Abstract:
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Seu último longa-metragem, Inland Empire, David Lynch afirma ter realizado sem um roteiro prévio. Durante os quase três anos de filmagens - em períodos intercalados - Lynch filmou fragmentos e cenas sem saber como esses pedaços se conectariam, confiando na intuição e na ideia inicial que fez surgir o desejo de realizar o filme. Partindo desses dados e das leituras de alguns de seus filmes (Eraserhead, Blue Velvet, Lost Highway, Mulholland Dr. e Inland Empire) esta dissertação propõe pensar a montagem para além de um procedimento técnico, ou seja, pensar a montagem como um gesto inerente ao ser humano que, para além da técnica, pode ser sentido como experiência. Essa possibilidade se dá através de um pensamento radical, um pensamento-montagem que interrompe os sentidos e que a todo instante circunda o abismo do impossível, o não-saber. Para realizar esse movimento espiral ao redor do abismo, eu me propus, através de fragmentos, a tecer conceitos que se remetem entre si e que perturbam a estabilidade do saber, causando fissuras no pensamento e deslocando-me para um centro escorregadio e esquivo, indo do conhecido em direção ao desconhecido. Misturadas a essa montagem de conceitos, coloquei em jogo também minhas experiências e as transformações dos meus pensamentos ao longo desse processo. Essa é uma maneira de me colocar à prova: somente em risco, no "paso a través de un peligro" que se dá a ex-periri. |