Abstract:
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O objetivo geral desta pesquisa de doutoramento consiste em caracterizar uma
geometria para ensinar a partir de manuais de Pedagogia direcionados à formação de
professores dos primeiros anos escolares no Brasil entre 1870 e 1920. Para
alcançarmos tal objetivo, apoiamo-nos nas reflexões viabilizadas pelo seguinte
questionamento: que geometria se constituiu como ferramenta de trabalho do
professor que ensinou matemática em tempos de método intuitivo no Brasil? O aporte
teórico-metodológico no qual nos fundamentamos para o desenvolvimento da escrita
deste texto trata dos saberes das profissões do ensino e da formação de professores
que foram sendo sistematizados e objetivados em cada período histórico-educacional.
A partir de tais referenciais, ancoramo-nos especificamente às categorias teóricas de
matemática a ensinar e matemática para ensinar, de modo que nosso objeto de estudo
consiste na geometria para ensinar que pudemos sistematizar a partir de diferentes
manuais de Pedagogia, materiais que são nossas fontes de pesquisa. Para
desenvolver essa sistematização, recorremos ao processo metodológico que indica
como transformar informações dispersas em saberes objetivados. A partir da
realização das etapas de recompilação, comparação e sistematização, concluímos
que todos os manuais de Pedagogia que compuseram nossas fontes de pesquisa
apresentam sistematizações que orientam o trabalho pedagógico do professor para
ensinar geometria, algumas possuem maior aprofundamento sistemático que outras
em termos de constituição e objetivação de uma geometria para ensinar, mas todas
são específicas para formar o professor para ensinar essa matéria escolar. Os
elementos que consideramos como constituintes da geometria que é ferramenta de
trabalho do professor apresentam consensos e convergem para uma mesma ideia
sobre o que deve saber o professor para ensinar geometria nos primeiros anos
escolares. Isso nos permitiu sistematizar uma geometria para ensinar característica
da formação institucional de professores dos primeiros anos escolares no Brasil entre
1870 e 1920, a qual está pautada em elementos da geometria euclidiana; mobiliza
materiais de ensino tais como uma coleção de formas sólidas; recorre à marcha de
ensino analítica-sintética, o que significa que as formas geométricas são ensinadas
do todo para as partes e que, estudadas estas, faz-se o movimento das partes para o
todo, graduando da geometria espacial para a plana e em seguida, de modo inverso;
os conteúdos são apresentados aos alunos a partir da mobilização daqueles
materiais, estimulando o uso dos sentidos para a construção de percepções sobre as
formas; estimula-se a generalização gradualmente. Esses elementos articulam-se,
configurando princípios do método intuitivo reelaborados para o ensino de geometria,
associando-se ao ideário pedagógico ao qual os autores dos manuais se dizem
filiados. Portanto, essa geometria para ensinar está pautada na articulação e mútua
dependência entre a geometria a ensinar mobilizada e os saberes para ensinar
geometria, de modo que a maneira como acontecem essas articulações e
mobilizações caracteriza essa geometria como intuitiva, o que nos permite sustentar
que entre 1870 e 1920 a cultura escolar elaborou e manteve estável na formação dos
professores dos primeiros anos escolares uma ferramenta de trabalho do professor
relativamente à docência em geometria que pode ser caracterizada como geometria
intuitiva para ensinar. |