Abstract:
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No Brasil o acesso à educação superior tem se ampliado através de programas e ações políticas públicas de inclusão social. Nas Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), as Ações Afirmativas ampliam a possibilidade de ingresso, através de cotas no vestibular, àqueles que estudaram integralmente em escolas públicas. Com isto alunos vindos das mais diferentes origens sociais, culturais e econômicas acabam por compartilhar um espaço que historicamente foi elitizado, pois, via de regra, só quem alcançava eram os oriundos das classes mais abastadas economicamente. Essa ampliação e diversidade requereram novas políticas, principalmente do ponto de vista inclusivo. A educação, numa perspectiva inclusiva, não deve atender somente aos deficientes, mas a todos que possuem algum tipo de transtorno e ainda aqueles que foram privados sócio-culturalmente, pois 38% dos universitários têm alguma dificuldade de leitura e escrita. A presente pesquisa objetivou analisar as dificuldades de leitura e escrita de estudantes universitários relacionando-as com o acesso à cultura escrita. Esta pesquisa teve caráter qualitativo e descritivo. Os dados foram obtidos através dos seguintes procedimentos: entrevista semi-estruturada, avaliação da linguagem oral e escrita, dados dos prontuários e análise fontes que informassem o rendimento do aluno. As entrevistas foram analisadas a partir de uma abordagem discursiva. A avaliação de leitura e escrita foi realizada sob uma perspectiva sócio-histórica. Foram sujeito dessa pesquisa 3 alunos, a saber, Luiz, Pedro e Izabel, estes alunos eram atendidos na Clínica-Escola de Fonoaudiologia da UFSC. Dos resultados obteve-se que os sujeitos avaliados Izabel e Pedro apresentaram uma escrita semelhante àquela dos sujeitos em fase de alfabetização, havia problemas textuais e ortográficos, destacam-se as marcas da oralidade na escrita deles. Por sua vez o aluno Luiz apresentou uma dificuldade mais específica, ligada a pontuação e acentuação gráfica da escrita. Na leitura os sujeitos Izabel e Pedro, mostraram uma leitura lenta e decodificada que apresentava omissões, substituições e repetições; Luiz não teve alterações na leitura. Da análise do rendimento acadêmico, observou-se que apenas um dos sujeitos, no caso, Pedro, tinha histórico de repetições, trancamento e notas abaixo da média. Quanto ao acesso as práticas leitoras e escriturais, Izabel e Pedro apresentaram características semelhantes. Estes sujeitos relataram ter tido poucas vivências e contato com materiais escritos. Já Luiz relatou que desde a alfabetização era muito incentivado à leitura. Analisando textos antes e pós terapia fonoaudiológica, verificou-se que houve modificações significativas em suas produções. Dos resultados conclui-se que os sujeitos tinham dificuldades de leitura e escrita, tendo maior impacto na esfera acadêmica. Apesar de parecer direta a relação entre as dificuldades apresentadas e o histórico de práticas leitoras e escriturais, não há dados suficientes para se afirmar isto. O que observou-se é que estas práticas constituem cada sujeito como um leitor/escritor distinto. As alterações na escrita e leitura dos sujeitos não necessariamente fariam parte do contexto clínico, no entanto foi o espaço que os acolheu. |