Abstract:
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Esta pesquisa teve por objetivo analisar o processo de construção da memória da matemática no Brasil com base na identificação das lembranças, dos silêncios, das disputas e dos conflitos entre as memórias de seus personagens. Para tanto, foi escolhido o processo de afastamento de Leopoldo Nachbin e do grupo que liderava no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada no início da década de 1970. Inicialmente, realizamos um estudo aprofundado e sistematizado sobre as relações entre história e memória, já bastante trabalhadas no âmbito da teoria da história, das quais se estabelecem aspectos fundamentais para a realização dessa pesquisa, a exemplo dos mecanismos sociais de manipulação da memória, como as celebrações e outras práticas utilizadas pelos grupos para interferir na consolidação da memória coletiva. Em seguida, apresentamos a implantação e consolidação das atividades científicas realizadas no IMPA a partir de 1952 como parte de um projeto maior de institucionalização de novos padrões científicos no Brasil, iniciado em 1930 com a fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Nessa seção, percorremos ainda os vinte primeiros anos de atividades do Instituto, culminando com a saída de Leopoldo Nachbin em 1971. A partir daí, buscamos identificar, de um lado, a memória do grupo que se manteve no IMPA, assumindo o controle institucional nos últimos trinta anos e, de outro, as memórias dos dissidentes, que não encontram tribuna nos espaços institucionalmente constituídos pelo IMPA para suas práticas de memória e a apresentação de suas versões alternativas acerca do referido processo. Apontar a heterogeneidade dessas memórias teve como objetivo questionar a cristalização com que a versão oficial tenta se estruturar, assumindo status de representação da memória coletiva organizada e estável, ocultando a existência de versões opostas e contraditórias na narrativa do passado da corporação. |