Abstract:
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Introdução: A educação de jovens e adultos é a modalidade de ensino destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Três são as trajetórias escolares básicas que conduzem até a EJA: alunos que iniciam sua escolarização já na condição de trabalhadores adultos; jovens e adultos que abandonaram os ensinos regular e, finalmente, jovens que cursaram o ensino regular, mas acumularam uma grande defasagem entre idade e a série cursada. Os estudos de Lahire (2004, 2002) e Bourdieu (2012) têm apontado que as experiências de socialização do sujeito têm implicações nas trajetórias de escolarização. O objetivo do presente projeto é, portanto, analisar o capital cultural familiar dos sujeitos e quais as dificuldades de leituras e escrita dos mesmos. Metodologia: Esta é uma pesquisa qualitativa, descritiva, de caráter transversal. Os dados foram obtidos através de entrevista semi-estruturada e avaliação de leitura e escrita dos sujeitos. Os três sujeitos pesquisados eram alunos de um Núcleo EJA do município de Florianópolis. Os dados foram analisados a partir de perspectiva sócio-histórica (MASSI, 2007), dos estudos sobre letramento (ROJO, 2009) e da concepção de cultura escrita enquanto capital cultural (LAHIRE, 2004). Resultados: Os três estudantes avaliados têm práticas de leitura e escrita restritas ao ambiente vitual e às atividades escolares. Além disso, todos estavam inseridos em ambientes familiares nos quais havia poucas práticas de leitura e escrita. Observou-se uma escrita com características típicas de processos de aprendizagem inicial da escrita (ZORZI, 1998; 2006; KOCH, 2009), tais como: junções ou separações indevidas de palavras, erros ocasionados pela possibilidade de múltiplas representações oferecidas pela língua, inversões, omissões ou acréscimos de letras, apoio na oralidade, confusão entre letras parecidas, confusão entre as terminações am-ão, generalização de regras, trocas surda-sonora e uso de estruturas sintáticas e referenciais típicos da oralidade. Discussão: A partir dessas considerações vemos que os sujeitos adultos que apresentam dificuldade na apropriação da leitura e escrita podem experimentar uma relação de sofrimento, angústia e desgosto com essa modalidade da língua, associando-a a memórias de fracassos e humilhações. Esses sentimentos podem levar a uma reação de afastamento das práticas de leitura e escrita, que acaba por legitimar suas dificuldade iniciais. Conclusão: Podemos concluir que a análise do acesso desses sujeitos à cultura escrita nos faz inferir que em decorrência do ambiente familiar de baixo letramento e das práticas de letramento restritas, o processo de apropriação da linguagem escrita ainda não foi finalizado. Desta forma, esse trabalho evidencia que inúmeras variáveis extra-escolares influenciam na construção da relação do sujeito com a linguagem escrita, e que tem implicações para a efetividade da alfabetização e do letramento. |