A formação de professores de geografia na Guiné­-Bissau: permanências e rupturas da colonialidade na prática docente

DSpace Repository

A- A A+

A formação de professores de geografia na Guiné­-Bissau: permanências e rupturas da colonialidade na prática docente

Show full item record

Title: A formação de professores de geografia na Guiné­-Bissau: permanências e rupturas da colonialidade na prática docente
Author: Silva, Marcelo da
Abstract: A pesquisa que dá origem a esta tese trata da Educação da/na Guiné-Bissau, país localizado na costa ocidental africana, colonizado por cinco séculos pelos, que foi utilizada como estratégia de dominação colonial. Neste sentido, a pesquisa procura responder como ocorre a perpetuação dos saberes coloniais e a reprodução de práticas pedagógicas colonizadoras no ensino da Geografia na Guiné-Bissau e quais são as possíveis rupturas como forma de resistência sobre o colonialismo português? Além disso, apresento uma possibilidade de ensino de uma Geografia Decolonial. Neste estudo, adotei uma abordagem metodológica centrada na observação solidária, empática e co-construtiva, centrada no participante, no qual, os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e aplicados questionários estruturados a professores e estudantes guineenses. A Análise de Conteúdo, foi ancorada em Bardin (2011), agrupando os relatos dos interlocutores em três Eixos: 1) Formação de professores de Geografia; 2) Permanências e rupturas da colonialidade na prática docente na percepção dos professores; 3) Permanências e rupturas da colonialidade na prática docente na percepção dos alunos. Seus relatos/percepções e respostas constituem-se como matéria prima na realização das análises, em cotejamento com as lentes teóricas de epistemologia decolonial, utilizadas, como Fanon (2008), Freire (1978 e 1987), Sané (2019) e Meneses (2010; 2014; 2018). A partir das análises, identifiquei que os professores de Geografia da Guiné-Bissau, possuíam um currículo de formação desconectado das suas principais realidades e necessidades, sendo criado inicialmente na modalidade bacharelado de forma concomitantes ao curso de história pelos Soviéticos, onde era priorizado a Geografia física. No decorrer da pesquisa, participei da equipe que criou o primeiro Curso de Licenciatura em Geografia do país, no qual buscamos conectar as realidades e necessidades guineenses. Com relação a análise das permanências e rupturas nas práticas dos docentes na atualidade, verifiquei que a perpetuação está ligada principalmente às práticas opressoras, com a manutenção manipulação de castigos e punições por parte dos professores. Percebi que a maior parte dos professores de Geografia na Guiné-Bissau utilizam métodos de ensino que privilegiam a memorização de informações e conceitos em detrimento daqueles que possibilitam a aplicação de uma educação libertadora e emancipatória. Nessa esteira de pensamento, desenvolvi a categoria das Crenças Pedagógicas Coloniais, definida como um conjunto de ideias, valores e práticas educacionais estabelecidas durante os períodos de colonização por parte das nações europeias em suas colônias, que refletem as perspectivas e os interesses dos colonizadores, promovendo a superioridade cultural e intelectual eurocêntrica em detrimento das culturas e dos conhecimentos dos povos originários. Na busca pelas rupturas, constatei que elas estão interligadas diretamente a cultura, nas escolas, alunos e professores valorizam as suas línguas nativas, principalmente crioula, pois é a que une os povos guineenses. Por mais que seja proibida, é a língua falada pelos alunos. Os professores quando encontram dificuldades para explicar em português, recorrem a língua crioula. A religião é outra ruptura constatada, o catolicismo é muito pouco praticado no país, as escolas, com exceção das católicas ou portuguesas, não priorizam nenhuma religião, não tendo essa disciplina nos currículos escolares. As roupas africanas também são muito utilizadas pelos professores, principalmente as sextas-feiras, já os alunos, em sua maioria utilizam uniformes. Analisando as permanências e rupturas, concluo que a colonialidade está presente e é perpetuada pelas Crenças Pedagógicas Coloniais, pois os professores acreditam que a relação entre professor e aluno deva ser uma relação rígida e autoritária. As rupturas, ligadas diretamente a cultura, entram de fora para dentro da escola, a língua crioula, é a língua falada por todos diariamente, o português passa a ser a língua chata, cheia de regras e dificuldades. A roupa e a música e a religião, são incorporadas diariamente nas festividades e relações familiares. Nessa direção, ressalto que esta pesquisa, além de analisar as permanências e rupturas da colonialidade no ensino da Geografia na Guiné-Bissau, buscou também propor espaços contra hegemônicos, pautados na decolonialidade, visando construir caminhos para pensar a formação e atuação dos professores de Geografia na Guiné-Bissau. e, nessa mesma linha, foram desenvolvidos projetos e ações com professores e estudantes guineenses, como ?O bom professor não bate?, ?Marcas do Colonialismo? e ?Geografia Decolonial?. Destaco que os passos e provocações contidos nesta tese se somam ao movimento de