Efeito do armazenamento na bioacessibilidade in vitro de minerais em mel de melato de bracatinga (Mimosa scabrella Bentham)

Abstract

A coleta pelas abelhas de secreções de partes vivas de plantas ou excreções de insetos sugadores de plantas destina-se à produção de mel de melato. No planalto catarinense, a excreção (melato) produzida por insetos sugadores (cochonilhas) a partir do floema de árvores de bracatinga (Mimosa scabrella Bentham) serve como matéria-prima para abelhas Apis mellifera na produção do mel de melato de bracatinga (M. scabrella Bentham). Este mel possui características particulares quando comparado aos méis florais, como sabor levemente amargo, baixo teor de açúcares e cor mais escura. Este mel possui propriedades bioativas, que dentre outros constituintes, podem estar relacionadas ao seu alto teor de minerais, quando comparados a méis de outras origens. No entanto, os minerais podem ser ionizados ou complexados durante digestão gastrointestinal ou pelas transformações que podem ocorrer ao longo do armazenamento do mel, afetando, portanto, sua bioacessibilidade. Este estudo avaliou a influência do armazenamento na bioacessibilidade in vitro de minerais (potássio, magnésio, cálcio, sódio e manganês) em amostras de mel de melato de bracatinga coletadas em Urupema, Lages e Bocaína do Sul (Santa Catarina, Brasil). Um protocolo estático de digestão gastrointestinal in vitro foi aplicado nas amostras armazenadas por 8, 16 e 24 meses em temperatura ambiente e por 4 meses a 40°C. A determinação dos cátions Na+, K+, Ca2+, Mg2+ e Mn2+, antes e após a digestão in vitro, foi realizada por eletroforese capilar com detector de arranjo de diodos. Os resultados obtidos indicaram que antes da digestão in vitro o armazenamento não influenciou significativamente as concentrações de potássio e magnésio, mas causou variações no teor de sódio (sem tendências claras) e uma redução nas concentrações de cálcio. As frações bioacessíveis variaram de 67,9 ± 1,9 a 87,1 ± 0,1% para o potássio; 92,0 ± 0,8 a 117,5 ± 0,2% para o magnésio; e de 84,7 ± 5,7 a 147,2 ± 3,4% para o cálcio, demonstrando que a maioria desses constituintes foram solubilizados durante a digestão in vitro. O sódio não foi avaliado após a digestão in vitro devido à influência das concentrações desse mineral nos fluidos digestivos. O manganês não foi detectado durante todo o estudo. Além disso, o armazenamento influenciou a bioacessibilidade do potássio apenas para o mel de Bocaina do Sul. Dependendo da condição de armazenamento, diferentes comportamentos foram observados na bioacessibilidade do magnésio. A bioacessibilidade do cálcio aumentou após 24 meses de armazenamento em temperatura ambiente e após 4 meses a 40 ºC. A presença de outros constituintes do mel de melato de bracatinga pode estar influenciando no aumento ou diminuição da bioacessibilidade dos minerais durante o armazenamento. Assim, é possível sugerir que armazenamento exerce um efeito sobre a bioacessibilidade de minerais do mel de melato de bracatinga (M. scabrella Bentham). Até o momento, este é o primeiro estudo que avaliou a influência desse fator na bioacessibilidade de compostos em méis.

Abstract: The collection by bees of secretions of living parts of plants or excretions of plant-sucking insects is intended for the production of honeydew honey. In the plateau of Santa Catarina, the excretion (honeydew honey) produced by sucking insects (cochineals) from the phloem of bracatinga trees (Mimosa scabrella Bentham) serves as a raw material for Apis mellifera bees in the production of bracatinga melate honey (M. scabrella Bentham). This honey has particular characteristics when compared to floral honeys, such as a slightly bitter taste, low sugar content and darker colour. This honey has bioactive properties, which among other constituents, may be related to its high mineral content, when compared to honeys from other sources. However, minerals can be ionized or complexed during gastrointestinal digestion or by transformations that can occur during honey storage, thus affecting its bioaccessibility. This study evaluated the influence of storage on in vitro bioaccessibility of minerals (potassium, magnesium, calcium, sodium and manganese) in honey samples of bracatinga honeydew honey collected in Urupema, Lages and Bocaína do Sul (Santa Catarina, Brazil). A static in vitro gastrointestinal digestive protocol was used on samples stored for 8, 16 and 24 months at room temperature and 4 months at 40°C. The determination of Na+, K+, Ca2+, Mg2+ and Mn2+ cations, before and after in vitro digestion, was performed by capillary electrophoresis with a diode array detector. The results obtained indicated that before in vitro digestion the storage did not significantly influence the concentrations of potassium and magnesium, but caused variations in the sodium content (without clear trends) and a reduction in the concentrations of calcium. The bioaccessible fractions ranged from 67.9 ± 1.9 to 87.1 ± 0.1% for potassium; 92.0 ± 0.8 to 117.5 ± 0.2% for magnesium; and 84.7 ± 5.7 to 147.2 ± 3.4% for calcium, demonstrating that most of these constituents were solubilised during in vitro digestion. Sodium was not evaluated after in vitro digestion due to the influence of sodium concentrations in digestive fluids. Manganese was not detected throughout this study. Furthermore, storage had an impact on the bioaccessibility of potassium only for Bocaina do Sul honey. Depending on the storage condition, different behaviors were observed in the bioaccessibility of magnesium. Calcium bioaccessibility increased after 24 months of storage at room temperature and after 4 months at 40 ºC. The presence of other constituents of bracatinga honeydew honey may be influencing the increase or decrease in the bioaccessibility of minerals during storage. Thus, it is possible to suggest that storage exerts an effect on the mineral bioaccessibility of bracatinga honey (M. scabrella Bentham) honey. To date, this is the first study that has evaluated the influence of this factor on the bioaccessibility of compounds in honey.