“Cabelo curto não é coisa de homem”: os discursos on-line sobre os cabelos das mulheres no Brasil

Abstract

Este trabalho trata da relação dos cabelos curtos ou raspados em mulheres e os discursos de libertação frequentemente associados a essas práticas. Assim, o objetivo é analisar os discursos a respeito das mulheres de cabelos curtos ou carecas difundidos como práticas de resistência aos padrões de feminilidade historicamente impostos às mulheres. Para isso, foram analisados os comentários feitos em duas publicações da influenciadora digital Blogueira de Baixa Renda no Youtube e no Instagram em que a temática do “cabelo curto” aparece. Nesse sentido, atentei-me aos discursos mais recorrentes nos comentários, observando a regularidade dos enunciados dentro dos discursos de liberdade, a fim de fazer uma genealogia, tal como propõe Foucault, a respeito dessas práticas corporificadas que se materializam ambiguamente no discurso. Desse modo, observou-se, por meio dos comentários, o entrecruzamento dos discursos de: 1) liberdade e beleza; 2) doença e sofrimento e; 3) coragem no interior das práticas de cortar ou raspar os cabelos, num processo de resistência e, ao mesmo tempo, de normatização. No entanto, ainda que os discursos das mulheres que optam por cortar ou raspar os cabelos voltam-se, em muitos dos casos, a enunciados de beleza e de autoestima, essas práticas causam positividade por atuarem na construção da subjetivação dessas mulheres.

This paper deals with the relationship of short or shaved hair in women and the discourses of liberation often associated with these practices. Thus, the objective is to analyze the discourses regarding women with short or bald hair disseminated as practices of resistance to the standards of femininity historically imposed on women. For this, the comments made in two publications of the digital influencer Low Income Blogger on Youtube and Instagram in which the theme of "short hair" appears were analyzed. In this sense, I paid attention to the most recurrent discourses in the comments, observing the regularity of the statements within the discourses of freedom, in order to make a genealogy, as proposed by Foucault, about these embodied practices that materialize ambiguously in the discourse. Thus, it was observed, through the comments, the intersection of the discourses of: 1) freedom and beauty; 2) disease and suffering and; 3) courage within the practices of cutting or shaving the hair, in a process of resistance and, at the same time, of standardization. However, although the discourses of women who choose to cut or shave their hair turn, in many cases, to statements of beauty and self-esteem, these practices cause positivity by acting in the construction of subjectivation of these women.