Abstract:
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Um dos primeiros atos dos portugueses que chegaram ao Brasil em 1500 foi abater uma árvore para montar a cruz da primeira missa. Nesse gesto, fez-se a primeira vítima da ocupação européia da Mata Atlântica, que cobria boa parte do território brasileiro. Nos cinco séculos que se seguiram, cada novo ciclo econômico de desenvolvimento do país significou mais destruição na floresta de um milhão de quilômetros quadrados, hoje reduzida a vestígios (DEAN, 1997). A relação da humanidade com os recursos naturais é dinâmica e está em constante transformação. Desde a Revolução Industrial do século XVIII, a degradação da biosfera vem se intensificando e causando diversos problemas ambientais, tais como a poluição dos recursos hídricos, do solo e do ar, as mudanças climáticas e a extinção de espécies (SMITH, 2010). A mata Atlântida ocupava originalmente 1,3 milhão de km², segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e atualmente restam apenas 7% de sua extensão. Ainda hoje, a Mata Atlântica é a principal fornecedora de recursos naturais para as grandes cidades brasileiras, já que cerca de 61% de nossa população vive em áreas urbanizadas, que anteriormente eram de Mata Atlântica natural. Nessa Mata Atlântica estão localizados os principais mananciais de água que abastecem essas cidades, formando uma rede de bacias hidrográficas formadas por grandes rios como o Paraná, o Tietê, o São Francisco, o Doce, o Paraíba do Sul, o Paranapanema e o Ribeira de Iguape (SOS Mata Atlântica, 2010) Logo, o bioma da Mata Atlântica tem grande relevância social, sendo a preservação destes remanescentes obrigatória para a manutenção dos seus serviços ambientais. Além disso, este bioma é apontado pela Conservation International como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no mundo, devido ao alto grau de endemismo e às ameaças extremas (SMITH, 2010). Junto com a percepção da degradação dos recursos naturais, que ganhou em pouco tempo visibilidade e debates disputados por diversos interesses, vieram estratégias que visam acima da resolução da crise ambiental a busca da realização de seus próprios objetivos, ainda que conflitantes com o objetivo maior da preservação e da busca pela sustentabilidade (GAVARD, 2009). Para amenizar os problemas da degradação ambiental e do stress gerado em grandes centros urbanos os parques e reservas florestais foram criados. O contato com a natureza atrelado ao lazer proporciona momentos de recuperação, descanso e entretenimento para os cidadãos. Em Florianópolis, pode-se destacar o Parque Municipal da Lagoinha do Leste, criado em 1992, que é considerado uma dos ambientes mais belos e preservados. A participação das populações locais nos processos de criação, implantação e gestão das unidades de conservação está nas diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), sendo determinante para o sucesso de tais iniciativas. Pesquisas elaboradas por Elinor Ostrom sobre de gestão de bens comuns, como recursos naturais, apontam como que bens de fácil exclusão e alta rivalidade são tipicamente objeto de propriedade privada, enquanto bens de difícil exclusão e baixa rivalidade são tipicamente públicos. É sobre estes últimos, tradicionalmente negligenciados ou abordados com superficialidade pela teoria econômica que Ostrom concentra seus esforços. A pesquisadora também afirma que as estratégias de gestão dos bens comuns como recursos naturais podem ser executadas com êxito pelo grupo de pessoas que vão se utilizar desses bens(recursos hídricos, florestas, ar, biodiversidade, atmosfera, campos, etc), numa clara relação com a sustentabilidade ambiental (ECOECO, 2009). O processo de governança é a construção destas estratégias em cooperação com a comunidade local, permitindo o seu empoderamento para as tomadas de decisões. O Núcleo de Educação Ambiental do Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina (NEAmb), vem realizando pesquisa e extensão, através de projetos de extensão no Parque Municipal da Lagoinha do Leste, desde 2010, buscando contribuir com o planejamento e a gestão dos recursos naturais do Parque. É neste contexto que foi elaborado este trabalho de conclusão de curso, sobre a elaboração de uma proposta de reconhecimento de território, através da tecnologia Social de Mapas de demanda e potencial, criado no Programa de Tecnologias Sociais para a Gestão da Água (TSGA) do Grupo Transdisciplinar de Pesquisas em Governança da Água e do Território (GTHidro).Essa etapa de reconhecimento de território faz parte do ciclo Comunidade de Aprendizagem do Modelo GATS do Projeto de extensão “Uma Perspectiva Sustentável para o Parque Municipal da Lagoinha do Leste, em Florianópolis”. Desta forma, espera-se elaborar uma proposta de reconhecimento de território através de Mapas de demanda e potencia para o Parque Municipal da Lagoinha do Leste. |