busca pelo rompimento da colonialidade no ensino da Geografia guineense, que se faz premente.Abstract: The research that gives rise to this thesis deals with Education in Guinea-Bissau, a country located on the west African coast, colonized for five centuries by the people, which was used as a strategy of colonial domination. In this sense, the research seeks to answer how the perpetuation of colonial knowledge and the reproduction of colonizing pedagogical practices occur in the teaching of Geography in Guinea-Bissau and what are the possible ruptures as a form of resistance to Portuguese colonialism? Furthermore, I present a possibility for teaching Decolonial Geography. In this study, I adopted a methodological approach centered on supportive, empathetic and co-constructive observation, centered on the participant, in which data were collected through semi-structured interviews and structured questionnaires were applied to Guinean teachers and students. The Content Analysis was anchored in Bardin (2011), grouping the interlocutors' reports into three Axes: 1) Geography teacher training; 2) Permanences and ruptures of coloniality in teaching practice in the perception of teachers; 3) Permanences and ruptures of coloniality in teaching practice in the students? perception. Their reports/perceptions and responses constitute raw material in carrying out the analyses, in comparison with the theoretical lenses of decolonial epistemology, used by Fanon (2008), Freire (1978 and 1987), Sané (2019) and Meneses (2010). ; 2014; From the analyses, I identified that Geography teachers in Guinea-Bissau had a training curriculum disconnected from their main realities and needs, initially being created in the bachelor's degree concomitantly with the history course by the Soviets, where Geography was prioritized physical. During the research, I participated in the team that created the first Degree Course in Geography in the country, in which we sought to connect Guinean realities and needs. Regarding the analysis of permanences and ruptures in teachers' practices today, I found that perpetuation is mainly linked to oppressive practices, with the manipulation of punishments and punishments by teachers. I noticed that most Geography teachers in Guinea-Bissau use teaching methods that favor the memorization of information and concepts to the detriment of those that enable the application of a liberating and emancipatory education. Along these lines of thought, I developed the category of Colonial Pedagogical Beliefs, defined as a set of ideas, values and educational practices established during periods of colonization by European nations in their colonies, which reflect the perspectives and interests of the colonizers, promoting Eurocentric cultural and intellectual superiority to the detriment of the cultures and knowledge of original peoples. In the search for ruptures, I found that they are directly linked to culture. In schools, students and teachers value their native languages, especially Creole, as it is what unites the Guinean people. Even though it is prohibited, it is the language spoken by students. When teachers find it difficult to explain in Portuguese, they resort to the Creole language. Religion is another observed rupture, Catholicism is very little practiced in the country, schools, with the exception of Catholic or Portuguese ones, do not prioritize any religion, and do not have this subject in the school curricula. African clothes are also widely used by teachers, especially on Fridays, while the majority of students wear uniforms. Analyzing the permanences and ruptures, I conclude that coloniality is present and is perpetuated by Colonial Pedagogical Beliefs, as teachers believe that the relationship between teacher and student must be a rigid and authoritarian relationship. The ruptures, directly linked to culture, enter the school from outside, the Creole language is the language spoken by everyone daily, Portuguese becomes the boring language, full of rules and difficulties. Clothes, music and religion are incorporated daily into festivities and family relationships. In this sense, I emphasize that this research, in addition to analyzing the permanences and ruptures of coloniality in the teaching of Geography in Guinea-Bissau, also sought to propose counter-hegemonic spaces, based on decoloniality, aiming to build ways to think about the training and performance of Geography teachers in Guinea-Bissau. and, along the same lines, projects and actions were developed with Guinean teachers and students, such as ?The good teacher doesn't knock?, ?Marks of Colonialism? and ?Decolonial Geography?. I highlight that the steps and provocations contained in this thesis add to the movement of seeking to break coloniality in the teaching of Guinean Geography, which is urgent.
Description: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Florianópolis, 2024.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/263860
Date: 2024


Files in this item

Files Size Format View
PECT0597-T.pdf 4.351Mb PDF View/Open

This item appears in the following Collection(s)

Show full item record

Search DSpace


Advanced Search

Browse

My Account

Statistics

Compartilhar