Abstract:
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Entre a notícia sobre a prisão de dois homens por estarem cometendo o crime de se beijarem dentro de um carro na cidade de Florianópolis, ano de 1986, e o anúncio de que a mesma cidade seria a capital gay do Brasil, em 2006, inúmeros foram os discursos publicados pelo maior jornal impresso do Estado de Santa Catarina acerca daquilo que chamo de sexualidades desviantes. A proposta do presente trabalho é não descrever e analisar todas as notícias encontradas a respeito de tais sujeitos e suas práticas, mas demonstrar os trânsitos discursivos encontrados em tais páginas jornalísticas e os efeitos de verdade produzidos e divulgados pelas notícias e reportagens que circularam pela sociedade catarinense sobre tais práticas e sujeitos, apontando o gradual deslizar semântico - marcado por rupturas e permanências - que culminou em e ao mesmo tempo permitiu tal anúncio. Assim, busquei acompanhar as transformações na construção de tais notícias, das iniciais associações entre desvio, doença e criminalidade, passando pelo medo e a vergonha do assumir-se desviante em uma pequena cidade, até as contestações e a emergência de resistências locais a violências e arbitrariedades, em prol dos direitos de ir e vir, trabalhar, aparecer em espaço público e, finalmente, ir à rua para anunciar que não se era "nem mais, nem menos, apenas iguais". Assim, a proposta é de uma História que é, simultaneamente, escrita a partir de uma fonte - o jornal Diário Catarinense - e sobre as transformações pelas quais passou esta fonte ao longo de 20 anos, tematicamente construída a partir dos inúmeros efeitos de verdade e distintas formas de visibilidade desviantes elaboradas e postas em circulação.<br>
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