Abstract:
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O fenômeno da violência contra a mulher tem sido cada vez mais visado socialmente e as políticas públicas têm criado medidas e ações que favoreçam o enfrentamento do problema, dentre elas a criação de casas-abrigo para mulheres que se encontram em risco de morte. Sustentado por diferentes elementos que interagem entre si, as mulheres que se encontram nessa situação ainda possuem dificuldades de acessar pessoas e instituições que possam atuar como fontes de ajuda e apoio para enfrentar o problema. Assim, o objetivo da presente pesquisa foi compreender a dinâmica relacional familiar e das redes pessoais significativas de mulheres que sofreram violência familiar e viveram em casa-abrigo. O posicionamento epistemológico deste estudo foi ancorado no pensamento complexo que permitiu olhar para o fenômeno da violência em contexto. Associado ao pensamento complexo, utilizou-se a base teórica do modelo bioecológico do desenvolvimento humano, que considera os níveis de integração presentes nas relações entre a pessoa e o ambiente ao longo do tempo. Estudo qualitativo, do qual participaram 12 mulheres que vivenciaram situações de violência familiar e viveram em uma casa-abrigo. Os instrumentos para a coleta de dados foram a entrevista semiestruturada e o Mapa de Redes. A análise de dados foi realizada por meio da teoria Teoria Fundamentada Empiricamente em conjunto com os recursos do software Atlas/ti 5.0, que possibilitou a organização e integração dos dados em seis categorias. Os resultados evidenciaram que o significado atribuído à violência esteve pautado principalmente na violência psicológica. Dentre os tipos de violência, foram identificadas a violência física e psicológica, sobretudo a ameaça de morte, além do reconhecimento da violência sexual e financeira. A ansiedade e os estados depressivos foram os principais sintomas de sofrimento psíquico. A vergonha, o medo e a humilhação estiveram entre os sentimentos destacados pelas mulheres em relação à situação de violência que vivenciaram. O enfrentamento da violência esteve focado tanto no problema quanto nas emoções, destacando o trabalho, as atividades intelectuais, a busca por amigos e a casa-abrigo. A casa-abrigo proporcionou suporte e proteção às mulheres, além de momentos de reflexão que as ajudaram no enfrentamento do problema. Os profissionais do local estiveram presentes nos Mapas de Redes de todas as participantes, sendo apontado como pessoas importantes, que ofereceram ajuda e apoio diante da situação. As redes pessoais significativas se mostraram pequenas e fragilizadas antes das mulheres irem para a casa-abrigo. Em contrapartida, após a saída do local, observou-se aumento do número de pessoas das redes, sobretudo de familiares, além do aumento do vínculo relacional e grau de intimidade entre as mulheres e as pessoas de sua rede significativa.Verificou-se que havia um distanciamento das participantes em relação às suas redes, ao passo que quando solicitadas desempenham um papel decisivo tanto para o acolhimento da mulher, quanto para a visibilização do fenômeno da violência, com o incentivo à denúncia. Estas redes geram possibilidades efetivas de interromper e/ou terminar com o problema, proporcionando melhores condições em termos de qualidade de vida às mulheres e configurando-se como importante estratégia para o enfrentamento da violência. Destaca-se a importância da sensibilização e preparação dos profissionais da casa-abrigo em torno da temática e a necessidade de conhecerem as pessoas da rede significativa das participantes e as funções que essas pessoas desempenham, para que possam intervir de maneira a mobilizar e encontrar co-responsáveis pelo cuidado dessas mulheres no enfrentamento do problema da violência.<br>
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