Abstract:
|
Este trabalho elabora uma leitura que destaca uma emergência trágica nos textos poéticos de João da Cruz e Sousa (1861?1898). Na linhagem de Nestor Vítor, a crítica do poeta utiliza reiteradamente o significante "tragédia" - na acepção do senso comum -, normalmente adjetivando sua vida. Deixando ressoar esse vocábulo e apoiando-se nas imagens que os poemas evocam, esta pesquisa opera um deslocamento de sentido no significante "trágico" e o utiliza enquanto gênero que adjetiva, não mais a vida, mas os textos de Cruz e Sousa. Para tanto, optou-se por realizar uma comparação capaz de colocar em confronto temporalidades distintas; um contraponto com as estéticas surrealista, romântica e barroca. Foram percebidos contatos relevantes com os textos cruzesousianos tanto na imagem do Ângelus, de Millet, e na leitura surrealista que Salvador Dalí fez da obra, quanto no uso reiterado do mito cristão e sua aparição em outras modalidades artísticas ? como na ópera de Parsifal, ou ainda, no drama trágico alemão e no estudo que fez dele Walter Benjamin. A afinidade reside na tônica dada ao sacrifício, à morte, ao rito religioso. E, a partir daí, se desenha uma hipótese de leitura que faz dessa emergência trágica um modo de conceber a história. Precisamente essa forma de pensar é que caracteriza o decadentismo do fim do século XIX como um momento no qual se privilegiou a reencenação do rito, adotando uma postura crítica ao mito. |