A infância ribeirinha no Amazonas: o remanso da travessia na vida e na escola da Comunidade Nossa Senhora de Nazaré em Parintins

Abstract

O presente estudo faz parte de uma pesquisa que investiga a infância no norte do Brasil, especificamente as condições de vida da criança ribeirinha da cidade de Parintins, estado do Amazonas. Considerando a singularidade, a pluralidade e a complexidade da Amazônia, sobretudo a região do Baixo Amazonas, levantamos o seguinte questionamento: quais as práticas pedagógicas propiciadas às crianças da Escola Municipal Nossa Senhora de Nazaré, localizada às margens do Paraná do Limão de Baixo, em Parintins, AM? Para tanto, propomos o seguinte objetivo geral: investigar as possibilidades e limitações das práticas pedagógicas desenvolvidas na Escola Municipal Nossa Senhora de Nazaré, localizada às margens do Paraná do Limão de Baixo, em Parintins, AM. Esta pesquisa contou com a participação de 12 crianças, na faixa etária de 4 a 11 anos, da professora e do condutor do transporte escolar. Os participantes secundários foram dois pais e dois moradores da comunidade. O estudo está apoiado na psicologia histórico-cultural de Vigotski, assim como em autores que fazem reflexões pertinentes sobre a infância e educação, tais como: Pino (2000, 2010); Schlindwein (2010, 2017); Toassa (2010, 2014); Paes Loureiro (2015); Andrade (2018, 2019); Soares (2017); Souza (2006, 2013); Hage (2014), Oliveira (2020), entre outros. Trata-se de um estudo qualitativo com inspiração etnográfica, no qual a pesquisadora participou da produção dos dados, vivenciando com as crianças o cotidiano escolar. Foram utilizadas técnicas de observação participante e entrevistas enfocando as vivências das crianças. No decorrer das imersões no campo, a bordo do transporte escolar fluvial, uma pequena bajara, vivenciamos um pouco da rotina diária daqueles sujeitos, bem como os desafios e as adversidades que se traduziam em força para a professora e os estudantes não desistirem da educação. As aulas eram sempre cheias de novidades, atividades e jogos, confeccionados a partir de materiais reciclados e retirados da natureza. Naquele espaço simples, em meio à floresta amazônica, foi possível vislumbrar a alegria contagiante das crianças e o seu apego àquele espaço e às pessoas que interagiam ali. Tantas aprendizagens de vida, que vão além dos livros escolares. Aprender para a vida e por meio da vida é uma importante forma de aprendizagem. No entanto, também nos leva à reflexão sobre as condições concretas de vida, aquém das políticas públicas e legislações educacionais vigentes. Como síntese do nosso estudo, o que objetivamos com os achados sobre a comunidade investigada é que corram e cheguem, como no curso de um rio, aos governantes e formuladores de políticas públicas. Sinalizamos a necessidade de um compromisso social com os povos amazônicos, com as crianças e a infância da região da Amazônia, a fim de que a cultura e as vivências dos povos tradicionais da Amazônia sejam valorizados, que o direito constitucional à educação seja garantido às crianças que lá habitam, vivem e se humanizam, bem como que esses direitos lhes permitam gozar de uma vida digna, com oportunidades de acesso à educação e aos bens culturais produzidos pela humanidade, assim como toda criança brasileira.

Abstract: This study is part of research that investigates childhood in northern Brazil, more specifically, the living conditions of riverine children in the city of Parintins, Amazonas state. Considering the singularity, plurality and complexity of the Amazon, especially the region of the lower Amazon, we ask the following question: What are the pedagogical practices offered to children at the Nossa Senhora de Nazaré Municipal School, located on the banks of the Paraná do Limão de Baixo, in Parintins, AM? To answer that, we propose the following general objective: to investigate the possibilities and limitations of the pedagogical practices developed at the Nossa Senhora de Nazaré Municipal School, located on the banks of the Paraná do Limão de Baixo, in Parintins, AM. This research counted on the participation of 12 children, aged from 4 to 11 years, in addition to the school teacher and the school transport driver. The secondary collaborators were two parents and two community residents. The study is supported by Vygotsky?s cultural-historical psychology, as well as authors who make pertinent reflections on childhood and education, such as Pino (2000, 2010); Schlindwein (2010, 2017); Toassa (2010, 2014); Paes Loureiro (2015); Andrade (2018, 2019); Soares (2017); Souza (2006, 2013); Hage (2014), and Oliveira (2020), among others. This is a qualitative study with ethnografic inspiration, in which the researcher participated in the production of the data, experiencing the daily school life with the children. Participant observation techniques and interviews focusing on the children?s experiences were used. During the immersions in the countryside aboard the school?s river transport, a small open boat, we experienced a little of the daily routine of the subjects, as well as the challenges and adversities that translated into strength for the teacher and students not to give up on education. The classes were always full of novelties, activities and games made from recycled materials and taken from nature. In that simple space in the middle of the Amazon rainforest, it was possible to glimpse the contagious joy of the children and their attachment to that space and to the people who interacted there. So many life lessons that go beyond school textbooks. Learning for life through life is an important form of learning. However, it also leads us to reflect on concrete living conditions, beyond current public policies and educational legislation. As a synthesis of our study, what we aimed at with the findings on the investigated community is that they run and reach, as in the course of a river, to government officials and public policy makers. We signal the need for a social commitment with the Amazonian peoples, with the children and childhood of the Amazon region, so that the culture and experiences of the traditional peoples of the Amazon be valued, that the constitutional right to education be guaranteed to the children who inhabit there, live and humanize themselves, and that these rights allow them to enjoy a dignified life with opportunities to access education and cultural goods produced by humanity, just like every Brazilian child.