Medicalização e documentação pedagógica no contexto da educação infantil

Abstract

Este trabalho de mestrado está vinculado à linha de pesquisa Educação e Infância, do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de Santa Catarina. Propõe-se a dialogar sobre a Medicalização e a Documentação Pedagógica no contexto da Educação Infantil, e a importância do tema se justifica pela ainda rara aparição nessa etapa da Educação Básica. Buscou-se levantar possíveis questionamentos sobre a medicalização, possibilitando questionar o quanto ainda está presente nas instituições educativas uma visão biologizante e determinista do desenvolvimento infantil. Um dos pontos centrais da pesquisa é o processo de aprendizagem e de desenvolvimento das crianças na pré-escola, expressas no conjunto da documentação pedagógica. Para isso, busquei responder a pergunta: Como se revela na documentação pedagógica a compreensão das professoras sobre o processo de aprendizagem e do desenvolvimento das crianças de zero a seis anos? Para responder tal questão, temos como objetivo geral desta pesquisa: Investigar nas narrativas e nas proposições contidas no planejamento, no registro e nos relatórios de avaliação elaborados pelas professoras de educação infantil da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, as suas percepções sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, compreendendo a supervisão escolar como possível agente articulador para pensar as estratégias da ação pedagógica. Como objetivos específicos, destaco: 1) compreender as ações da supervisão como agente de articulação entre os professores e a documentação pedagógica com relação aos aspectos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças; 2) analisar, na documentação pedagógica, como se expressa a compreensão das professoras sobre a aprendizagem e o desenvolvimento infantil; 3) identificar o espaço que a brincadeira, como promotora de aprendizagem e do desenvolvimento, ocupa nos documentos elaborados pelas professoras. Nesse caminho, a Teoria Histórico-Cultural, as contribuições de Vigotski e de seus apoiadores são referências teóricas que sustentam a pesquisa e indicam pontos de problematização necessários ao fenômeno da medicalização e do que incide sobre a aprendizagem e o desenvolvimento infantil e a brincadeira. O percurso metodológico foi realizado por meio da Análise de Conteúdo e consistiu em uma entrevista pré-estruturada com 15 perguntas, com a participação de cinco supervisoras e de um supervisor, todos efetivos da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. O estudo sobre a documentação pedagógica foi possível a partir da socialização dos instrumentos de planejamento, registro e avaliação elaborados individualmente por cinco professoras participantes. Todas as participantes da pesquisa compuseram o quadro de trabalhadores dessa mesma rede supracitada, no ano de 2022. O conjunto das entrevistas, juntamente com o estudo da documentação pedagógica, resultaram em quatro capítulos, quais sejam: Do percurso ao encontro com o objeto da pesquisa; Medicalização, suas facetas, debates e tensionamentos; Uma breve trajetória das propostas pedagógicas e construtos teóricos da RMEF nos anos de 1988, 1996, 2010; Os eixos temáticos e os instrumentos de análise. O capítulo cinco versa, especificamente, sobre as categorias de análise, cujos subcapítulos estão denominados: ?Os diálogos com a supervisão e as facetas da medicalização na prática pedagógica?,?As Estratégias da Ação Pedagógica: documentos reflexivos e autorais das professoras?; A perspectiva de criança, de aprendizagem e do seu desenvolvimento impressa no planejamento, no registro e na avaliação, e qual espaço que a brincadeira ocupa nesses documentos. Como indicativo importante, o registro aparece como um ponto forte da documentação pedagógica. Registros ?cheios das crianças? resultam em planejamentos com propostas desenvolventes e avaliações que narram os processos vividos e as experiências vivenciadas pelas crianças. Minha defesa é de que o registro pode trazer elementos cruciais que estruturam a avaliação e, também, o planejamento. O registro torna-se uma espécie de espinha dorsal da documentação como estratégia da ação pedagógica.

Abstract: This master's work is linked to the Education and Childhood research line, of the Postgraduate course in Education, at the Federal University of Santa Catarina. It is proposed to discuss Medicalization and Pedagogical Documentation in the context of Early Childhood Education, and the importance of the topic is justified for the still rare appearance at this stage of basic education. We sought to raise possible questions about medicalization, making it possible to question how much of a biologizing and deterministic view of child development is still present in educational institutions. One of the central points of the research is the learning and development process of children in preschool, expressed in the set of pedagogical documentation. To do this, I tried to answer the question, the theme of the study: How is the teacher's understanding of the development process of children from zero to six years old revealed in the pedagogical documentation? And to answer this question, it was investigated in narratives and propositions contained in the planning, in the registration and evaluation reports, prepared by early childhood education teachers from the Municipal Education Network of Florianópolis, their perceptions about child development, understanding school supervision as a possible articulating agent to think about Pedagogical Action Strategies. As specific objectives I highlight: 1) Understand the actions of supervision as an agent of articulation between teachers and pedagogical documentation in relation to aspects of children's learning and development; 2) Analyze, in the pedagogical documentation, how expresses teachers understanding of child development; 3) Identify the space where the games takes place as a promoter of development, it occupies documents prepared by teachers. Along this path, the Historical-Cultural Theory, the contributions of Vygotsky and his supporters are theoretical references that support the research, and indicate points of problematization necessary for the phenomenon of medicalization, and what affects child development and game. The methodological path was carried out through Content Analysis, and consisted of a pre-structured interview with 15 questions with five supervisors and one supervisor, all working at the Municipal Education Network of Florianópolis. The study on pedagogical documentation was possible through the socialization of planning, recording and evaluation instruments created individually by five participating teachers. All research participants made up the workforce of the same network mentioned above, in the year 2022. The set of interviews, together with the study of pedagogical documentation, resulted in four chapters, which are: - From the course to meeting the research object; - Medicalization, its facets, debates and tensions; - A brief trajectory of the pedagogical proposals and theoretical constructs of the RMEF in the years 1988, 1996, 2010; - Thematic axes and analysis instruments. Chapter five specifically deals with the categories of analysis, and as categories, the subchapters are called: ?Dialogues with supervision and the facets of medicalization in pedagogical practice?, ?The Strategies of Pedagogical Action: reflective and authorial documents from teachers?; The child's perspective and their development printed in planning, recording and evaluation, and what space games occupies in these documents. As an important indicator, registration appears as a strong point of pedagogical documentation. Records ?full of children? result in planning with developmental proposals and evaluations that narrate the processes lived and experiences lived by children. My defense is that the registration can bring crucial elements that structure the evaluation and also the planning. The register becomes a kind of backbone of documentation as a strategy for pedagogical action.