Consumo alimentar e composição corporal de pacientes adultos com epilepsia farmacorresistente tratados com dieta cetogênica do tipo Atkins Modificada: um estudo quasi experimental

Abstract

Introdução: A Dieta Atkins Modificada (DAM) tem mostrado resultados promissores no controle de crises epilépticas em indivíduos com epilepsia farmacorresistente. Embora a perda de peso seja um efeito colateral reconhecido, há uma escassez de dados sobre as mudanças na composição corporal, como massa gorda e massa magra, tanto a curto quanto a longo prazo. Este estudo tem como objetivo avaliar os efeitos da DAM na composição corporal de adultos com epilepsia farmacorresistente, além de examinar variações no consumo alimentar, cetose sérica, e no número e tipo de crises epilépticas ao longo do protocolo. Métodos: O recrutamento foi realizado em dois centros de referência para o tratamento de epilepsia em Santa Catarina, entre março de 2022 e abril de 2024. Os participantes foram avaliados em quatro momentos: fase pré-dieta (PD), semana 4 (S4), semana 12 (S12) e semana 24 (S24), totalizando 6 meses de acompanhamento. O consumo alimentar foi analisado por meio de um registro alimentar de 3 dias, com a orientação de limitar a ingestão de carboidratos a 20g por dia na fase PD. A composição corporal foi avaliada através de medidas de peso, altura, índice de massa corporal (IMC), circunferências do braço (CB) e da cintura (CC), além de densitometria por absormetria radiológica de dupla energia (DXA). Também foram registrados o número e os tipos de crises epilépticas, os fármacos utilizados e os níveis de cetose sérica. Resultados: O estudo acompanhou 8 participantes ao longo de 24 semanas, igualmente distribuídos entre homens e mulheres, com idades entre 23 e 46 anos (média de 38.25 ± 8.27). Observou-se uma redução significativa nas crises focais entre PD e S24 (p = 0.018), enquanto as crises bilaterais diminuíram significativamente de PD para S12 e de PD para S24 (p < 0.001). Houve reduções significativas no peso e na circunferência da cintura (CC) de PD para S4 (p = 0.036 e p < 0.001, respectivamente), enquanto a circunferência do braço (CB) apresentou redução significativa de PD para S12 (p = 0.042). O IMC não apresentou reduções estatisticamente significativas ao longo do estudo. Apesar das alterações nas médias durante as visitas, não foram observadas mudanças estatisticamente significativas na composição de massa gorda e massa magra. O consumo de carboidratos apresentou redução estatisticamente significativa em todos os tempos em relação a PD (p < 0.001), enquanto a ingestão de lipídeos mostrou alteração significativa de PD para S12 e S24 (p < 0.001). A ingestão calórica e proteica, apesar das oscilações nas médias, não apresentou alterações estatisticamente significativas. No entanto, foi observado um aumento no consumo proteico em alguns participantes em PD, o que se refletiu na média geral (92.29 ± 9.83). Conclusão: Este estudo corrobora os resultados preliminares de intervenções com a Dieta Cetogênica (DC) e a Dieta Atkins Modificada (DAM) no controle de crises epilépticas em pacientes com epilepsia farmacorresistente. Foram observadas mudanças significativas em parâmetros antropométricos, como peso, IMC, CB e CC. Embora não tenham sido identificadas alterações significativas na composição corporal, a preservação da massa magra é considerada um resultado positivo. A primeira conversa fornecida aos participantes em S-4 parece ter influenciado a redução de carboidratos antes do previsto, além de aumentar o consumo de proteínas. Embora a orientação sobre a dieta tenha enfatizado a redução de carboidratos, a manutenção de níveis normais de proteínas e o aumento da ingestão de lipídios, os participantes tenderam a aumentar a ingestão de proteínas em vez de lipídios. Estudos futuros devem focar não somente no controle de crises, mas também nos efeitos a longo prazo da DAM na composição corporal desses indivíduos, além de avaliar se o protocolo dietético está sendo efetivamente seguido após a sua prescrição.

Abstract: Introduction: The Modified Atkins Diet (MAD) has shown promising results in controlling epileptic seizures in individuals with drug-resistant epilepsy. While weight loss is a recognized side effect, there is a lack of data on changes in body composition, such as fat mass and lean mass, both in the short and long term. This study aims to evaluate the effects of the MAD on the body composition of adults with drug-resistant epilepsy, as well as to examine variations in dietary consumption, serum ketosis, and the number and type of epileptic seizures throughout the protocol. Methods: Recruitment was conducted at two reference centers for epilepsy treatment in Santa Catarina from March 2022 to April 2024. Participants were assessed at four time points: pre-diet phase (PD), week 4 (S4), week 12 (S12), and week 24 (S24), totaling 6 months of follow-up. Dietary consumption was analyzed through a 3-day food diary, with instructions to limit carbohydrate intake to 20g per day during the PD phase. Body composition was evaluated through measurements of weight, height, body mass index (BMI), arm circumference (AC), and waist circumference (WC), in addition to dual-energy X-ray absorptiometry (DXA). The number and types of epileptic seizures, medications used, and serum ketosis levels were also recorded. Results: The study followed 8 participants over 24 weeks, evenly distributed between men and women, aged between 23 and 46 years (mean age 38.25 ± 8.27). A significant reduction in focal seizures was observed between PD and S24 (p = 0.018), while bilateral seizures significantly decreased from PD to S12 and from PD to S24 (p < 0.001). Significant reductions in weight and waist circumference (WC) were observed from PD to S4 (p = 0.036 and p < 0.001, respectively), while arm circumference (AC) showed a significant reduction from PD to S12 (p = 0.042). BMI did not show statistically significant reductions throughout the study. Despite changes in means during visits, no statistically significant changes were observed in fat mass and lean mass composition. Carbohydrate consumption showed a statistically significant reduction at all time points compared to PD (p < 0.001), while lipid intake showed significant changes from PD to S12 and S24 (p < 0.001). Caloric and protein intake, despite fluctuations in means, did not present statistically significant changes. However, an increase in protein consumption was observed in some participants during PD, which was reflected in the overall mean (92.29 ± 9.83). Conclusion: This study corroborates the preliminary results of interventions using the Ketogenic Diet (KD) and the Modified Atkins Diet (MAD) in controlling epileptic seizures in patients with drug-resistant epilepsy. Significant changes were observed in anthropometric parameters such as weight, BMI, AC, and WC. Although no significant changes in body composition were identified, the preservation of lean mass is considered a positive outcome. The initial conversation provided to participants in S-4 appears to have influenced the reduction of carbohydrates earlier than expected, in addition to increasing protein consumption. While dietary guidance emphasized reducing carbohydrates, maintaining normal protein levels, and increasing lipid intake, participants tended to increase protein intake instead of lipids. Future studies should focus not only on seizure control but also on the long-term effects of the MAD on the body composition of these individuals, as well as evaluating whether the dietary protocol is being effectively followed after its prescription.