Efeito do consumo de suco de uva (Vitis labrusca) sobre parâmetros relacionados ao dano muscular induzido pelo exercício e ao desempenho esportivo em corredores

Abstract

O dano muscular induzido pelo exercício (DMIE) ocorre quando o tecido muscular é danificado, levando ao comprometimento da capacidade de produção de força, dor muscular e extravasamento de proteínas intracelulares para a circulação. A uva e seus derivados possuem compostos bioativos que apresentam atividade antioxidante e anti-inflamatória. Essa atividade pode ser interessante para atenuar os sinais e sintomas de DMIE e, consequentemente, melhorar o desempenho nos treinos seguintes. Esse estudo é um ensaio clínico duplo cego, paralelo, randomizado e controlado por placebo, conduzido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sob número RBR-9jkkvbb no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC). O protocolo deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE: 58141222.7.0000.0121, protocolo: 5.425.333). O objetivo do estudo foi avaliar o efeito do consumo do suco de uva sobre parâmetros relacionados ao dano muscular induzido pelo exercício e ao desempenho esportivo. Os critérios de inclusão foram: sexo masculino; idade entre 18 e 45 anos; corredores treinados com experiência competitiva em provas de 5 e 10 km, e com volume semanal de no mínimo 20 km. Vinte corredores treinados do sexo masculino foram randomizados em dois grupos cegos e consumiram placebo (n=9) ou suco de uva (n=11) durante seis dias (600 mL/dia). O placebo foi uma bebida com características organolépticas similares ao suco de uva, contendo sacarose. No quarto dia, os participantes correram 20 minutos em declive (-15%) a 70% do VO2máx (Consumo Máximo de Oxigênio), em seguida avaliou-se a economia de corrida (EC) e o desempenho nos testes de contrarrelógio de 5 km (TT) e de salto contramovimento (CMJ). Amostras de sangue foram coletas antes e após os testes físicos para avalição de fenóis totais, creatina quinase (CK), aspartato aminotransferase (AST) e lactato desidrogenase (LDH). Após 48h a coleta de sangue e o CMJ foram realizados novamente. O TT de 5 km e o CMJ foram prejudicados de forma semelhante nos grupos placebo e suco de uva, enquanto a economia de corrida não mudou após o DMIE. Da mesma forma, creatina quinase, lactato desidrogenase, aspartato aminotransferase e compostos fenólicos totais apresentaram comportamento semelhante ao longo do tempo entre os grupos, não apresentando, portanto, efeitos de interação grupo x tempo (p > 0,05). Conclui-se que o consumo de suco de uva durante seis dias não atenuou o DMIE e a redução do desempenho provocado pelo mesmo. Permanece a necessidade de novos desenhos de estudo focados na elucidação de potenciais efeitos do consumo da uva e seus produtos no âmbito do esporte.

Abstract: Exercise-induced muscle damage (EIMD) occurs when muscle tissue is damaged, leading to impaired force production capacity, muscle pain and the leakage of intracellular proteins into the circulation. Grapes and their derivatives contain bioactive compounds with antioxidant and anti-inflammatory activity. This activity may be of interest in attenuating the signs and symptoms of EIMD and, consequently, improving performance in subsequent workouts. This study is a double-blind, parallel, randomized, placebo-controlled clinical trial conducted at the Federal University of Santa Catarina (UFSC) under number RBR-9jkkvbb in the Brazilian Registry of Clinical Trials (ReBEC). The study protocol was approved by the Human Research Ethics Committee (CAAE: 58141222.7.0000.0121, protocol: 5.425.333). The aim of this study was evaluated the effect of grape juice consumption on parameters related to exerciseinduced muscle damage and sports performance. The inclusion criteria were male; age between 18 and 45; trained runners with competitive experience in 5 and 10 km races, with a weekly running training volume of at least 20 km. Twenty trained male runners were randomized into two blinded groups and consumed placebo (n=9) or grape juice (n=11) for six days (600 mL/day). Placebo was a beverage containing sucrose with organoleptic characteristics like grape juice. On the fourth day, the participants ran for 20 minutes incline (-15%) at 70% of their VO2max (Maximum Oxygen Consumption). Then, running economy (RE) and performance in the 5km time trial (TT-5km) and countermovement jump (CMJ) tests were assessed. Blood samples were taken before and after the physical tests to assess total phenols, creatine kinase (CK), aspartate aminotransferase (AST) and lactate dehydrogenase (LDH). After 48 hours, blood was taken and the CMJ was performed again. The 5-km TT and CMJ were impaired to a similar extent in the placebo and grape juice groups, while running economy did not change after EIMD. Similarly, creatine kinase, lactate dehydrogenase, aspartate aminotransferase, and total phenolic compounds presented similar time course behavior between groups, therefore showing no group × time interaction effects (p > 0.05). It is concluded that the consumption of grape juice for six days did not attenuate the DMIE and the reduction in performance caused by it. There is still a need for new study designs focused on elucidating the potential effects of consuming grapes and their products in the context of sport.