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Esta tese tem como objetivo principal analisar a versão italiana de Casa Grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal (1933), publicada com o título Padroni e schiavi e traduzida por Alberto Pescetto, em 1965, pela editora Einaudi, com ênfase nos paratextos, mais especificamente capas, notas, prefácios e glossários. A tese está dividida em 2 volumes. O primeiro é composto por 3 capítulos. O primeiro capítulo contextualiza o autor e a obra, enfatizando as etapas e os acontecimentos da vida do autor que estão mais envolvidas com a produção de Casa Grande e Senzala. Para a elaboração desse capítulo, foram usadas algumas biografias, mas principalmente o diário que Gilberto Freyre publicou na década de 70 do século passado. O resultado foi perceber a heterogeneidade dos influxos que permeiam a personalidade de Freyre, que o tornam um intelectual extremamente complexo e, em alguns casos, controverso. A segunda parte do capítulo foca na produção intelectual do autor no Brasil e apresenta também suas traduções no continente americano e europeu, com ênfase na Itália. Das dezenas de obras publicadas por Gilberto Freyre, as traduzidas para o italiano foram realizadas entre a década de 50 e a década de 70 do século XX. A análise paratextual dessas obras permitiu comprovar que o sucesso do autor na Itália está associado ao momento histórico da época, tornando a América Latina uma espécie de laboratório de onde extrair novas ideias e soluções para construir um novo modelo para o pós-guerra. Em consequência disso, no segundo capítulo, apresento para o leitor italiano Casa Grande e Senzala, e, em ordem cronológica, trato das traduções publicadas, respectivamente, na Argentina, Estados Unidos e França. O texto traduzido por Benjamin de Garay representa a primeira tradução de Casa Grande e senzala que foi publicada, com o mesmo título, exatamente em 1942, em um programa do governo argentino que incentivava a aproximação política e cultural dos dois países. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos, onde o brasilianista Samuel Putnam traduz a obra freyriana com o título The Masters and the slaves em 1946. De fato, entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, a literatura estrangeira traduzida foi vista pelo governo dos Estados Unidos como ferramenta para conhecer a cultura do outro e como instrumento para fortalecer alianças políticas. A política de  Boa Vizinhança promovida por Franklin Roosevelt é um exemplo disso: a editora estadunidense Knopf, como outras, recebia ajudas governamentais para traduzir e publicar obras estrangeiras. Por último, a tradução francesa Maitres et esclaves foi publicada pela famosa editora Gallimard e o sociólogo Roger Bastide, amigo e colega de Freyre, é o autor da tradução com a participação dos intelectuais da Escola dos Anais: Luciene Febvre e Fernand Braudel. O primeiro e o segundo capítulos foram particularmente úteis para elaborar o terceiro capítulo da tese, já que esse apresenta o texto meta italiano produzido há 50 anos, em 1965, por Alberto Pescetto, e publicado pela editora Einaudi. Nesse capítulo, analiso aspectos paratextuais, como os morfológicos (representados pela capa, contracapa, páginas de rosto) e os discursos de acompanhamento (notas, prefácios, posfácios e glossários), bem como apresento a descrição das estratégias desenvolvidas pelos tradutores na tradução de termos mais ligados à tradição cultural e à geografia brasileira, como  senzala , que é um dos topônimos mais representativos da identidade cultural brasileira de origem africana presente na obra e ligado à época da escravidão; os outros termos analisados são:  casa grande ,  sobrado ,  mocambo ,  quilombo e  sertão . Além disso, dada a importância da presença de termos de origem africana e indígena na língua portuguesa, dediquei espaço também para uma análise mais lexical e etimológica de termos como  maracatu ,  capoeira ,  cafuné ,  caçula e  macumba . O volume 2 da tese, em CD-ROM, contém não somente tabelas que resumem os dados elaborados ao longo do primeiro volume, mas também documentos recolhidos durante os anos da pesquisa, em diversas instituições brasileiras e internacionais, além das imagens dos paratextos analisados, em particular, capas, prefácios, glossários. Para atingir meu objetivo e embasar teoricamente minha tese, usei contribuições de diversas disciplinas, como a antropologia e a história (Schwarcz, 1996, 2000, 2012; Peixoto, 2000; Marx, 1998), além dos teóricos dos Estudos da Tradução (Lefevere 1984, 1990, 1992; Venuti, 1999; Holmes, 1972; Torop, 2010), e dos estudos paratextuais (Gérard Genette ,1989; Marie-Hélène C. Torres,2011; 2014; José Yuste Frias, 2010). A conclusão evidenciou que Padroni e schiavi representa um texto principalmente informativo, caraterizado por escolhas empíricas, como a inserção de regionalismos e brasileirismos no glossário traduzido; em outros casos, o significado de palavras específicas é ampliado e a mesma palavra é frequentemente traduzida com diferentes sinônimos, como a própria senzala, com perdas semânticas dos termos sociológicos, a partir do título que se refere à uma imagem medieval, devido à falta de referências históricas e culturais sobre a escravidão. Essas são justificáveis como estratégias editoriais miradas à difusão da reflexão teórica mais geral defendida por Gilberto Freyre, em contramão às teorias racistas que se difundiram na Europa na primeira metade do século XX. A atenta análise dos elementos paratextuais nesta tese também proporcionou a descoberta de numerosos elementos de contato entre os diversos textos meta apresentados, assim como de algumas caraterísticas meramente distintivas do contexto histórico e cultural de recepção. De fato, a produção de Padroni e schiavi conta com a contribuição dos intelectuais da Ecole des Annales e, indiretamente, do brasilianista Samuel Putnam, responsável da tradução estadunidense usada como referência para a tradução francesa e, em seguida, a italiana. Em particular, e como proposta de pesquisa futura, a análise paratextual da tradução italiana mostrou que uma retradução de Casa Grande e senzala na Itália, levando em conta a  transdisciplinariedade dos Estudos da Tradução, enriquecerá o sistema cultural italiano.<br> |
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