Efeitos da suplementação de gorduras interesterificada, não interesterificada e parcialmente hidrogenada no perfil nutricional, bioquímico e estresse oxidativo em camundongos Balb-c e no desenvolvimento do tumor ascítico de Ehrlich em camundongos C57BL-6

Abstract

As gorduras desempenham importante papel em vários alimentos. A indústria alimentícia utiliza tecnologias de modificação de óleos e gorduras para melhorar as características relacionadas ao comportamento de fusão, teor de gordura sólida, plasticidade e estabilidade oxidativa, tornando-as mais funcionais. A hidrogenação parcial de óleos vegetais por alterar a configuração isomérica de ácidos graxos insaturados de cis para trans, vem sendo substituída pela interesterificação, uma vez que o consumo de ácidos graxos trans (AGT) tem sido associado a doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2 e câncer. Gorduras interesterificadas são livres de trans, mas ricas em ácidos graxos saturados (AGS), que ocupam principalmente a posição sn-2 dos triglicerídeos (TAG), com melhor aproveitamento pelo organismo, segundo a literatura. Neste trabalho foram avaliados os efeitos do consumo de dietas ricas em gordura interesterificada, gordura não interesterificada e gordura vegetal parcialmente hidrogenada no ganho de peso corporal, no perfil bioquímico sérico e na modulação do estresse oxidativo hepático em camundongos Balb-c; e no desenvolvimento do tumor ascítico de Ehrlich (TAE) em camundongos C57BL-6. Dois modelos experimentais foram realizados. Em ambos, os animais foram divididos em quatro grupos. O grupo controle (GC) recebeu dieta normolipídica e os demais receberam dietas hiperlipídicas (40% kcal), contendo gordura interesterificada (GI), gordura não interesterificada (GGNI), ou gordura vegetal parcialmente hidrogenada (GGPH). As análises das gorduras utilizadas indicaram que a gordura interesterificada (GI) continha aproximadamente 60% de AGS, principalmente ácido palmítico (39%); que o blend não interesterificado tinha o mesmo perfil de ácidos graxos da GI e continha duas vezes menos AGS na posição sn-2 dos TAG do que a GI; e a gordura vegetal parcialmente hidrogenada apresentava AGT (20%) e continha ácido linolênico (6%). No modelo experimental 1 os camundongos Balb-c (n=6) foram tratados por um período de 75 dias com dietas experimentais. No modelo experimental 2, após 70 dias de tratamento, os camundongos (n=16) receberam intraperitonealmente células do TAE e após 10 dias o desenvolvimento do tumor foi avaliado. Os camundongos Balb-c e C57BL-6 (p<0,001) dos grupos hiperlipídicos apresentaram maior ganho de peso corporal, comparado ao GC. Porém, sem diferença entre GGI, GGNI e GGPH. No modelo experimental 1, os parâmetros bioquímicos séricos e biomarcadores do estresse oxidativo hepático do grupo GGPH foram semelhantes aos do GC, exceto pelo aumento do colesterol total (CT) (p<0,05). Em comparação ao GGPH, camundongos do GGI apresentaram aumentos significativos nos valores plasmáticos de CT (p<0,01), não-HDL-C (p<0,05) e glicose (p<0,05) e glutationa reduzida (GSH) (2,7 vezes, p<0,05) e atividade da glutationa redutase (2,4 vezes, p<0,001) hepáticos. No modelo experimental 2, os camundongos C57BL-6 do GGPH apresentaram resultados semelhantes aos do GC, quanto ao crescimento do tumor (%), percentual de células apoptóticas e biomarcadores do estresse oxidativo. Em comparação ao GC, camundongos do GGI e GGNI apresentaram redução na sobrevida (20% a menos), menor percentual de células apoptóticas (3 vezes menos), elevados níveis de peroxidação lipídica (p<0,01) e conteúdo depletado de glutationa reduzida (GSH) (p<0,01) nas células tumorais. O estresse oxidativo observado nas células tumorais não foi suficiente para prolongar a vida dos camundongos dos grupos (GGI e o GGNI). Em ambos os modelos experimentais, o GGI e o GGNI apresentaram resultados semelhantes em todos os parâmetros avaliados. Os resultados obtidos indicam que a modificação da estrutura dos triglicerídeos causada pela interesterificação, não alterou os resultados dos parâmetros metabólicos avaliados, nem afetou de forma diferente o desenvolvimento do tumor TAE. As dietas contendo ácido palmítico (GGI e GGNI) apresentaram resultados mais deletérios do que a dieta contendo GVPH, fonte de AGT e ácido linolênico. Os resultados sugerem a necessidade de mais estudos in vivo com diferentes gorduras interesterificadas, uma vez que sua utilização tende a aumentar ainda mais em função do intenso movimento para eliminação da gordura trans.<br>

