pacientes críticos ainda é incerto. Objetivo: Verificar a associação entre TN e funcionalidade de indivíduos adultos e idosos na alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Métodos: Estudo de coorte, prospectivo, em uma UTI mista, com adultos e idosos internados por tempo = 72h, com prescrição de nutrição enteral (NE) e/ou nutrição parenteral (NP). Foram coletados dados demográficos, clínicos e bioquímicos. A antropometria ocorreu na admissão, por meio da altura, peso, circunferência do braço (CB) e circunferência da panturrilha (CP). As medidas de CB e CP foram repetidas na alta da UTI. Os dados de TN (via de administração, tempo para início, oferta de energia e proteína) foram coletados nos 10 primeiros dias de internação na UTI ou até a alta desta unidade, se < 10 dias. Os desfechos de funcionalidade foram avaliados na alta da UTI, por meio do ângulo de fase (AF), Força de Preensão Manual (FPM) e Escala de Estado Funcional para UTI (FSS-ICU). Regressão logística bruta e ajustada foram realizadas para as associações entre TN e desfechos de funcionalidade com nível de significância de 95% (p<0,05). Resultados: Foram incluídos 57 participantes, homens na sua maioria (70%), com idade mediana de 48 anos. A ingestão média de energia e proteína nos primeiros 10 dias foi de 12,2 [7,9; 14,3]?? kcal/kg/dia e 0,81 [0,64; 1,00]? g/kg/dia, respectivamente. A prevalência de baixa funcionalidade foi alta pelo AF, com 73,2% (AF: < 6°), pela FPM (< 11kgf para homens e < 7kgf para mulheres) 55,3% da amostra e pelo FSS-ICU de 84,2%. Não houve associação na análise ajustada entre TN e funcionalidade avaliada pelo AF e FSS-ICU. Com relação à FPM, observou-se que aqueles pacientes que iniciaram a TN de forma precoce (= 48h internação) apresentaram maiores chances de ter funcionalidade inadequada (OR: 7,02; IC95%: 1,43-34,39; p=0,016). Ainda, maior ingestão de energia e proteína entre 4º e 10º dia estiveram positivamente associadas à funcionalidade inadequada (p<0,05). Maior tempo de ventilação mecânica (VM) e de internação estiveram associados à baixa funcionalidade na alta. Conclusão: A prevalência de baixa funcionalidade na alta da UTI foi elevada, independente da ferramente utilizada (AF, FPM e FSS-ICU). A TN precoce e maior oferta de energia e proteina, sobretudo após 4ª dia estiveram associados a funcionalidade inadequada. Fazem se necessários novos estudos, com amostras maiores, para melhor compreesão da relação entre TN e funcionalidade em UTI.

Abstract: Introduction: Critically ill patients are characterized by a high risk of mortality and a need for continuous medical care. Exacerbated catabolism and prolonged bed rest negatively impact muscle structure, compromising functionality and leading to difficulties in performing activities ranging from self-care to tasks requiring strength and mobility. The provision of exogenous nutrients through Nutritional Therapy (NT) helps mitigate the catabolic state; however, the impact of NT on the functionality of critically ill patients remains uncertain. Objective: To assess the association between NT and functionality in adult and elderly individuals at discharge from the Intensive Care Unit (ICU). Methods: This was a prospective cohort study conducted in a mixed ICU, including adults and elderly patients hospitalized for =72 hours with a prescription for enteral nutrition (EN) and/or parenteral nutrition (PN). Demographic, clinical, and biochemical data were collected. Anthropometric measurements were taken at ICU admission, including height, weight, mid-upper arm circumference (MUAC), and calf circumference (CC). MUAC and CC were reassessed at ICU discharge. NT data (route of administration, time to initiation, energy and protein delivery) were collected for the first 10 days of ICU stay or until ICU discharge if <10 days. Functional outcomes were evaluated at ICU discharge using phase angle (PA), handgrip strength (HGS), and the Functional Status Score for the ICU (FSS-ICU). Both crude and adjusted logistic regression analyses were performed to examine associations between NT and functional outcomes, with a significance level set at 95% (p<0.05). Results: A total of 57 participants were included, predominantly male (70%) with a median age of 48 years. Mean energy and protein intake during the first 10 days was 12.2 [7.9; 14.3] kcal/kg/day and 0.81 [0.64; 1.00] g/kg/day, respectively. The prevalence of low functionality was high: 73.2% based Additionally, higher energy and protein intake between the 4th and 10th days of ICU stay were positively associated with reduced functionality (p<0.05). Longer durations of mechanical ventilation and ICU stay were also associated with poor functionality at discharge. Conclusion: The prevalence of reduced functionality at ICU discharge was high, regardless of the assessment tool used (PA, HGS, or FSS-ICU). Early NT initiation and higher energy and protein delivery, particularly after day 4, were associated with lower functional outcomes. Further studies with larger sample sizes are warranted to better understand the relationship between NT and functionality in critically ill patients.