Abstract : Fat plays an important role in various foods. The food industry uses oil and fat modification technologies to improve characteristics related to fusion behavior, solid fat content, plasticity and oxidative stability, making it more functional. The partial hydrogenation of vegetable oils, by altering the isomeric configuration of unsaturated fatty acids from cis to trans, has been replaced by interesterification, since the consumption of trans fatty acids (TFA) has been associated with cardiovascular diseases, diabetes mellitus type 2 and cancer. Interesterified fat is trans-free but rich in saturated fatty acids (SFA), which occupy the sn-2 position of triacylglycerides (TAG), with better absorption by the body, according to literature. In this work, we evaluated the effects of the consumption of diets rich in interesterified fat, non-interesterified fat and partially hydrogenated vegetable fat in body weight gain, in serum biochemical profile and in the modulation of hepatic oxidative stress in Balb-c mice; and the development of Ehrlich ascites carcinoma (EAC) in C57BL-6 mice. Two experimental models were performed. In both, the animals were divided into four groups. The control group (CG) received a normolipid diet and the others received hyperlipidic diets (40% kcal), containing interesterified fat (IFG), non-interesterified fat (NIFG) or partially hydrogenated vegetable fat (PHFG). Analysis of the fat used indicated that the interesterified (IF) fat contained approximately 60% of SFA, mainly palmitic acid (39%); that the non-interesterified blend had the same IF fatty acid profile and contained twice less SFA at the sn-2 position of TAGs than did the IF; and partially hydrogenated vegetable fat had TFA (20%) and contained linolenic acid (6%). In the experimental model 1, the Balb-c mice (n=6) were treated for a period of 75 days with experimental diets. In experimental model 2, after 70 days of treatment, the C57BL-6 mice (n=16) received EAC intraperitoneal cells and after 10 days, tumor development was evaluated. Balb-c and C57BL-6 mice (p<0.001) from the hyperlipidic groups presented higher body weight gain, compared to CG. However, there was no difference between IGF, NIFG and PHFG. In the experimental model 1, the serum biochemical parameters and biomarkers of hepatic oxidative stress in the PHFG were similar to those of the CG, except for the increase in total cholesterol (TC) (p<0.05). Compared to PHFG, IFG mice showed significant increase in plasma values of TC (p<0.01), non-HDL-C (p<0.05) and glucose (p<0.05) and reduced glutathione (GSH) (2.7-times, p<0.05) and hepatic reductase glutathione activity (2.4-times, p<0.001). In the experimental model 2, PHFG C57BL-6 mice presented CG-like results regarding tumor growth (%), percentage of apoptotic cells and oxidative stress biomarkers. In comparison to CG, IFG and NIFG mice showed a reduction in survival (20% less), lower percentage of apoptotic cells (3 times less), and high levels of lipid peroxidation (p<0.01) and reduced glutathione (GSH) depleted content (p<0.01) in tumor cells. The oxidative stress observed in tumor cells was not sufficient to prolong the life of the mice in these groups. In both experimental models, IFG and NIFG presented similar results in all evaluated parameters. The results indicate that the modification of the triacylglycerol structure caused by the interesterification did not alter the results of the metabolic parameters evaluated, nor did it affect the development of the EAC tumor differently. Diets containing palmitic acid (IF and NIF) presented more deleterious results than the diet containing partially hydrogenated vegetable fat, TFA source and linolenic acid. The results also suggest the need for more in vivo studies with different interesterified fat, as their use tends to increase as a result of the intense movement to eliminate trans fat.